Sunday, December 27, 2009

Cinco da manhã;

são cinco da manhã
e eu estou sozinho
imaginando quando é
que serão cinco da manhã
com nós dois juntos.

Da distância entre nós e a falta que faz o teu sorriso.

você está longe de mim
e isso não parece certo.

você se foi há dias e eu não sei por que diabos
minha cabeça não aceita a tua partida.

o fato é que o teu calor ao meu lado na cama
faz falta como raios de sol numa manhã na praia
ou a lua quando se tem uma fogueira e amigos.

você está longe de mim
como eu nunca gostaria que estivesse,
mas é assim que a vida quer que seja
e não há formar de mudar.

eu encontro o teu cheiro de vez em quando
e ele me diz que você deveria voltar logo
para que eu não esqueça dele.

eu ouço nas músicas do rádio
que você deveria voltar
porque eu não mereço um castigo tão grande
então eu concordo e sigo o meu caminho.

falta tempo ainda
e ele parece não passar.

eu sinto a tua falta, meu bem,
de formas que não dá pra falar.

Massagem cardíaca, adrenalina, desfibrilador.

dessa vez
acho que a poesia morreu
e pode ter sido
nas minhas mãos.

Rima

sinto muito se eu perdi a rima,
é que a canção ficou pra trás
e hoje eu só tenho em meu peito
a vontade de falar tudo o que vejo.

Friday, December 25, 2009

"O amor que eu te tenho..."

o amor que te tenho
deveria ser tão belo
quanto os teus olhos
e tão saboroso quanto teus lábios e tua língua.

o amor que eu te tenho
deveria ser quente e aconchegante
como um abraço teu numa noite fria e chuvosa.

o amor que eu te tenho
deveria ser chamado pelo teu nome,
porque assim me facilitaria muito as coisas.

Thursday, December 24, 2009

Minha neta, minha criança.

tenho que pedir desculpas, criança
por não mais poder cantar
enquanto pensei que seria sempre capaz
de cantar um breve lalalaiá.

Três e a vida.

saí de casa cedo e encontrei seu sorriso me iluminando o dia
antes mesmo de o sol fazê-lo,
e suas mãos apertando minha pele,
os braços ao meu redor,
seu calor vindo em minha direção.

mas logo tive que ir embora e não soube mais o que esperar.

no almoço eu ouço o teu riso
e até brinco contigo.
tiro um descanso breve e vou embora
sem te ver, para um fim de tarde de trabalho árduo.

quando volto ao lar,
por volta das nove,
não te encontro em teu sono tranquilo,
nem te vejo na sala assistindo à televisão.

imagino onde é que tu estarias
e procuro em todo canto,
todo lugar e nada.

alguma hora resolvo abrir o porta malas
pra tirar uma lanterna e te procurar pelo bairro, por perto.

e te encontro:
um braço, uma perna, meio tronco, cabeça.

as lágrimas jorram do meu rosto
e acho que elas nunca terão fim,
escorrem pela alma como se eu fosse secar
acabam comigo
como se eu fosse um homem,
como se eu pudesse morrer.

então eu percebo que
se é assim que as coisas são
e continuarão desse jeito,
nada mais faz sentido.

nem vida, nem morte,
nem dia e nem noite,
nem prosa e nem verso.

Wednesday, December 16, 2009

Uma noite, um vinho, eu e você.

você está do outro lado da mesa
e eu te vejo como se fosse a primeira vez que eu botava meus olhos
em algo bonito.

tua mão segura uma taça de vinho meio cheia,
muito vazia,
e você leva o cristal aos lábios e o toca,
sorve o líquido que te embriaga.

você me nota e, então, sorri
como se não fosse importante o fato
de ambos estarmos ali.

continuo a te observar
como se faz com os animais na selva,
tua quase negligência para com os assuntos do mundo,
teu quase desprezo às pessoas,
teu olha de desinteresse por todos e tudo
me intrigam e me fazem pensar
que talvez você seja a criatura mais fantástica que eu já vi.

você se levanta bruscamente e sai, some.
eu fico com medo de nunca mais te encontrar,
mas logo me acalmo porque sinto tua mão leve no meu ombro
e tua voz clara me dizendo algo baixinho no ouvido.

e lembrarei das palavras por toda a eternidade.

levanto-me, seguro tua mão e sinto o calor que vai me servir de proteção
contra o frio por muito tempo.

Monday, December 14, 2009

E eu sorrio.

és bendita pelo sangue que corre
nas tuas veias e artérias,
na tua língua e no teu sexo,
na tua cabeça e em tuas pernas.

Thursday, December 10, 2009

In Vino Veritas.

a jarra de vinho fica cada vez mais vazia,
enquanto a cabeça fica cheia de pensamentos.
em cada um deles eu vejo você.

Sunday, December 06, 2009

Ode.

eu exalto teus olhos,
tua boca, dentes, língua,
teu nariz e teu odor.

eu canto os fluidos no teu corpo,
a pele alva e o fluxo sangüíneo sob ela,
os poucos pêlos que te revestem.

eu santifico o teu toque,
cada passo do teu caminhar
e o calor do teu corpo inteiro.

enalteço tuas formas,
os teus jeitos
e os defeitos.

e quando não tenho mais o que fazer...
me ajoelho ante teu corpo
e digo que sou teu.

Saturday, December 05, 2009

"então você acha que pode me amar e me deixar pra morrer?"

mas não é assim que procedem as coisas,
você instigou uma guerra, meu bem,
e agora ponha as mãos nas armas
e lute.

Obrigado.

eu te deixo na porta da tua casa,
te beijo, te vejo sair pra longe de mim,
a tranca se fecha, eu não ouço mais nada,
e meu peito parece que vai explodir.

eu vejo teu riso e isso me acalma,
me faz pensar que talvez valha a pena
continuar com tudo o que há por aqui,
a salvação não é celeste, é terrena.

eu ouço tua voz me chamando no escuro
do quarto, onde eu vivia a não vida
e imaginava o que-poderá-ser de tudo.

devo dizer, então, meu bem, que acordar ao teu lado,
por menor tempo que no Sonhar eu tenha ficado
é a maior dádiva que eu poderia ter.

Monday, November 30, 2009

O Inferno de Corais.

entre os muros que oprimem e fecham
e sufocam, fazendo quase inexistir a vida,
tornando-a um inferno na terra,
há as poucas plantas que nos dão oxigênio,
que nos fazem respirar.

entre braços que te arranham e tentam te esmagar
há aqueles raros que estão prontos para um afago
sem nenhuma pedra em mãos,
sem nenhuma saliva preparada para atingir teu rosto.

entre todas as pessoas de um mundo que não presta
esses poucos seres fazem tudo ser suportável
e até nos fazem sentir bem.

há mais de cem de todos,
prontos para crescerem e se tornarem bons,
e há os poucos que já são.

Wednesday, November 25, 2009

Vinte e um.

eu tinha vinte e um,
como o jogo de cartas,
quando eu conheci o seu sorriso
e ela era linda e doce como mel feito de abelhas
e seus olhos brilhavam como o mar quando o sol bate
numa manhã de domingo ensolarado.

eu tinha vinte e um,
como a brincadeira com bola de basquete,
quando ela segurou minha mão
e me disse que não soltaria
enquanto eu não fossemos infelizes.

eu tinha vinte e um,
como o sinatra teve vinte e um,
e foi um ano bom para mim, como ele canta que foi para ele.

eu tinha vinte e um
porque foi o que veio depois dos vinte
e não havia muito o que se fazer quanto a isso,
apenas viver.

e eu vivi.

Tuesday, November 24, 2009

E ri da sua cara como se fosse louco.

"mulher,
eu acho que eu te amo."
ele disse do fundo do coração.
"menino" ela disse
sem dó ou piedade
"você não sabe o que é que fala."

Monday, November 23, 2009

Logo quando.

quando achei que não houvesse mais alguém que me faria achar bom
ser todas as coisas que eu sou
(ou talvez nem seja, quem sabe)
ela sorriu para mim e eu a vi.

quando achei que não houvesse alguém
que me fizesse sentir, de alguma forma, bem
em ser tudo o que sou
(ou quase tudo)
faço as coisas que a afastam de mim,
quando tudo o que quero é trazê-la cada vez mais perto
praqui, que é onde estou,
ou simplesmente ir para lá,
que é onde ela está.

todas essas coisas que são um pouco impossíveis às vezes
devido ao espaço que existe entre nossos corpos
e que eu gostaria que inexistisse,
especialmente entre nossas almas.

Ele e ela.

ele dizia a ela que a amava amava amava
mais do que o sol queimava,
mais do que a lua era fria,
ele dizia que a amava como se fosse uma poesia.

e ela dizia que não acreditava que houvesse nele
amor tão grande assim
dizia que não havia provas que tipo daquele
soubesse o que é amar, enfim.

Mata-me.

parece que eu só te dou motivos
para colocar tuas mãos no meu pescoço
e apertar bem forte
até sufocar.

parece que, cada vez mais,
eu sou um estúpido estúpido estúpido
que te machuca e remachuca
sem pensar.

parece que cada vez mais
eu sinto cada vez mais
medo de te perder.

parece que cada vez mais
eu gosto cada vez mais
de você.

Saturday, November 21, 2009

A construção.

tempo passou, meus amigos,
e carregou consigo tantas coisas que só ele é capaz.
o tempo passou entre nós, para nós,
enquanto todos nós construíamos algo.

hoje o que construímos está erguido,
está sob bases fortes e firmes,
é nisso que acredito,
e a distância não age em seus alicerces,
o próprio tempo não o faz.

usamos o tempo com calma
para aprender a construir algo
que ele próprio não pode levar facilmente.

o tempo passou, meus amigos,
e vai continuar a passar por séculos e séculos,
mas sem levar o que nós temos aqui.
porque é nosso e não dele.

Wednesday, November 18, 2009

Anatomia.

a tua boca
tinha o gosto dos sonhos
e teu calor
era o lençol sob o qual eu me aquecia.

eu lembro bem da tua anatomia,
teus seios e tuas nádegas,
teus músculos fracos
e teus tendões pouco flexíveis.

mas eu gostava mesmo
era da tua mão
se entrelaçando com a minha,
dizendo que era assim que deviam estar.

e é assim que elas ficarão
logo logo.

As estrelas.

o bordel da lua
tem estrelas
que só poderiam estar
brilhando nuas no firmamento.

Nada sobrou.

a tarde caiu
do viaduto
e o dia inteiro
morreu com ela.

Monday, November 16, 2009

Parabéns, c.

a dor é universal,
comum a todo ser humano,
a todo ser vivo.

a dor de um coração quebrado,
um cotovelo machucado,
um estômago queimado,
é o combustível de anos e anos.

fez ano essa celebração masoquista
esse antro de loucos,
comemora-se, então,
e espera-se que haja mais.

mas que o que vier, seja do que já foi
e que o que virá
só traga alívio.

Friday, November 13, 2009

Oy, got.

chega a noite
e eu entro nela
como ela entra em mim.

e eu sinto sempre
a solidão,
o aperto
e a vontade
de dizer qualquer coisa pra você,
qualquer palavra
que te faça sorrir
para, assim,
eu me sentir bem.

Thursday, November 12, 2009

"quero voar, quero viajar com tu"

eu não acredito que esse seja o seu melhor.
então, meu bem, me dê teu corpo e tua alma,
me dê teu amor e tua calma,
me dê a última gota da tua saliva.

e eu funcionarei melhor.

Sob a capa de chuva.

e eu venho
só pra falar com você,
mesmo sabendo que talvez
você nem queira falar comigo.

mas eu venho
porque é o que sinto que tenho que fazer
para me sentir melhor,
para dormir bem,
para que meus sonhos não sejam coisas
das quais eu tenha que me arrepender depois.

Susto na madrugada.

eu sinto o teu corpo
quente
ao lado do meu
todas as noites
quando eu quero.

eu fecho os olhos
e penso em como sou um cara de sorte
por simplesmente estar com alguém
como você.

eu me pego pensando
em todas essas coisas
quando você não está comigo,
meu bem,
e eu não sei bem o motivo de tudo isso.

e isso me assusta
pra caralho.

Tuesday, November 10, 2009

Novo começo.

lembro do teu olhar,
aquele que deste
quando percebeste
que estava demasiada perdida
dentro de si,
admirando a mim.

lembro do teu olhar
e o desespero que sentiste
ao perceber que
agora
a tua vida
estava ligada à minha.

e eu sorri
dizendo que estava tudo bem
e que isso não era a morte,
meu bem,
era apenas o novo começo
que você se prometeu
há muito tempo.

Sunday, November 08, 2009

Estrada.

o céu cinzento se junta ao asfalto
e é lá em cima que a estrada vai dar.

engraçado.
sempre pensei que fosse uma escadaria que me levaria até lá
e que a estrada
só me guiaria ao inferno.

acho que as coisas não são bem como nos dizem sempre.

Saturday, November 07, 2009

Os segredos.

você me pergunta
pelo céu, a terra e as estrelas
e seus segredos todos.

eu sorrio e digo que todas as noites
eles sussurram nos nossos ouvidos
tudo o que precisamos saber
e que cabe a nós percebermos isso.

num outro dia você me beija apaixonadamente do nada,
sorri e me agradece.
eu não sei o porquê de você ter feito isso,
então te pergunto e você me diz
que na noite passada,
pouco antes de dormir,
você escutou os segredos
do céu, da terra e das estrelas.

Friday, November 06, 2009

O passeio.

minhas mãos passeiam por teu corpo
e você me fala as línguas que poucos conhecem.

minha língua passeia pelo teu corpo
e você me guia com a mão.

nós passeamos um no outro
até que os caminhos se desgastem,
até que o tempo torne tudo familiar
e ainda além.

Do sonho que eu não tive e a vontade que saiu do Sonhar.

você me vem e diz
ao meu ouvido
coisas que eu pensei
que talvez nunca mais fosse ouvir.

então eu acordo
e penso que quero te dizer coisas
que pensei nunca mais ter vontade de dizer.

Wednesday, November 04, 2009

Acordar.

o perigo não está
no nosso último pensamento,
mas no primeiro.

"a semana se arrasta bem mais lenta que um jumento."

e há semanas e há semanas
e em todas elas há dias demais,
dias demais para qualquer um sentir,
dias demais para me sentir como sinto.

Tuesday, November 03, 2009

Mama

ela me disse
depois que passei séculos
na escuridão
"me dá a mão.
vamos sair pra ver o sol."

e eu senti o calor
do sol e do seu amor.

Dos três tempos e a grande lição.

é como se tudo quisesse mostrar pra mim
que nada é do jeito que se planeja.

é como se o mundo quisesse me dizer:
vai, filho, vai se sustentar no imaterial de novo.

o intangível não é confiável,
o amanhã é apenas um sonho bom
o passado nos traz pesadelos
e o presente é inexistente.

A nova música.

agoniza, meu amor, agoniza.
agoniza, meu amor,
sai da minha vida.

Agonia.

sento no escuro
com meu copo e minha garrafa
e espero...
espero até não agüentar mais.

é como se eu sentisse tudo o que já senti
e não tivesse mais nada pela frente
além da vida inteira que eu não quero viver.

Entende?

e eu, meu bem,
se nem meu violão pra saber de mim...

quem é que vai?

Monday, November 02, 2009

A Risada.

é, amigo,
às vezes a vida parece só rir.

cabe a nós descobrirmos
se é da gente
ou com a gente.

E o tolo sou eu.

são três da manhã
e não há comida para nós dois:
você dorme o sono dos tolos
e eu penso em toda a existência.

Sete palmos.

e quando eu te vi pela última vez,
meu bem, eu quase chorei.

nas minhas mãos o vermelho do teu sangue
e em minha boca o teu último suspiro.

As mentiras que nos contam.

eu viro na cama e sinto o teu cheiro
no meu velho travesseiro
e isso me lembra da velha história
que diz que sonhos não têm cheiro.

Versinhos sem porquê.

é noite e chove
onde sempre houve sol e conforto.
é frio e escuro
onde sempre houve luz e calor.

é o ranço da vida
e o amargo das horas
que chegam ao fim
arrastando os últimos segundos.

Friday, October 30, 2009

Quando ela foi embora, carregava em sua mala quase nada, só um coração.

"não levou um tostão, porque não tinha, não,
mas causou perdas e danos."

Saturday, October 24, 2009

Luz.

se houver uma luz
no final,
talvez o mais sábio seja fugir dela
e continuar na escuridão.

há quem não agüente a luz,
há quem não queira o conhecimento,
há quem não saiba lidar com ele.

se houver uma luz
no final,
não fugirei.

mas não creio que haja.

Nós dois.

diga-me que tem o mundo nas mãos
e eu te mostro que não
você não me tem.

diga-me que me tem nas mãos
e em minhas mãos eu mostro
você.

diga-me uma de suas mentiras
e eu te cuspo uma das minhas verdades.

e é assim que funciona com a gente, meu bem.

E eu vejo em você.

você me diz que
talvez, somente talvez,
eu não esteja tão bem no teu quadro,
mas eu sei,
eu sei muito bem,
que você me quer
mais do que queria querer.

Wednesday, October 21, 2009

Insomne.

me faz cuspir,
me faz chorar,
me faz sentir
as dores do mundo.

Tuesday, October 20, 2009

Em qualquer mês do ano.

a saudade adoece,
mata e estripa
a gente, sim.

Monday, October 19, 2009

Despedida.

você me diz um
"foi bom, mas acabou"
e eu te pergunto se realmente é isso
porque você sabe
- e eu vejo isso no fundo dos teus olhos -
que você quer mais
e mais.

mas, se é isso que você me diz
e, meu bem, eu já te disse,
palavras são tudo o que temos uns dos outros,
eu acredito em você
e aceito a tua palavra.

você me diz um
"tudo tem um fim."
e sabemos que o nosso não é agora
mas já que você quer dizer que ele é
não há muito o que se fazer,
só aceitar e seguir.

eu digo um
"tudo bem, então."
e penso que talvez precisemos de uma despedida
e você pensa que talvez precisemos de uma despedida
então, nos despedimos
e sonhamos sós.

A voz no ouvido.

a voz no ouvido
me disse que jamais estaríamos separados.

ela mentiu.

a voz no ouvido
me disse que tudo o que queria era nós dois juntos,
para sempre e sempre e sempre.

ela mentiu.

mas ela não mentiu só
foi preciso você para que a voz saísse
da tua boca
e chegasse aos meus ouvidos.

e ainda lembro do nosso calor naquela cama de solteiro,
na tua cama de casal.

ainda lembro da tua mão passeando sobre meu corpo e a minha
pelo teu
e lembro da tua língua,
da tua boca.

e da voz no ouvido
dizendo todas as mentiras que disse.

Sunday, October 18, 2009

Feliz dia teu e meu.

dia de ser
tudo aquilo que sonhei ser,
fazer o que sempre se quis.

dia de perceber
que sonhos podem não ficar só no Sonhar
e que a realidade pode ser
o melhor lugar que há.

dia de, talvez,
perceber que nem sempre tudo é como se pensa que seria
e que, na verdade, nada é tão fácil.

dia de seguir.

Friday, October 16, 2009

é sempre igual.

mais um começo
de um começo
de um fim.

àquela que sumiu.

meu amor,
pra você
fiz mais um
verso clichê.

De como eu sou apaixonado e idiota.

eu gosto do que quer que você cozinhe
de qualquer drink que você faça
de qualquer merda que você diga.

e eu gosto de tudo isso
porque estou apaixonado
e se não fosse isso,
eu não comeria tua comida queimada
e nem beberia tua caipirinha azeda
e nem admiraria sua eloqüência ao falar
da novela das oito.

eu gosto de você,
e me admiro por isso.

Trezentos e um.

ontem jantamos no inferno,
mas a comida não foi tão boa quanto a tua.

Órgãos.

um dia ele levantou da cama
e pensou
que tudo o que ele precisava para viver
ele já tinha desde que nascera:
dois pulmões funcionais, com pleuras deslizando perfeitamente,
um coração com quatro cavidades bem separadas
e com válvulas que se fecham e abrem nas horas precisas

mas tinha um cérebro que o fazia pensar
que tudo o que tem não é nada
perto do que poderia ter:
ela:
um par de seios que o faziam ter saudades dos tempos da amamentação,
uma cintura que o deixava com uma imensa vontade de
simplesmente segurá-la por ela e nunca deixá-la ir
muito longe dele,
um quadril largo que o fazia inconscientemente pensar
em como ela seria uma boa parideira
e uma bunda linda,
linda como ele nunca antes pensava ter visto...

Tudo o que preciso.

eu sinto crescendo dentro de mim,
correndo nas minhas veias, artérias,
sendo bombeado pelo coração.

eu sinto que invade cada pensamento e sentimento,
e que é substituído pelo oxigênio das minhas hemoglobinas.

eu sei, eu sei porque sinto, que cada célula do meu corpo grita
pede, esperneia, se contorce,
ri, chora e se desespera de desejo
de vontade, de ânsia.

eu sei do que eu preciso,
cada parte de mim sabe.

Por você nº y

você sabe, meu bem,
que por você
eu releria ulisses
e faria um resumo página a página
explicando todos os porquês.

por você, querida,
eu faria uma versão resumida
sem perder nenhuma explicação necessária
da medicina interna do harrison
e transformaria a eternidade que é lê-lo
num tempo de alegria e diversão.

por você, meu amor,
eu sublinharia cada verso de amor que já li
e pensaria em você e em como dizer isso é um clichê.

por você me faltam vocativos
me faltam comparações
me faltam metáforas arrasadoras
capazes de explodirem cabeças e corações.

por você tudo,
e nada.

Thursday, October 15, 2009

"a hemorragia incurável, incolor."

o sangue que jorra dos meus cortes
toca a língua que já provou dos meus beijos
e hoje sente o gosto de ferro.

a saliva corre pelo esôfago
depois de sentir teu sabor
não é preciso mais nada.

as lágrimas que caem do meu rosto
regam o solo onde nascerá uma flor.

Tuesday, October 13, 2009

Minha aula.

eu te ensino tudo sobre amor,
meu bem, sobre amar.

eu te ensino todas as coisas que você não sabe
e muito mais.

eu posso falar por horas e horas contigo
sobre como é amar,
como se sente, como o céu parece
quando se ama.

eu posso te ensinar todas essas besteirinhas,
mas não posso te ensinar a sentir.

Calada!

quero que você se cale
e nesse silêncio
sinta meu gosto
na tua boca.

Monday, October 12, 2009

Língua de cobra.

teus olhos dizem as verdades
que teus lábios se negam falar.

porque deles, meu bem,
só espero ouvir falsidade

e, ao sentir o gosto da tua língua quente,
penso em jamais te amar.

"vem me trazer calor, fervor, fervura."

vem com teu vestido colorido
vem com tua vontade de gritar
vem com o rosto iluminado por teu sorriso
e com a vontade de nunca me largar.

Monday, October 05, 2009

Mantem-me sobre os pés.

teu calor, teu sabor, tua saliva,
combustíveis para a minha vida.

Cena.

quero que você me beije
debaixo da chuva
enquanto eu,
de cabeça para baixo,
me penduro de alguma forma na escada de incêndio.

e algum dos nossos amigos está tirando a nossa foto,
se protegendo debaixo de um toldo para não se molhar.

Um medo.

lembro das promessas mal cumpridas de janeiro
e de quando ele me dizia que eu teria você
em meus braços, na minha cama,
eu e você juntos.

eu lembro das mentiras de janeiro
com um pouco de saudade,
um pouco de rancor...

lembro delas e sinto falta de sentimentos que
temo nunca mais voltarem...

"infinito enquanto dure."

mesmo que esqueçamos tudo o que passou:
as manhãs confortáveis e as desconfortáveis,
as noites frias abraçados debaixo do cobertor
e as tardes onde tudo o que podiamos fazer era rir...

mesmo que esqueçamos o que foi para nós
aquilo que chamamos de amor...
será eterno em seu tempo,
para sempre.

não vai mudar...
mesmo que desejemos.

Pão, comida, o amor, a vida.

eu ainda quero ser o teu pão de cada dia
e aquele que te mata a sede.

quero que você me sinta
a cada minuto
e que me deseje a cada segundo.

Sunday, October 04, 2009

Águas inflamáveis.

o sofá em que nos sentávamos
para assistir a todos os programas
e passarmos todas as noites
de sexta e sábado
juntos como gostávamos
não é mais o mesmo.

a cama que deitávamos
para cansar e descansar juntos
conversar sobre nossas coisas
e rir das nossas piadas
e cada um ser o cobertor um do outro
não é mais a mesma.

os tempos mudaram, meu bem,
o tempo mudou tudo:
a cama, o sofá, a tv,
até mesmo a casa não é mais a mesma.

o tempo veio e transformou coisas que pensávamos serem eternas
intocáveis, imutáveis;
veio e nos mostrou que estávamos errados
e que não sabemos mais que ele e que não escapamos de nada.

o tempo veio e levou o teu amor embora
deixando o meu por um tempo,
levando-o embora depois
e nunca mais trazendo sentimentos por aqui...

a televisão foi desligada naquela mesma noite,
antes de irmos dormir.
os programas não existem mais
e nossas risadas estão numa madrugada de domingo qualquer.

os lençóis que molhamos com nossos fluidos
foram lavados com água e sabão
no dia seguinte...

Saturday, October 03, 2009

O teu cheiro.

quando eu sinto o teu cheiro,
mulher,
é como se eu sentisse tua alma
entrando na minha
e fazendo uma bagunça aqui dentro.

quando eu sinto o teu cheiro,
mulher,
eu sinto aqui dentro é uma alegria.

A cama.

a minha cama
nunca foi tão vazia
e eu nunca senti tanta falta
de um lugar mais apertado.

o teu corpo não pesa mais sobre mim
e, eu nunca pensei que fosse dizer isso,
mas, não dormir ao teu lado
me faz uma incrível falta.

Canção.

de todas as melodias
e sons e canções
a que eu prefiro
é tua voz.

Cor 13; 11

você me faz sentir
um menino de novo.

agindo como menino,
pensando como menino,
sentindo como um menino.

você me faz sentir
como um homem que voltou a ser menino
e ganhou um novo presente no natal,
no aniversário,
no dia das crianças
e está ansioso para abrir a embalagem bonita
que não o deixa saber
a princípio qual o presente.

você é meu brinquedo novo,
meu melhor presente.

O seu calor.

o calor do corpo dela
me aquecia como o sol
numa manhã de quinta feira:
confortável, amenizante,
me dizendo bom dia sem queimar e sem arder,
como um beijo na testa.

o calor do corpo dela
perto do meu
era tudo o que eu precisava
para fazer meu coração trabalhar.

Wednesday, September 30, 2009

Tentar e chorar.

foi tudo um sonho,
meu bem,
um sonho ruim
numa noite solitária.
às vezes, no entanto,
eu não queria ter acordado dele.

O teu amor...

me atravessa o peito
como uma faca
cortando pele
músculo e nervo.

atravessa o peito
feito eletricidade
e quase me queima
como fogo.

Na mesa.

na minha mesa
tem escrito o teu nome
de várias formas
a lápis, caneta, faca.

na minha mesa
tem escrito o teu nome
com tinta e sangue,
com carinho.

Sunday, September 27, 2009

Isso Sim é estranho.

às vezes eu a queria comigo
só para que ela me chamasse de bobo
por conhecer agora
algo que ela já amava.

às vezes queria-a comigo
só para que ela me falasse algo
com paciência na voz
e me tratasse como uma criança
que precisa de colo, de ajuda,
porque eu preciso
e ela sabia disso, ela sempre soube.

às vezes eu queria que ela estivesse comigo
mesmo estando com quem quer que a fizesse feliz.

E isso também é estranho, amiga.

eu nem lembro da tua voz,
mas acho que se eu quisesse
eu poderia ouví-la
em tons que nunca pude realmente escutar,
entoando frases que nunca disseste.

E isso é estranho, amiga.

às vezes sinto sua falta
como de uma manhã bem fria
quando eu queria um dia de sol.

Saturday, September 26, 2009

Vermelho.

eram vermelhas escuras
as lágrimas que vertiam dos olhos
naquela noite triste e silenciosa.

ela cantava suas dores
e um violão arranhava os acordes
lamuriosos das canções que nunca escreveu.

ele vomitava seus prantos
num canto qualquer
para quem quisesse ouvir.

eram vermelhas escuras
as lágrimas que caíam dos olhos,
cheias de horror, cheias de medo.

O prisma.

ela sorri, misteriosa,
por trás da fumaça do café,
do cigarro,
do ambiente,
e ele tenta descobrir o porquê dela estar fazendo tudo aquilo.

ele sorri
porque acha que é o que ela espera que ele faça quando seus olhares se cruzarem
e logo fica sério porque é o que acontece quando não há motivos para sorrir.

os dois são estranhos uns aos outros,
um ao outro,
como luz da lua e luz do sol -
mesmo que não haja diferença entre as luzes, mesmo que seja a mesma.

no fim, ambos se decompõem em setes espectros no prisma
e não há nada que se possa fazer para mudar,
não importa quantos sorrisos haja de um lado
ou do outro.

Wednesday, September 23, 2009

Compartilhamos.

na pia do banheiro
eu cuspo um pedaço meu
do que foi teu
um dia.

Monday, September 21, 2009

O imortal.

lembro de você
sentado na sombra
de domingo
escutando as tuas músicas
que hoje são minhas
(muito obrigado por isso).

lembro de você
sorrindo com os amigos
na garagem da casa
enquanto todos bebiam, fumavam,
se divertiam.

eu não era nada além de uma criança, mas lembro bem da alegria
que era estar ali contigo.

hoje eu lembro de muitas e muitas coisas.
lembro porque é bom fazê-lo,
porque, assim, serás eterno
como já é.

Thursday, September 17, 2009

Oi?

garota,
se você me quer
eu te quero.

e é assim que vai ser.

agora, me diga,
garota,
como se soubesse das coisas,
como se fosse uma mulher crescida, me responda,
você me quer?

Sorriso.

tua língua tocava meu pescoço
e eu sentia na espinha,
tua respiração
ofegante chegava ao meu ouvido
e eu sentia no meu peito.

tua boca procurava por mim
e eu me sentia bem por isso.

quando parei para pensar sobre aquele dia,
sobre aquele momento exato,
percebi com um leve sorriso no rosto
que havia em mim um grande sorriso na alma.

Tuesday, September 15, 2009

"o teu amor faz cometer loucuras."

queimar meu corpo na tua janela -
o cheiro de querosene enxarcando a alma -
só pra você me notar entre palavras ardentes
de amor.

Monday, September 14, 2009

te vejo.

te vejo do outro lado da rua
corro pra perto e arranco nossas peles.

quero te sentir
como nunca senti
quero que me sintas
como nunca sentirás.

te vejo do outro lado da cama
e rolo para perto
para entrar em você como poucos outros fizeram.

quero te ouvir como gosto de ouvir
quero te fazer dizer o que gosto de ouvir.
ao meu ouvido.

"tantas vezes você disse que me amava tanto..."

mas quantas delas eram verdade?

"esqueceu de tanta coisa que um dia me falou."

se era pra não lembrar,
meu bem,
se era pra simplesmente negar o que passou,
era muito melhor nunca ter acontecido.

"e eu acho que você já nem se lembra mais..."

e eu me pergunto todo santo dia
se sou só eu ou se com você é assim também.

mas eu lembro.

não, não choro só
ao perceber minha solidão.

Estranho.

minha alegria
era tão triste
quando eu te perdi.

e hoje
minha tristeza
é alegre por ti.

Tato.

quero tua carne entre meus dentes,
tua coxa na minha boca.

quero sorver o sal da tua pele,
conhecer-te inteira com o tato da língua.

Canção feliz,

quero que você cante comigo
qualquer música
até cairmos no sono.

quero que você cante
para me acordar.

quero que nossa vida seja uma música boa
que toda hora está a tocar.

La Belle du Jour.

não foi pra ela que eu escrevi meu primeiro blues,
mas ela é dona das melhores canções que já cantei.

Os medos que a madrugada traz.

gostava dela
porque ela era minha ouvinte,
minha conselheira,
minha irmã,
minha amante,
minha amiga,
minha mãe.

tudo o que uma mulher
de verdade poderia ser.

gostava dela por tudo o que ela era para mim
e não pelo que ela podia ser para os outros.

hoje
não sinto falta apenas dela,
de sua pouca carne sobre seus ossos,
seu gosto que mal me recordo,
sinto falta da irmã que perdi,
dos conselhos que jamais terei,
do ouvido que já não me escuta,
da amante que já não ama,
da irmã que se perdeu,
da mãe que faleceu,
da amiga que perdi.

sinto falta da idéia
de uma pessoa como ela.

e tenho medo,
medo mesmo,
quando penso que talvez
essa tenha sido minha única chance de segurar alguém assim
e eu tenha perdido.

A madrugada traz o mal.

hoje eu sinto tua falta
e acho engraçado
pensar em tudo isso,
lembrar de você.

hoje eu sinto a tua falta
como nunca antes senti.

hoje precisei da tua palavra de consolo
e dos teus conselhos
e das tuas idéias.

hoje eu me peguei pensando
no quanto você mudou
e se deixou de ser a pessoa
que tanto amei.

numa vã esperança que talvez não tenha,
penso em discar teu número,
te deixar uma mensagem,
buscar você onde quer que for...

mas viro para o lado,
fecho os olhos
e durmo.

Me escreva uma carta ou cartão postal e deixe-o por aqui.

esperamos pelo melhor, meu bem,
esperamos porque é tudo o que podemos fazer.

esperamos pelo melhor,
porque é o melhor que podemos fazer.

e eu te quero o melhor,
te quero o melhor porque é só isso que mereces.

o melhor da sorte pra ti.

Incapaz.

eu queria
escrever palavras bem bonitas
como o teu rosto,
os teus olhos...

O mundo, o mundo.

espero a tua ligação
por toda a madrugada,
mesmo sabendo que você não me prometeu nada
(talvez seja exatamente a falta de compromisso
que me dê esperança de uma surpresa maravilhosa
como a tua voz me acordando no meio desse inferno quente
de pensamentos indesejados
que é a madrugada sem você).

espero a tua ligação
quase sem pegar no sono.
e, quando acordo, sei que não verei teu rosto sorrindo
com uma xícara de café preto fumegante em mãos,
recém passado pelo filtro, perfumando toda a casa.

me bate uma tristeza pensar em tudo o que eu quero de você
e nunca tive, nunca terei,
me cansa lembrar de coisas que não vão acontecer.

a madrugada inteira passou
sem você me dar um traço de vida
e eu agora sinto a vontade do mundo dentro do meu peito,
o medo do mundo, as frustrações do mundo, o mundo, o mundo.

o sol já passeia lá fora.
lá fora é lá fora...
não importa o lá fora
porque eu quero você
aqui dentro
comigo.

Eu quero as coisas estranhas, porque estranho é que é bom.

eu quero que você me acorde.

só isso.

se você me acordar, meu bem,
estarei bem, feliz.

eu quero que você me faça dormir
acarinhando minha cabeça que repousa
no teu colo quente.

quero que você me beije
e sugue meu sopro de vida.

eu quero morrer nos teus braços
quando chegar a hora de deixar de existir.

eu quero sorrir pra você
e quero te ver sorrir pra mim.

eu quero as coisas mais tolas do mundo
mas quero todas elas só se forem
com
você.

Friday, September 11, 2009

Coisas.

eu gosto é do silêncio
entre uma palavra e outra,
entre olhares,
entre beijos.

eu gosto das palavras
entre um silêncio e outro,
entre os olhares,
entre os beijos.

eu gosto da tua voz me dizendo
coisas.

eu gosto dos teus ouvidos
me ouvindo dizer coisas.

gosto quando dizemos coisas,
porque, de alguma forma,
que não sei bem como,
nem por que,
eu sinto que contigo há espaço
para se falar coisas.

gosto das tuas coisas,
dos teus livros espalhados pelo chão
e dos cds nas prateleiras,
gosto de como você não gosta das minhas músicas
e não conhece meus livros.

gosto porque teus olhos brilham
e você sorri
e eu me sinto bem
e falamos coisas
e fazemos coisas
e sentimos coisas.

gosto porque é bom
enquanto existe.

e é bom que exista.
é bom.

O sol me chamou.

você era o sol entrando pela fresta da janela
pela manhã
e eu sentia o teu calor percorrendo todo o espaço
até me tocar.

você era, também, o vento que soprava
pelo mesmo espaço
e que beijava suavemente meu rosto.

eu sinto falta de você
como dessas manhãs de domingo
onde só havia eu e você lá dentro
e isso nos bastava.

Meine Blumen sind Blumen.

ich muss die Worten sprache
ich muss für dich sprache
mein Mund am deine Ohr
und du musst meine Fragen hören
bitte, hörst meine Worten
sie sind auf meine Kopf,
sie sind auf mein Herz
sie sind für dich.

Tuesday, September 08, 2009

As borboletas quando voam parecem tubarões.

sonhei essa noite
que eu te ligava
e, depois de meses,
você me atendia
sem apelidos carinhosos,
sem frescuras.

"oi"
você me disse
e eu quase desabei.

eu estava um pouco bêbado e não sabia o que fazer.
eu respondi com um oi,
explicando quem era e
dizendo que fazia tempo que a gente não se falava
e que talvez fosse tempo demais.

você ficou calada.

"eu sinto a tua falta" eu disse
do fundo do coração
e expliquei que não era a falta que faz a amante na noite fria
e solitária, onde tudo o que se quer
é o corpo quente do lado.
falei que sentia falta dela como pessoa, como amiga,
que achava um pouco estranho toda distância que existia entre nós
não mais física, apenas.

e ela me perguntou como eu estava e outras coisas
e eu disse como estava e disse as outras coisas,
ela ficou em silêncio quando eu disse que descumpri minha promessa,
já eu sorri, sozinho.

eu quis perguntar tantas coisas,
coisas demais,
algumas sem respostas e outras sem vontade de tê-las
como você deixou claro.

depois de um silêncio demorado demais
pensei que fosse a hora de dizer adeus
e eu pensei em implorar,
sou bom em implorar, você sabe mais que ninguém,
mas preferi não me humilhar mais.

disse boa noite e te desejei o melhor, sempre.

o melhor, meu bem, pra ti.

e você me disse tchau e me chamou pelo nome que você me deu
o nome que nos caracterizava.

eu desliguei e houve uma revoada de borboletas
um transbordamento de represas,
que significavam o fim.

Lirismo.

a gente tem
que arrancar amor
da pedra,
do suor
e da vontade.

a gente tem que arrancar
o amor do coração.

Das coisas que ela disse.

ela, com ar de sabedoria,
achando ser o meu melhor, me disse:
"você nunca vai encontrar uma outra como eu."
e eu, sem pestanejar,
retruquei:
"e quem disse que vou procurar
uma outra como você?"

Mata minha fome.

a água está no copo
e você, onde está?

Um adeus.

levanta em silêncio,
como se fosse uma parte da noite,
como se fosse a última sombra do mundo antes do sol nascer -
que vai se desfazendo com a luz ao redor até que a raio derradeiro a toca
e deixa de existir.

caminha para longe,
porque é lá que quer estar,
já que aqui é um lugar que traz lembranças ruins demais para qualquer um,
já que aqui é o último lugar para se desejar estar.

a cada passo leve pensa em dizer adeus,
cada vez que sente o chão frio,
sente na alma um adeus.

se vai,
sem que ninguém note, voando
como as horas boas que passamos juntos.

todas as vezes que te vejo são mentiras.

você me diz coisas no ouvido
e eu finjo que não escuto.

você me diz segredos
sobre a vida e sobre a morte
sobre como tudo isso não faz sentido nenhum
e como ter fé não adianta de nada.

mas eu ignoro tudo o que tua voz diz.

você me diz que as coisas
são do jeito que são por seus motivos
e me explica cada um deles,
mas não adianta
porque tua voz não é ouvida por mim.

você me diz que há tanto amor
e sentimento no mundo inteiro
e em você...
em você... e é por isso que não acredito.

A cidade que nunca cerra os olhos.

na cidade que nunca dorme,
somos dois anjos caídos entre latas de lixo.

você é quente e eu sou frio,
juntos fazemos o conforto de muita gente,
separados somos desconfortáveis,
como uma tarde no saara,
uma noite no atacama.

na cidade que nunca dorme,
somos estranhos perfeitos.

você é o dia, eu sou a noite,
e cada um de nós é necessário por seus motivos,
para o trabalho e para os sonhos.

na cidade que nunca dorme,
nós somos um casal de namorados.

você é linda e eu sou feio
e cada um de nós é visto
em todos que na cidade passeiam.

Monday, September 07, 2009

Tchau.

eu sonhei que você me dizia:
vamos embora daqui.
levantava
e saia sem dizer mais nada.

eu, deitado,
fiquei atônito e solitário
enquanto você abria minha porta
e sumia.

Thursday, September 03, 2009

O som.

você foi apenas mais uma canção de amor
que tocou (n)a minha vida.

apenas mais uma canção de amor
que, como todas as outras faixas,
chegou ao fim.

Wednesday, September 02, 2009

Teus cabelos.

teus cabelos cresceram
nesse tempo sem mim
teus olhos, no entanto,
não mudaram nem um pouco
apesar de tudo o que já viram.

tua pele, tua boca,
teu nariz...
você continua a mesma pessoa que me abandonou,
mas é tão diferente do que foi.
eu acho.

às vezes eu sinto tanto a tua falta,
mas não porque meus planos de futuro -
que nunca aconteceram -
eram com você,
mas porque era minha minha melhor amiga.

às vezes eu lembro...
quase sempre lembro
do teu nome, do teu cheiro, da tua voz...

teu cabelo hoje passa mais de quatro dedos de onde estava quando te vi
pela primeira,
pela última vez...
desde então, nunca criei esperança de um dia nos reencontrarmos.

mas hoje eu te vi de alguma forma
e, dentro de mim,
senti a tua falta.

A quarta rua à esquerda.

na quarta rua à esquerda,
há uma mulher
cujos olhos são vazios
como seu coração.

se você encará-la por um tempo
poderá ver o futuro inteiro,
conhecer coisas que ninguém mais sabe,
entender os grandes mistérios.

na quarta rua à esquerda,
há uma mulher
que não é morta
porque tem pulsação.

se você dormir com ela
e lhe der o prazer que quer
ela te dará o mundo inteiro.

na quarta rua à esquerda,
há uma fila de cadáveres do que um dia foram sonhos
e esperanças.

Tuesday, September 01, 2009

Acho que ela se foi.

quase certeza de certas coisas
que não são certas assim.

acho que perdi muita coisa,
mas o que mais queria perder
ainda está comigo.

você acredita na sua cabeça.

são apenas fotos
e lembranças.

é tudo o que tenho
de um tempo que nunca vivi.

Saturday, August 29, 2009

Tênis.

teus tênis sujos abandonados no chão
espalham o barro e a saudade por toda a casa.

há coisas de você que eu não lembro,
por mais que eu queira lembrar,
mas há outras, no entanto,
que jamais saem da minha cabeça
e, às vezes, me vejo perturbado por isso.

tua calça, tua blusa,
tua calcinha sobre uma cadeira
me fazem pensar
que você nunca chegará para se vestir e sairmos.

há coisas que lembro demais
como o teu gosto numa manhã de sábado
ou o sal da tua pele descendo para a comida,
deixando-a salgada, mas não ruim,
jamais ruim.

teu quintal, tua cozinha, teu quarto
me vêm à mente sempre que nada mais vem.
mas eu sempre tento fugir
das lágrimas e da tristeza,
tento afugentar tudo com um sorriso.

os lençóis, o frio, meu corpo no teu,
tentando deixar o mínimo de espaço entre os dois
e teus comentários maldosos sobre quem eras
e sobre como se sentia.

não sei o que nos dava,
mas nos fazia um mal tão grande
que por uns tempos parecia até bom.

os olhares, o silêncio, as vontades demonstradas
lembro até hoje de boa parte das palavras
de boa parte das ações
e, de vez em quando sonho com elas.

hoje não quero fugir de você,
quero sorrir como sorrio quando lembro,
sentir a alegria de ter vivido
e parar de pensar em tudo o que não vivi,
não vivemos.

teus tênis sujos, antes de serem esquecidos no chão do quarto,
deixaram teus passos na minha mente.

e não há o que se fazer para mudar. apenas sorrir e seguir.

"é o fim do mundo
como o conhecemos
e eu me sinto bem."

A promessa.

entre os lençóis
promessas foram feitas,
juras de amor formadas.

fora deles,
descumpridas, esquecidas.

Dentro do coração, o amor.

um dia
raimundo virou para maria
e disse
"meu bem, meu bem,
é por isso que o raimundo nunca vai se acabar."

ela olhou para ele com um olhar de dúvida.
não entendia nada.

"por que isso,
homem de deus?"

ele a puxou para perto,
pela cintura,
e disse olhando-a nos olhos,
mas quase não os vendo:

"porque, mulher,
se acabar, acaba o amor,
e esse daqui vai durar."

Nuvem passageira.

como num sonho,
você me chega,
meio translúcida,
meio inteira,
e me diz que eu não devo esperar,
a vida é curta demais
para só amar.

quando o sol nasce,
você se vai entre raios de luz
e o som de ondas quebrando na praia.

teu gosto quase sumindo da minha boca
e os passos sendo levados embora.

o vento bate em meu rosto
então abro os olhos...
você nunca esteve comigo de verdade,
você foi um dia sem nuvens.

Friday, August 28, 2009

se você for, eu quero ir com tu.

hoje eu falo tudo o que falo a alguém que não existe mais,
aos meus fantasmas e meus medos,
ao eterno silêncio que envolve cada palavra.

hoje eu clamo amores que não são reais,
sentimentos que não são reais,
uma vida que não é real.

e para quê?

para que uma hora eu consiga aprender a viver assim,
para que em algum momento eu me sinta bem vazio,
bem sozinho,
até que alguém me convide para viver a realidade,
até que alguém me diga para arrumar minhas coisas e ir
porque é tarde e há muito tempo que não vivi,
mas ainda há muito para viver.

e irei.

"não posso sentir cheiro de lasanha."

hoje eu evito sentir o cheiro
de tudo aquilo que me lembra você.

"as canções mais nervosas que o mundo há de ouvir."

meu amor por você
é a essência de tudo,
da melodia da alma,
da beleza da vida,
da tristeza vivida
e da alegria perdida.

Wednesday, August 26, 2009

a minha ana.

a minha ana tem os olhos
mais negros que a terra já criou,
a boca mais vermelha que o inferno já pintou
e o balanço mais perfeito que desceu do paraíso.

Tuesday, August 25, 2009

Todas são iguais.

e eu bem podia gostar de todas,
mas eu gosto é de você.

das coisas que você é quando é o amor.

você é o amor
de uma forma que eu não conheci,
o amor que talvez perdi.

você é o amor
que, para mim, nunca existiu,
o amor mais lindo que anil.

você é o amor
que um dia não tive para mim
o amor por ouro, prata, marfim.

você é o amor
que me deu febre, suores, dores,
um amor de todas as cores.

você é o amor
que eu nunca soube explicar
amor que, pensei, sempre estaria por lá.

mas você foi amor que chegou
e agora não quer mais ir.

marcou território,
urinou em meu jardim.

você é o amor
feio um cão que vem do inferno
e aguarda cada segundo com ansiosa calma.

você é o amor
que me arranca a alma.

Saturday, August 22, 2009

Unilateral.

você me dá a mão
e pede para que eu nunca te solte.

mas eu te estendo a mão,
esperando uma ajuda
que nunca vem.

Friday, August 21, 2009

Beibe morfina.

ela podia controlar os dias
e as noites
os invernos e os verões.

ela podia controlar cada sonho de cada noite.

e devo dizer que ela me deu muitos pesadelos.

Bj.

eu olho pra ela
com seus olhos brilhando
como duas estrelas no céu da madrugada
o cabelo caindo sobre sua testa
e os lábios suavemente se movendo
e penso em como seria maravilhoso
guiá-la até as portas do inferno
enquanto ela me faz enxergar anjos
e ouvir cânticos.

Crepusculando.

ela era como o entardecer
linda, confortável, poderosa
e passou muito rápido.

Wednesday, August 19, 2009

Aquela mulher.

era como sonhar
com uma montanha
um raio
um cavalo.

era como sonhar que era capaz de voar
acima de tudo e todos.

era impossível, inesquecível.

A manhã seguinte.

estar com ela
é como...

sabe quando a gente tem um dia bom,
muito bom,
e ele chega ao fim
e a gente fica triste porque o dia foi muito bom?

estar com ela é acordar no outro dia
recebendo um boquete.

Tuesday, August 18, 2009

Adeus, Maria da Flor.

com ela tudo se resumia ao sexo
e às drogas
e a toda a vida que ela não viveu até então,
mas queria viver.

não havia beleza
nem alegria
nem amizade
havia ela e o mundo inteiro de desconhecidos
prontos para virem e irem
como ela vinha e ia na vida de todos.

ela que sorria um riso vazio,
como os olhos que ela tinha,
sem brilho.

ela que dizia
que não tinha tempo
nem medo
nem sentimentos...

ela que vivia
ao extremo.

acabou por ir embora
sem viver o que queria,
sem sentir o grande embrulho
do presente
que é o amor.

ela, que numa noite escura,
subiu aos céus e desceu
como alguns quilos de chumbo,
com o manto de morfeu.

ela que foi minha amiga,
minha amante, minha irmã,
foi para além do horizonte,
o reino do amanhã.

queria um dia revê-la
e que ela mostre para mim
o riso que ela nunca deu
e sinta o amor que nunca sentiu.

mas sei - e me entristeço -
que outra vida não virá,
que o sábio é viver o que temos
com o que temos...

Quente e úmida.

a tua língua
parece a língua de fogo
a língua que arde
a língua que queima.

a tua boca
parece uma fogueira,
parece um forno,
parece um inferno.

e é nela que quero passar a eternidade.

Tríade.

a tua cama,
o doritos
e o amor.

Sunday, August 16, 2009

O sangue que corre.

eu tenho que te dizer,
meu bem,
uma coisa que me acontece:
toda vez que eu te vejo,
toda vez que eu sinto o teu cheiro,
minha calça fica apertada.

Estanque.

entre todos nós
caminha sem ser percebido,
em um silêncio que devora,
que amedronta.

e ele se alimenta
de tudo o que há na alma,
dos medos, temores, raivas, rancores.

entre todos nós
caminha sem ser notado
e arranca dos peitos
a esperança de um dia mudarmos.

Friday, August 14, 2009

Aluga-se

saiu pela porta sem nem olhar pra trás
e tudo o que se ouviu foram ecos de uma tranca
se fechando,
trancafiando no passado as lembranças que existiriam daqui a anos.

numa caixa havia retalhos
de uma época de sorrisos e de alegria
que não mais voltaria
porque pertence a outros tempos.

o álcool, o fósforo riscado,
o fogo lambendo sorrisos e abraços.

um lar em pedaços não é um lar,
o coração não está mais lá e jamais voltará.
um lar em pedaços é tudo o que sobrou:
coisas numa caixa em chamas e uma casa com uma placa de aluga-se
vende.

Tuesday, August 11, 2009

Como eu queria.

"duas almas perdidas
num aquário de peixes
ano após ano."

04:05

a solidão,
o silêncio,
e os pensamentos dos quais não se escapa:
isso forma a madrugada.

Mentiras, mentiras.

todas as vezes em que abres os lábios
mentiras escapam.

todas as vezes em que fechas os olhos
mentiras escorrem.

todas as vezes que estás com alguém
mentiras se fazem.

todas as vezes que teu corpo se move...
mentiras crescem.

Como ela é.

os olhos molhados, cheios das lágrimas que teimam em cair
todas as horas ao longo dos dias,
me lembram céus cinzentos, mares bravios, tormentas.

não há calma nem paz nem amor
não há tranqüilidade nem carinho nem felicidade.

em seus olhos há morte,
tristeza.

seus olhos mostram a todos o que enxergam:
a vida de verdade.

Monday, August 10, 2009

Luz e Escuridão

no escuro, os teus olhos negros,
parecem dois vórtices sugando toda a luz.

no escuro, tua boca toda
parece a coisa mais bela que eu já vi.

no escuro, você é o que meus sonhos sonharam,
o que meu desejo desejou.

no escuro você é toda a verdade,
do início ao fim.

no escuro ninguém é quem é,
e, ainda assim,
quando está claro
eu só quero você.

Das pequenas vezes.

às vezes eu dôo,
mas apenas quando eu vejo o teu sorriso
brilhando feito o sol e me cegando
feito chuva pesada no parabrisa.

às vezes eu rio de dor
porque é algo incrivelmente bom
te ver quando tenho vontade,
te ouvir no meio da madrugada,
acordando e te vendo
pra poder voltar a dormir.

mas
às vezes eu choro

Wednesday, August 05, 2009

Você é um quadro.

ela disse com a voz mais sábia de todos os mundos:
"eu te amo como se ama cada coisa linda que esse mundo já viu
e se é grato por isso.
amo como cada uma das obras de arte que se conhece,
de monet, rembrandt, picasso, davinci...
amo mais que qualquer poema já escrito,
de neruda, vinícinius, drummond, bandeira...

amo cada uma dessas obras porque me conquistou,
assim como você,
mas sei que jamais poderei tê-las para mim,
assim como você."

de seus olhos saíram lágrimas,
ela poderia estar mentindo como todos os seres humanos do mundo,
mas algo no ar dizia que aquilo era mais do que uma mentira elaborada.

doía demais dizer aquilo
e doía demais escutar,
era pesado demais para ser mentira
e machucava como a verdade.

L.

já provei do amor que acabou.
já dei do amor que acabou.
mas pra você, meu bem,
só o amor sem fim.

Tuesday, August 04, 2009

Ícaro.

eu sinto o sol batendo no meu rosto,
o vento tocando minha pele,
a tua voz no meu ouvido.

eu lembro do teu cheiro
como se todos os dias da minha vida eu o tivesse sentido,
como se você fosse flores
na primavera.

o pensamento de você
me faz voar sobre as montanhas,
me faz ver acima das nuvens
sem nem precisar fechar os olhos.

"você sonha com o paraíso, quem vai te levar lá?"

se você me der a mão,
já estarei lá,
com você.

Sunday, August 02, 2009

A guerra.

eram tempos de paz
até que você apareceu
me trazendo os pensamentos
que eu, com tanta luta,
conseguia manter distante.

e agora a guerra acontece
enquanto você não assiste a nada disso.

Sinceridade.

ele disse
"você não sabe como eu me sinto quando eu vejo você."
ela olhou para ele
e disse como quem entende tudo no mundo
"não, eu não sei."

Verso.

ele abria os olhos todas as manhãs
e via os cílios longos dela
o rosto amassado no travesseiro
as olheiras que nunca sumiam
e as manchas que ela escondia
e não podia evitar de achá-la linda,
como uma poesia.

ele abria os olhos todas as manhãs
e sentia uma alegria tamanha
em saber que ao seu lado
estava o mais belo dos versos já composto pelo homem.

O descaso.

ele - que tanto amou,
que tanto desejou,
que tanto fez coisas
para que ela fosse feliz -
não era feliz
porque ela era feliz.

e ela - que era triste
porque ele era triste,
que era sentida
porque ele era sentido,
que era perturbada
porque ele era perturbado -
sorria porque agora era feliz.

Saturday, August 01, 2009

Aulas.

o amor não devia vir como a chuva.

nuvens cinzas no horizonte,
sem nunca sabermos quando exatamente chegarão,
caindo aos poucos ou despencando de vez.

o amor devia vir como um acidente.

você não espera que aquilo ocorra
e depois dele não há como se evitar,
apenas conviver com os fatos.

mas, infelizmente,
o amor é um sentimento que se tem,
e não uma disciplina que se aprende.

Congela.

lá fora eu não faço a menor idéia do que acontece,
mas aqui dentro eu sinto um frio na alma,
como aquele que eu sempre sinto,
nem melhor, nem pior,
sempre igual
e é isso que me castiga.

Verde.

ah, as mentiras.

elas têm um gosto tão doce,
mas tão doce.

de forma alguma lembram as verdades amargas,
as verdades duras,
as verdades biliares.

ah, as mentiras...

O teu corpo emana um odor só teu.

eu sinto o teu cheiro
de vez em quando.

de vez em quando
me dói a alma
quando eu sinto o teu cheiro.

de vez em quando
eu não sinto você.

me dói a alma
quando não sinto o teu cheiro.

Dias, semanas, meses, anos.

toda vez que eu
abro um livro,
ouço uma música,
penso em você,
escrevo uma linha,
ou qualquer dessas coisas do cotidiano...

me pego sempre
imaginando quando
é que você vai começar a me esquecer.

A verdade é que.

dos teus lábios saem as mentiras
que os meus ouvidos conhecem tão bem.

dos meus lábios
saem as mentiras que você não quer aceitar.

e nós mentimos como quem fala a verdade,
como quem tudo quer no mundo,
um para o outro,
um o outro.

Thursday, July 30, 2009

O silêncio II.

o silêncio cai
como uma bomba
e derruba tudo o que demoramos séculos para construir.

o silêncio cai
e acaba com todos os sonhos,
com todos os desejos
fazendo só restar a verdade.

Renascimento

entre a carne e os ossos
há a semente que germinará.

Wednesday, July 29, 2009

Compartilhar

há mais de um ano eu dizia que a felicidade
é compartilhar as coisas boas
com quem se ama,
com quem se quer.

a felicidade não mudou,
mas hoje não tenho com quem compartilhá-la por completo.

A velha história.

há dias
meus pensamentos têm sido você
e isso, meu bem,
começa a me preocupar.

Até o fim da eternidade.

é bom ter você de novo
de novo
de novo
de novo.

e eu sei,
sei que nunca
deixaria você ir embora
e nem faria nada
para te perder.

é bom ter você de novo
e de novo
e de novo
e de novo.

todos os dias da minha vida.

Intolerância.

eu os vejo nas ruas,
nos campos,
nos rios,
nos ares,
nos mares,
onde quer que possam haver duas pessoas,
eu os vejo.

eu poderia viver muito bem com isso,
poderia aceitar de boa tudo isso.

mas eu estou cansado demais
para ser tão resignado.

"Abra seu coração, não vê que eu preciso?"

você vai me deixar entrar?
aqui fora está frio
e molhado e sozinho.

a noite me tortura com seus velhos tormentos,
a chuva me castiga com seus velhos instrumentos
e o tempo me perturba com os antigos momentos.

e eu, aqui fora, só penso

alguma hora vai me deixar entrar?

E ninguém me ajudará a desfazer minha cama amanhã de manhã.

uma voz no meio da noite
e ela não diz meu nome.

como todas as outras
no meio do dia.

Sunday, July 26, 2009

A força que vem de 1984.

na noite escura
comigo estão meus sonhos,
minhas esperanças
e meus desejos.

não tenho mais nada,
nunca tive,
apenas o vazio me cerca
e ele é tudo o que há.

na noite escura
os homens se despem de pudores
as mulheres se despem de rancores,
o mundo inteiro desaparece sob os pés,

porque não há onde se apoiar
na noite escura,
não há onde crescer e se tornar algo.

na noite escura sou sugado para fora de mim,
condenado ao vácuo do saber.

e é a primeira vez que não sinto medo.

C.

é, amigo,
eu entendo que é tudo uma piada,
que somos todos fracos, humanos.

o que eu não consigo entender
é o porquê de ninguém estar rindo conosco.

por que é que estamos sós?

Thursday, July 23, 2009

A poesia.

a poesia morre por dentro,
desaba como o amor,
e não cresce mais,
não se faz como antes fazia.

a poesia sofre por dentro
não mais desabafa seu amor,
não se mostra mais,
como antes era a poesia.

Monday, July 20, 2009

Belo.

me dói o coração
a ignorância e o abuso
a falta de vontade de entender
que a beleza da vida
está na vida
e não nos olhos de quem quer enxergar.

Uma hora eu preciso dizer.

teu perfume invade meu quarto
me dizendo que você está indo embora.
eu sinto algo dentro de mim,
apertando o peito,
e a vontade de dizer que te amo.

até mais.

Luto.

da última vez que eu te vi
eu não lembro como estávamos.

provavelmente estávamos enlutados
e você virou-me o rosto.

como na primeira vez,
só que com outras cores.

Quero te mostrar o que é o meu amor.

eu quero te mostrar
as coisas que você nunca viu
porque sempre fecha os olhos
quando o filme fica assustador.

quero ler os livros que você nunca leu,
te cantar as músicas que nunca ouviu
e te recitar os poemas que você desconhece.

quero deitar no sofá com você
e assistir ao que estiver na tv,
esperar um bom desenho
e rir de quase todas as piadas.

quero, com você,
passar todas as noites insones,
e todos os dias mortos.

para, depois, reviver contigo
no paraíso.

Vem comigo.

todos querem dizer o quanto te amam
mas você parece não querer saber
e navega sobre o oceano
quase sem perceber.

pareces ignorar todos os gritos e clamores
à tua janela por horas e horas,
as juras de amor de quem te adora
e os presentes mais bonitos.

e há aquele teu sorriso
de quem não lembra de nada
além do que é preciso.
e você é minimalista.

o mar inteiro parece desabar sobre mim
quando eu penso em você
e em todos os clichês que isso pode resultar.

mas eu só peço que você venha comigo,
meu bem, segurando minha mão bem forte,
para que a gente não se separe
e nem se perca.

venha comigo para cá, debaixo de toda essa água,
onde construiremos o que você quiser.

viveremos num submarino da cor que você quiser,
cultivaremos um belo jardim onde os polvos passearão
e nós dois poderemos ser muito felizes.

é só você vir nadar.

Sunday, July 19, 2009

Sinceramente.

você já esteve em todos os lugares dos teus sonhos,
(você me diz que)
conheceu todos os teus ídolos mortos e vivos
em todos os lugares do mundo.

você já viu o mundo azul lá de fora
e disse que não faz diferença a nossa vida aqui dentro.
(como se essa não fosse a coisa mais óbvia a se pensar)

eu sempre odeio como você se acha superior
por ter visto ao vivo
o que eu só conheço através de telas
e imaginação sobre papel.

você sorri sempre que me conta essas coisas
(porque não acredita que eu acredite nessas coisas todas)
um sorriso de quem lembra de coisas que ninguém jamais viu.

odeio o fato de você estar sempre sorrindo,
sempre feliz, mesmo quando está chorando por alguém que não te mereceu
ou que você não merece.

você tem fotos de animais mortos:
teus gatos, cachorros, blackdog, evita, rex, totó.
os pêlos castanhos e pretos e brancos
por quais lágrimas foram derramadas.
(e todos sabem que eu nunca me comovo com animais)

odeio o fato de que, muitas outras coisas em você
me irritam como o sol entrando pela janela
num domingo de manhã, me acertando bem nos olhos
e não me deixando dormir bem novamente.
porque ele é quente e cheio de vida
como você durante toda a semana.

você sofre demais porque ama demais
(é o que me diz você ao se lamentar sempre)
mas ama tudo porque o amor é uma coisa boa
e você diz saber.
(mas todos sabem que você só copiou a canção)

odeio como você ama,
aparentemente desamando e sempre deixando um pedaço
para germinar assim que a estação certa vier
e eu acho que, para você, todo tempo é a estação certa.

você é sábia e entende das coisas da vida
(você mente dizendo que é isso tudo para todos que chegam perto)
como ninguém mais seria capaz de entender
e dá opiniões relevantes sobre tudo o que importa.
(enquanto a tua opinião é simplesmente ignorada por mim
por te conhecer como você acha que conhece todos.)

e eu odeio te ver tanto em mim,
odeio me ver em ti,
odeio estar longe de você como agora
e odeio estar junto de ti.

odeio porque somos ruins demais separados
e simplesmente horríveis juntos.
odeio por te amar tanto
sem jamais querer fazê-lo.
porque odiar é o melhor que posso fazer.

Y

o erro se fez
por querer-se sempre o bem.

o erro se fez
porque ninguém pode sair sem se ferir.

para ser humano
deve-se ter o coração partido
de novo
e de novo
e de novo.

até ele nunca mais se dividir.

Thursday, July 16, 2009

é por amor, meu bem?

"por que você me trata mal
se eu te trato bem?
por que você me faz o mal
se eu só te faço o bem?"

O mundo.

promessas contadas ao ouvido,
como se fossem as verdades secretas
que todos buscam desde os tempos imemoriais,
mas não são e sabemos todos disso.

segredos compartilhados entre dois
que sabem que segredos não significam mais
o que eram quando eram verdadeiramente segredos.
(um segredo morre quando seu único portador morre,
não quando se compartilha com alguém
- e segredos foram feitos para morrer.)

juras de amor ao pé do ouvido
quando o mundo inteiro sabe
que depois que se separam
procuram o verdadeiro consolo
nos ombros de quem não tem tanto amor assim.

os sorrisos falsos,
a riqueza falsa,
a falsa genialidade:
o mundo ao redor é o espelho das almas das pessoas
e isso consegue me assustar
de formas antes jamais imaginadas.

Anos e anos

há cinco anos eu estava sentado
esperando o tempo passar
(porque era só isso que eu fazia naqueles tempos)
para poder vê-la outra vez
enquanto ela estava com quem queria.
nunca comigo.

há quatro anos eu estava sentado
numa sala de aula pensando
em como os lábios daquela morena
eram tudo o que eu mais queria,
e em por que eu não podia tê-los.

há três anos eu estava sentado
no sofá do apartamento dela
suando, tremendo e falando
com uma voz trêmula
o quanto eu a desejava
escutando o porquê de ela não ser minha.

há dois anos eu estava sentado
na cama do meu quarto
mordendo minha língua e engolindo o ódio
e a frustração de querê-la
como quase quis.

há um ano eu sorria com ela
pelo telefone e fazíamos planos
para quando tudo o que fosse bom
acontecesse, como sabíamos que iria.
estávamos errados.

hoje estou sentado
escrevendo sobre toda a vida que vivi
sem querer pensar, sem pensar,
no que amanhã me reserva,
mas às vezes... às vezes eu sinto falta dos anos que se foram.

Wednesday, July 15, 2009

"e renasciam"

porque depois de uma longa vida
casamentos, filhos, netos e bisnetos
há de se cansar de algo.

é preciso, então, mudar,
morrer
e renascer.

Veritas.

há verdades que saem da minha boca
que se disfarçam de mentiras podres
para aqueles que a ouvem.

há alguém no mundo que ouve
cada palavra por mim expelida
e entende que há, nelas, infinita sinceridade.

e meus lábios movem-se rapidamente
porque é assim que as palavras devem parecer,
quando são tidas como falsas.

mas, do fundo do peito,
sai cada uma delas. devagar
como os segundos antes do fim.

Monday, July 13, 2009

Um passo à frente.

enquanto eu penso em tudo
ela pensa em tudo e além.

enquanto eu ando em direção a ela
ela corre em direção a sabe-se lá o que.

O silêncio.

cresce como uma planta
regada, adubada, bem cuidada.

cresce como a criança
que é amamentada corretamente
e se alimenta sempre que pode.

cresce como a vida dentro da gente
começando pequena
e uma hora toma toda a vida
e sai para o mundo.

cresce como se fosse um sentimento
que suga esperanças
e cresce e cresce e cresce
então não resta nada além de sombra
e o medo.

cresce como se fosse feito desse medo,
de ódio, ira,
rancor, raiva,
escuridão e, sós no meio de todos,
nada mais fará sentido,
nada mais será sentido
e tudo cessa.

Saturday, July 11, 2009

As curvas.

vinte e cinco curvas
ou mais, ninguém pode contá-las.

trezentos e sessenta e sete curvas
tem n'algum lugar.

e ninguém antes se dispôs a contar
porque todos sempre souberam
que o importante não é a quantidade
mas com que freqüência
se pode derrapar em cada uma dessas
curvas maliciosas.

algumas curvas apenas
e meus braços se encontram depois delas.

é o ponto de encontro de vários mundos,
onde o que faz sentido
e o que não faz se moldam e misturam.

bem ali, logo acima da curva que nos leva ao paraíso,
existem curvas que podem nos tirar de lá
e cabe a cada um saber como seguir.

Wednesday, July 08, 2009

O rei do espaço infinito.

é fácil esconder-se num quarto escuro
e pensar que se sabe tudo sobre a noite
e as sombras e a escuridão
enquanto o mundo de verdade
sofre sob o punho firme dessas duas damas.

Nuvem cinzenta.

você me diz tanta coisa
e eu não acredito em nada
porque a tua língua é como faca
afiada cortando a minha carne em vários pedaços
com as mentiras e as verdades
que mal se discernem entre si.

você me diz que alguém virá para nós,
todos nós. e ainda abre a boca para falar
que há sempre algo melhor por vir.

você me diz que nós somos capazes de coisas
que jamais acharíamos poder fazer
e você talvez esteja certa,
mas é bem provável que não.

então sinto os teus braços me apertando de leve
e penso que talvez a vida nem seja tão ruim assim,
que há em algum lugar um pouco do que procuro
e que, mesmo não sendo você que me virá agora,
alguma hora nossos caminhos hão de se cruzar.

e tua boca se fecha e teus olhos se abrem
e você me diz tudo o que há pra ser dito.
dessa forma: em silêncio
discutimos a existência de tantas coisas grandes e pequenas.

depois que você me solta
me diz um adeus baixo.

e eu espero a tua volta desde então.

Monday, July 06, 2009

Vida

é tudo de alguma forma estranhamente
familiar. como nuvens cinzas no céu de abril,
enquanto tudo segue sob a ameaça constante
de que talvez nada seja do jeito que se pediu.

Casamento de viúva.

a terra está se molhando sozinha lá fora
com milhares de cabeças
tendo pensamentos regados.

o dia é quente porque é assim que são as coisas por aqui
e (quase) nunca mudam.

não há do que se reclamar.

é quente, mas há brisa,
é quente mas é confortável
porque é o lar.

Thursday, July 02, 2009

as águas paradas correm no fundo da mente.

"amor vai e vem
todo mundo sabe
não existe algo do tipo
'amor que dure sempre'"

Tuesday, June 30, 2009

Na noite.

na noite escura
não existe vida
que não tenha segredos
e que não esconda
entre os braços das trevas
seus mais profundos pensamentos.

na noite escura
dentes amarelados refletem
a lua que às vezes não se mostra
e as estrelas que abandonaram as cidades
há anos e décadas.

na noite escura
ninguém diz boa noite
porque todos a conhecem bem demais.

Do que há.

não há verso
não há prosa
nem canções pra se cantar.

não há histórias
não há novas
não há causo a se trovar.

não há um mundo lá fora
ou aqui dentro
alguém pra pensar.

não há guerra sendo travada
e não há paz conquistada
que sirva para um de nós.

talvez o que haja seja tristeza
um pouco do fim da alegria
que embarga a nossa voz.

deixando o forte fraco
e o rico pobre
e só reste a sorte

e um pouco da morte.

Wednesday, June 10, 2009

"não quero falar sobre isso"

os olhos se fecham
as bocas se abrem
e nenhum som sai.

os olhos se abrem
as bocas se fecham
e nenhum som sai.

não há o que se dizer
porque todos sabem bem
o que significa o fim.

Saturday, May 23, 2009

Do futuro.

nos vemos depois de muito tempo
a gente se pergunta
com vozes meio distantes
tentando lembrar do que tivemos em comum
então lembramos que um dia
dissemos euteamos

então nossos olhos se encontram
sem as fagulhas que soltavam anos atrás
quando cuspíamos promessas e juras
um ao outro
como rios jorrando litros d'água doce no mar.

você está tão igual, tão diferente,
e eu nunca senti mudanças em mim,
sempre sou o que sempre fui,
mas talvez você pense exatamente assim
sobre você e me veja completamente mudado a teus olhos.

talvez eu tenha ganhado alguns quilos
alguma barriga,
ou perdido alguns, talvez
(quem dera!)
e você será eternamente esbelta?
ou terá desenvolvido aquela barriguinha que eu mordia pra te provocar?
não vai importar tanto assim, no final,
não é mesmo?

conversaremos sobre o tempo,
sobre o dólar,
sobre o preço do feijão
(mas serão apenas especulações já que sabemos que não sabemos de nada daquilo,
estamos apenas tentando evitar a área em que iremos cair logo logo
porque é ruim o silêncio que precede cada história
e os sorrisos às vezes não são tão sinceros quanto deviam
e isso machuca mais do que pode parecer)
sobre sonhos antigos de viagens,
livros lidos e shows vistos,
sobre a profissão que seguimos.

faltará assunto para se tratar,
porque falamos de tudo tão sintetizado,
tão fria e diretamente,
que não se passaram cinco minutos desde o momento em que resolvemos sentar
numa mesa de um bar
ou café e pedir qualquer coisa para beber
(você continua com seus chás ruins e eu com meu café delicioso)
e o silêncio chegar.

nossas bebidas estão na mesa, quentes como os dias de outrora,
e você segura teu caneco perto da tua boca, sopra dentro dele e toma um gole
depois franze a testa, erguendo as sobrancelhas,
como fazia quando ficava me olhando só por olhar.

eu tomo meu café
sem me preocupar muito com o fato de sermos eu e você sentados lá
porque pior que da última vez que isso aconteceu não poderia ser.

"então..." você me pergunta com tua voz doce que sempre me irritou um pouco
porque talvez me lembrasse de coisas que eu queria tanto esquecer
(é que o excesso de tudo sempre faz mal nessa vida,
acho que sempre tive uma pessoa doce demais nela
e tentava contrabalancear isso com um pouco de amargura, com rancores)
e o resto da pergunta não é formulada
porque ambos sabemos onde todo o caminho vai dar.

"então..." eu respondo com um sorriso sínico, digno de minha pessoa
daquele que desde cedo aprendi a cultivar
para os momentos tão oportunos como esses.

e não sabemos direito como passar do então
até que um chamado no telefone nos afasta daquela pré conversa constrangedora
e eu atendo, falando baixo,
porque não é do assunto de ninguém além de mim e dele,
e é um paciente qualquer
(porque eu não ligo muito para o paciente agora,
já que na minha frente está você, veja bem)
que eu tento acalmar e orientar
e acho que sou bem sucedido nisso.

sorrio e peço desculpas
e você aproveita para saber se é a patroa
e eu digo que não
que a patroa está noutro lugar qualquer
vivendo a vida dela por enquanto,
assim como eu estou vivendo a minha agora,
para, mais tarde, à noite, vivermos a nossa.

ela sorri compreendendo e eu pergunto por marido, filhos,
e ela me conta a história de desde então
e eu ouço com prazer
(sei dos teus três filhos,
do teu segundo marido,
dos teus três abortos espontâneos)
e me sinto inacreditavelmente bem com tudo o que aconteceu
e fico feliz
por saber que eu não fiz parte de nada daquilo
(que foi bom, acredite, foi bom para você e admiro).

conto a minha parte, ou parte da minha parte,
edito para que pareça interessante,
não conto dos desgostos da vida,
os medos que ainda sinto
ou coisas que me tornem um completo humano.

sorrimos compreensivelmente enquanto ouvimos um ao outro
entendendo perfeitamente como a felicidade é relativa.

o telefone toca novamente,
eu devo ir e digo a você que precisamos nos encontrar novamente,
que foi muito bom te ver
(e realmente foi, há anos não nos olhávamos nos olhos)
te passo meus números novos que eu prometi quando nos separamos
(lembra que mentimos um ao outro que não nos deixaríamos ir embora assim fácil?)
pego seu velho número que já não está na minha agenda.

dizemos adeus,
até breve,
apertamos mãos, nos abraçamos,
nos beijamos até.

e, como dois seres civilizados,
nos afastamos sabendo que nunca mais nos veremos
e não se sentindo nem um pouco mal com isso.

Thursday, May 21, 2009

Paraíso das águas.

"da centenário a madalena
aquelas ruas tão pequenas
cidade de um só lugar"

D'Onde as flores têm um parque
até O escravo dos Palmares
grande espaço num só mar.

no porto desembarca vida
de uma forma quase amiga.
paisagem deveras familiar

de ruas de pedras, tão escuras
quanto o mar que reflete a lua
e é de onde sinto saudade.

o farol, que não ilumina
o tabuleiro onde se movem as peças
de um xadrez imaginário,

mostra ao mundo coisas antigas
de tempos de outras feridas
batalhas para se esquecer.

do barro duro, terra ardente,
pés descalços no asfalto quente
me lembram sempre você,

cidade amada, cidade bela,
que deixa na mente seqüelas
do teu belo amanhecer.

As canções.

ouço as velhas canções
que me lembram tempos que vivi
e hoje já parecem tão distantes
quanto aqueles que ainda estão para passar.

espero que as mesmas canções,
as mesmas notas das mesmas melodias
me acompanhem por todo o tempo que eu precisar
e me alimentem com a força que têm,
com o espírito que criam em mim.

as velhas canções antigas,
as de amor e as de ódio,
as que dizem nada
e as que tudo falam,
em melodias rápidas e lentas
com muita ou pouca letra
às vezes nenhuma,
o silêncio.

espero que todos me acompanhem sempre
enquanto for preciso
e, quando eu já não precisar de nenhuma delas,
espero que elas me entendam,
e continuem comigo porque é bom estar junto.

canções de tardes de domingo
frias e chuvosas
canções de segundas feiras de manhã,
com o sol brilhando, torturando todos que ousam pisar lá fora,
todos os tipos de canções,
que elas me acompanhem até o berço onde deitarei e dormirei
por tempos e tempos infindos até que não acorde.

não importaria o que passou até agora
se não houvesse em minha vida
cada uma dessas canções que falo,
que ouço como se fossem somente minhas,
feitas para mim por alguém que me queria bem.

as canções de ontem tornam-se as de amanhã
e as de hoje tornar-se-ão de ontem
para serem minhas um dia, talvez.

um dia terei todas as canções do mundo
e tudo o que vivi fará sentido.

Monday, May 18, 2009

Hss

sob o céu grande e azul,
de nuvens que passeiam procurando por nada
e vão sempre a lugar nenhum,
com o sol grande e gordo,
um grande olho de fogo que nos espia
até o dia em que resolver se fechar,
a vida parece realmente insignificante

e não grande
como costumam assim achar.

o ápice da evolução terreste:
homo sapiens sapiens,
telencéfalo superdesenvolvido, raciocínio, polegares opositores
e armas letais não naturais.

sob o céu azul
eu observo tudo o que acontece
esperando que amanhã o céu continue azul
e não haja 7 palmos de terra sobre os corpos de quem amo.

enquanto o grande astro minúsculo nos observa
e eu, quase me cegando, o encaro,
espero que ele não canse de nós agora
e deixe esse trabalho para mim.

Sunday, May 17, 2009

Todo dia, todo dia.

a cada dia
morre mais
um pedaço
da poesia dentro de mim.

a cada dia
que passa arrastado
uma parte do que já foi beleza
se solta de seu todo
e o abandona
pronta para nunca mais ser vista.

a cada dia,
todos os dias,
alguma coisa no mundo
me faz parar
e, paro cada vez mais,
por cada vez mais tempo.

a cada dia
não há motivos para se dizer coisas.
então, só resta o agoniante silêncio
de quando se quer dizer milhões de coisas
e tudo o que conseguimos
é nos apertar entre pensamentos mortos.

Friday, May 15, 2009

Na porta do paraíso havia uma fechadura, eu tinha a chave.

entre os dois pilares
que o sol pinta com suas belas cores
está o segredo que quero desvendar
e viver por longos tempos nele, com ele, dele.

entre dois dos melhores travesseiros do mundo
encontra-se o sabor que habita meus sonhos
e quase chego a sentí-lo quando fecho meus olhos
e me entrego com toda vontade ao desejo.

entre tuas pernas bronzeadas,
meu bem,
entre tuas coxas grossas,
douradas e desprovidas de pêlos,
está a fechadura do paraíso.

querida, prepare-se bem
porque eu tenho a chave
e quero entrar.

De como o fim, às vezes, é um bom começo.

acontece que
nem todos são feitos para ficarem juntos.

às vezes o bom junto é o bem separado.

não há ninguém escrevendo a nossa história,
enchendo-a com todas as besteiras
que vem quando achamos que há o tal do amor.

acontece que
às vezes o melhor realmente acontece
quando ninguém espera que aconteça, na tristeza, na escuridão.

o mundo nunca parou,
o sol ainda não se tornou vermelho,
ainda não chegamos ao fim de toda a existência.

temos que continuar indo em frente,
indo além do que fomos ontem
e sonhando ir além do que iremos amanhã.

ora, a vida é tão breve para pararmos e ficarmos pensando
na morte de um amor,
no fim de um amor.

porque admito, amor, como tudo nessa vida,
acaba.
acaba antes mesmo do seu fim, acaba quando não se espera,
acaba quando deixa-se de notá-lo como antes se notava.

e a vida não é amor,
se o fosse seria tão limitada.

é mais que isso,
mais que palavras podem algum dia descrever.

Tuesday, May 12, 2009

AB com traço em cima.

entre dois pontos
há mais infinito
que se possa imaginar.

Precisão

preciso de inspiração.
preciso de vontade.
preciso de coragem.
preciso de coisas demais.

queria não precisar de nada disso.
queria nunca precisar de coisa alguma.
queria não precisar de um sorriso.
queria não precisar da voz que me fala.
queria não precisar do calor.
queria não precisar das coisas demais.

Sunday, May 10, 2009

Medo.

tenho medo de o incerto
parecer demasiado certo.

medo de dar certo.

medo de me prender.

medo de me confortar nisso.

é, eu tenho medo é do conforto, da segurança,
da falta de vontade de arriscar depois.

Morte.

eu vou morrer de saudades.
algum dia morro disso.

eu vou morrer de saudades,
mas ao menos morro sorrindo.

Saturday, May 09, 2009

Albendazol.

escondem-se entre becos escuros
e valas cheias de excrementos.
cheiros humanamente insuportáveis
são características de todos os quase homens
e quase mulheres
que ali vivem,

e as quase crianças que eles têm
brincam descalças correndo no lixo,
nadando em esgotos, sempre com um sorriso de alegria
que ilumina tanto quanto o sol, às vezes.

meus olhos se entristecem ao ver tanta coisa
meus ouvidos querem se fechar aos risos
minha boca cala e o nó na garganta é tão forte
que quase não posso respirar.

há tanta coisa triste no mundo,
há tanta imundície, tanta pobreza,
tanta tristeza que... não há o que dizer.

M.

na tv
você parece cantar
velhas canções novas
com tua voz desafinada
arranhando todos os ouvidos.

e você está na tv,
meu bem,
depois de ter me ignorado ao dizer que você era boa,
depois de nunca ter me dado bola,
você faz o sucesso que eu sabia que teria.

mas você já não é boa,
você se perdeu n'alguma das vinte e quatro horas entre o ontem e o hoje.

e acho que nunca mais encontrarás teu caminho de volta.

Thursday, May 07, 2009

Amo tanto.

eu te amo tanto
que queria ser você
e você ser eu
para sabermos como é
amar tanto e tanto ser amado.

Minhas mãos.

o mundo inteiro
azul verde branco marrom vermelho
o mundo inteiro
e todas as suas cores
nas minhas mãos.

o mundo inteiro
com seus céus e seus mares
com seus continentes quentes e gelados
com seus bichos mais estranhos
com seu povo.

e minhas mãos apertando essa laranja,
essa pêra, essa maçã, essa uva.

e o suco escorre entre meus dedos,
a vida escorre entre meus dedos,
o sangue escorre entre meus dedos,
o mundo escorre entre meus dedos.

entre meus dedos nunca existiu nada
e minha mão está vazia.

o mundo parece nunca ter existido
nunca ter estado em minhas mãos
que um dia tocaram a cintura daquela mulher
seguraram as carnes daquela outra
ou tirou o sutiã daquela outra.

o mundo parece não ser tocado por mão nenhuma
e talvez por isso é que ele esteja assim.

Mas

eu não devia te dizer
mas a tua falta
me bate como um cafetão bate na puta que trouxe pouco dinheiro depois de uma noite de muito sexo.

eu não devia te dizer
mas você me conhece e eu não consigo não não dizer.

eu não devia te dizer
que "eu não devia te dizer" é exatamente o motivo de eu estar te dizendo tudo isso.

agora, faz favor,
vamos fingir que eu não disse nada disso
e seguirmos nossas vidas
cada um do seu lado.

Wednesday, May 06, 2009

Beleza que põe mesa.

e eu penso nas músicas que ela me disse
em tudo o que eu devia ouvir
ela me disse que havia tanta beleza naquelas notas
e melodias
que jamais, nunca na vida,
seria capaz de chegar aos pés de tudo aquilo.

só que acontece que ela
com seu sorriso, com seus passos,
com suas palavras e seus pensamentos tão diferentes dos meus
já faz o mundo assumir
certos tons que me lembram
a verdadeira beleza.

O dia inteiro.

a noite inteira passou pelos meus olhos
e eu segui um caminho forçado entre o mundo da luz e das sombras.

há tempos meu verdadeiro lugar não é aqui,
mas lá, onde tudo parece muito menos agradável,
mas certamente machucam bem menos que aqui.

a noite inteira passou e eu não pude segurá-la.
ninguém tem braços fortes o suficiente para isso

logo logo será dia e eu continuarei a não me encaixar
e a cama estará quente e solitária
e o sol brilhará lá fora destruindo todos os sonhos.

o dia inteiro vai embora
sem que eu possa fazer nada
além de viver.

mas isso nunca parece ser o suficiente.

Tuesday, May 05, 2009

Àquela sem pseudônimo, ainda II

eu me pego pensando -
entre um ou outro pensamento besta
sobre como essas músicas me fazem pensar em você -
como é que você está nessa noite
que não faz calor como nas outras
em que minha medula parecia ferver.

eu me vejo louco comigo mesmo por pensar
que alguma hora de algum dia de algum ano
qualquer coisa vá acontecer.

há sempre, sempre sempre, um tanto de sonho
nos meus mais sinceros pensamentos.
há sempre, sempre sempre, um tanto de medo
nos meus sentimentos mais intensos.

e eu jamais poderei esconder de ti qualquer coisa
porque todos sabem que as palavras fogem de mim
pois elas nunca me pertenceram.

eu jamais conseguiria ir embora
quando você segurasse minha mão, me olhasse nos olhos
e dissesse para te dizer o que tem me deixado tão mal
(e eu vou dizer que não há nada errado, que está tudo bem)

e estará tudo bem porque eu sei que você está feliz como está.

nada será capaz de estragar meus dias
mas as minhas noites sempre serão facilmente abaladas
pela constante presença de você.

A verdade, Carlos.

a verdade,
amigo,
é que esse poema
essa canção
esse sentimento
deixam a noite mais fria
que o inferno nas noites de medo.

Monday, May 04, 2009

"Muito tempo livre sempre acaba em poesia"

o verdadeiro problema do mundo:
os amantes dos livros,
os amantes das músicas,
os amantes da arte,
de todas as coisas inúteis.

Tanta coisa.

há tantas coisas
tantas palavras
tantos sonhos
tantas vitórias.

mas parece que
para cada vitória
cada sonho
cada palavra que me faça sorrir
há três que me fazem querer sumir
derrotas e mais derrotas
num eterno pesadelo.

Thursday, April 30, 2009

E agora, quem sou eu?

ela roubou meu caminhão.

e, sinceramente, eu posso ganhar a vida de outra forma.

ela roubou meu caminhão.

o grande problema de tudo isso é que nele estava
meu trabalho,
minha dignidade,
meu amor próprio,
meu senso de ridículo,
meu orgulho,
minha honra
e meus documentos todos:
cnh, identidade e cpf.

Eu te paixono.

eu estou apaixonado
bastante apaixonado
apaixonado o suficiente
para quase te enganar,
quase me enganar.

sim, estou apaixonado,
mas eu não te amo.

e tem sido assim desde sempre
só que antes havia mentiras,
havia precipitações,
havia pressa.

não, eu não te amo
e nem sinto muito,
porque eu estou apaixonado.

Tuesday, April 28, 2009

Àquela sem pseudônimo, ainda.

há o silêncio e,
na alma,
o grito
quase ensurdecedor
de desespero,
agonia e dor,
quase rasga o éter
e toma a realidade.

mas não.

essa é uma noite para resistir,
para fechar os olhos e respirar fundo
para simplesmente evitar-se,
evitar-te,
fugir de cada pensamento teu
que me vem à mente,
de cada sorriso que estou perdendo,
de cada vez que teu lábio não toca os meus.

essa é mais uma noite para se esconder
entre as cobertas e suar frio
e, entredentes não dizer teu nome quente
que quase queima minha língua.

noite de resistência
que passo escondido em meu bunker,
entre músicas e livros do passado
antes de você.

Monday, April 27, 2009

Soneto torto da busca.

na busca pelas pequenas coisas,
os mínimos detalhes,
os sorrisos sinceros,
a gente se perde.

nós nunca mais encontramos
os amores que quisemos
os sonhos que tivemos
as vidas que um dia pensamos ter.

na busca incessante por felicidade
na vida, esquecemos de viver
e nos tornamos sombras.

nos cantos das fotos, nos sorrisos,
é sempre possível ver
que nunca estaremos completos.

Sunday, April 26, 2009

"eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei eu sei"

sei de tanta coisa
que preferia esquecer.

sei de tanta coisa que me faz mal
que o que me faz bem
quase não entra mais na minha cabeça.

Saturday, April 25, 2009

"Canções de amor se parecem porque não existe outro amor."

queria jurar
de pés juntos
joelhos no chão
que eu nunca mais repetirei as palavras
antes ditas.

mas eu sei que é mentira.

e que tudo é uma coisa só.

Eu já sabia.

eu sempre achei as coisas tão certo
sobre o passado
e todas as coisas assim
que agora...

agora eu paro pra pensar:
por que diabos eu não me preparei melhor
para tudo o que ia viver?

eu já sabia
das coisas
e por sabê-las todas
me perdi.

"estás aí, além do oceano? estás aí além do céu?"

não.

O segredo do abismo.

cada verso escrito no escuro
conta um segredo
que tenho medo de ser estragado pela luz.

"O que for, quando for, é que será o que é."

são em noites
de desespero
que encontro
no escuro
a solidão.

em seus braços ela me super-aquece
me subnutre,
mas desidrata.

são em noites quentes
de um outono que nunca vem
que espero por aquilo
que não sei o que é,
mas sei que nunca vai chegar
como espero que venha.

é engraçado pensar em tudo.

é de arrancar lágrimas
lembrar tudo o que não foi
tudo o que não é
tudo o que não será.

é triste lembrar do passado
e saber que é só lá
que ele permanece.

e só nos resta aceitar
cada fato dessa história
porque se não fosse assim
de nenhum outro jeito seria.

"e tô rezando pra você ficar na merda."

porque a vida...
a vida é mesmo uma piada
e se a gente não achar graça...
se a gente não achar graça
a gente fica sempre na merda.

Friday, April 24, 2009

Sobre ser uma esponja.

jamais ficarei preso no céu.

prefiro cair a ficar para sempre preso n'algum lugar.

Sobre pensar...

eu penso
em todas as coisas que foram,
em todas as que não foram,
todas as que poderiam ser
se houvesse vontade por algumas partes
por metade delas
ou por ambas.

eu penso demais
e acabo perdendo o tempo
que deveria gastar fazendo.

Thursday, April 23, 2009

Fogo e cinzas.

às vezes há o fogo
que queima tão forte
e brilha tão forte
que só podemos observar de longe.

às vezes há apenas o fogo
queimando tudo aquilo que um dia amamos.

e cada lembrança,
cada pensamento,
serve de combustível.

às vezes há cinzas
e, delas, não se pode tirar nada,
nelas nada restou.

e quando há somente cinzas,
não temos mais nada.

talvez, então,
sejamos livres
ou eternamente prisioneiros.

quase sempre a escolha é nossa.

quase sempre...

Tuesday, April 21, 2009

O preço das coisas.

nada é de graça
como a gente pensa que é.

nada é completamente livre
como a gente acredita que certas coisas são.

sempre há uma corrente a nos prender.

tudo tem um preço.
inclusive
eu e você.

Monday, April 20, 2009

De lado a lado são muitos anos luz para se atravessar.

a mão passeia no ar
lentamente
de um lado para o outro
um leve e lento gesto de adeus:
dedos se agitando devagar
dizendo para nunca mais voltar.

o cotovelo apoiado no braço cruzado sobre o peito
os cabelos caindo sobre os olhos
que se escondem para nunca mais se mostrarem
e já não há cheiros a essa distância,
já não há vozes.

não há um sussurro final,
não há uma lágrima de saudade,
é arrependimento e alívio
que chegam a criar um leve sorriso
no canto dos lábios.

agora,
como sempre foi e sempre deveria ter sido,
há distância
e ela é maior
que entre as extremidades do universo.

Irmãzinha.

você me diz segredos no ouvido
e teu cheiro me vem
como a primavera,
devagar, sem se notar,
mas enchendo o lugar de coisas
que antes não estavam lá.

você me faz dizer coisas
no teu ouvido
que ouvido nenhum nunca antes havia esctuado,
faz com que eu diga verdades
que eu guardava a sete chaves,
faz com que eu confie.

você até chega a me dar beijos
e jurar-me amor por tempos e tempos
e eu, na minha empolgação,
na minha tolice, juvenilidade,
acredito em cada promessa feita sob a luz fluorescente
do quarto trancado,
na noite escura e quente.

então, você pede pra que eu me enrosque em você
que você quer me sentir perto
e eu jogo minhas pernas por cima das tuas,
te seguro pela cintura,
beijo tua bregma
e, sem notar,
te digo que te amo.

eu sou fraco
e você me explora,
é sempre assim.

eu não consigo não dizer que amo
quando o faço,
depois que aprendi que falar
é melhor que calar,
porque assim as dores têm motivos...
a vida tem seguido de forma confusa.

você me diz
que não tem mais tempo
que não tem mais espaço
que não tem mais nada...
você diz tudo isso para mim,
que te deu tudo isso,
tudo o que você não tem...

eu sei agora que
o que você nunca teve, amor,
foi amor.

Saturday, April 18, 2009

"dor não cura com penicilina."

mas como ela é sempre causada
por aquilo que deve ser eliminado,
logo logo vai embora.

Cansado.

estou cansado

de novo

de tudo isso
de todo mundo
falando o que quer
o que acha
o que pensa.

como se importasse qualquer coisa dessas,
como se eles fossem algo.

estou cansado
de saber que todos são nada e
que no fim
não importa.

Intolerância.

há o desprezo

há o saber que,
no mundo,
existe tanta coisa que não melhora,
que não serve.

há a confusão,
no entanto,
entre todos os que acham que há valor no lixo,
que há beleza no nada.

há todo um mundo diferente do meu.

e cada um pior que o outro.

Thursday, April 16, 2009

Casamento.

lembra da noite em que eu pedi
pra você casar comigo?

depois de te ouvir dizendo não,
brincamos a noite toda debaixo dos lençóis.

você lembra da manhã seguinte?

nós nos olhamos bem fundo nos olhos
e vimos que logo tudo estaria diferente.

a culpa não era de nenhum de nós,
mas ambos a sentíamos.

O defeito.

você é linda
e sabe disso
e tem um corpo
sensacional,
você sabe disso.

e você sabe
de boa parte das coisas
que as pessoas normais querem fazer com você

mas eu quero tudo isso e mais.

coisas que você entende, mas nunca pensou
que fossem querer algum dia
fazer com você.

coisas que não se explica assim fácil.

você é linda,
e tem um corpo
que faria muitas cabeças virarem pra te acompanhar andar.

mas tem algo em você
que me lembra perfeição.

Segredos de liquidificador.

eu te digo
no ouvido
qualquer coisa sobre amor

e você ri
quando beijo o seu umbigo
e falo que você tem gosto de pêssego
num pôr do sol de agosto.

eu sugo tua língua,
mordo com força
enquanto você passeia por mim.

eu vejo teus olhos tão negros
e penso em como a noite me agrada
quando tem muitas estrelas no céu.

eu toco o teu corpo
com a ponta dos meus dedos
sinto o calor e a umidade.

entre os lençóis,
nossos corpos,
entre nossos corpos,
todo o espaço.

tudo o que é necessário,
tudo o que é inútil,
toda a vida,
tudo, tudo, tudo
está nas coisas
que digo
ao teu ouvido.

A música.

eu revejo a cena
reouço a música que tocava
enquanto o mundo todo estava lá fora
vivendo.

e eu quase rio,
eu quase choro,
eu quase penso em pensar querer alguma coisa,
alguém.

mas daqui a pouco menos de 3 minutos,
nada disso estará como está.

e será o fim.

Wednesday, April 15, 2009

Confissões de um super herói.

eu sou um herói
que tem apetrechos e capa,
cueca por cima da calça,
pronto para salvar.

eu sou só um louco qualquer
que pula de teto em teto
esperando, torcendo, rezando,
para n'algum deles te encontrar.

sei voar além de onde
os olhos possam alcançar,
estou aqui, estou ali,
estou em todo lugar.

eu sou de aço:
ferro e carbono,
em proporções tão desiguais.

tenho em meus braços
tanta força
que mal posso me conter

por isso vivo sempre por perto
da minha fraqueza:
você.

Monday, April 13, 2009

Mas o que tenho é nada, o que tenho é pouco, o que tenho é a Morte.

não são teus olhos castanhos
que às vezes ficam tão escuros
quanto o céu de uma meia noite sem luar
que me fazem falta.

nem quero os teus lábios rubros
tocando os meus para matar a sede de toque que tenho.

não quero tuas mãos frias a despertar calores
em meu corpo.

não quero tuas palavras ao meu ouvido
porque elas não me fazem falta.

o que quero, meu bem,
o que quero como, creio eu,
nunca quis mais nada na vida,
é o frio, o medo e a insana vontade de sempre mais
quando se tem quase tudo.

eu quero o amanhã e o agora,
eu quero o ontem como se não tivesse passado,
quero, sem dúvidas, ter todos os sentimentos
e o conhecimento,
quero a vida.

Saturday, April 11, 2009

Eu vejo o que vejo e só penso em sorrir.

e eu rio e rio e rio.
e há um rio de risadas fluindo até o mar.

Thursday, April 09, 2009

"não vê que o mal passou e só nos resta ser feliz?"

cada um com seus sorrisos,
cada um com suas lágrimas.

eu no meu canto e você no teu.
porque entendo que é pro bem.

Wednesday, April 08, 2009

À mulher dos sonhos, das noites e das distâncias.

em seus olhos posso me perder por dias,
navegar num infinito de possibilidades
e, quem sabe até,
me sentir bem.

observo como vai guiando a vida,
porque ela é uma criatura estranha
que merece ser estudada,
além de ser linda de se olhar.

em seus lábios estão as palavras que não se espera escutar
e os lábios que não se espera encontrar
mas sempre parece dizer exatamente o preciso.

e eu poderia dar mil razões para me justificar,
quanto ao que sinto por essa garota tão estranha,
chamá-la de especial ou coisa que o valha não seria,
jamais, o bastante.

a verdade é que não dá para não amar fernanda.

Tuesday, April 07, 2009

De quando tudo nunca é o bastante.

quando se tem tudo
tudo se perde.

quando se tem nada
nada faz sentido.

quer-se tudo o que se quer
para assim ser feliz quem quiser,
mas...

as coisas não funcionam bem quando a vida é assim.

O veneno era doce.

porque o que você me deu
nunca foi forte o bastante
para fazer qualquer efeito.

Monday, April 06, 2009

Sunday, April 05, 2009

Silêncio.

ela cantava as canções de sempre
só que dessa vez
ao meu ouvido.

e isso mudava tudo,
mudava o mundo
e dava cores ao cinza que pintava os céus.

ela sorria quando me via
e eu pensava que até podia
ser algo bom tudo aquilo.

e ela também me fazia ter vontade de cantar,
de escrever coisas novas e coisas belas
de compor as músicas que nenhum de nós ouviu ainda.

ela dizia ao meu ouvido coisas
que já foram ditas por outras pessoas que diziam o que nós dizíamos
mas agora é que tudo parecia fazer sentido.

é sempre assim.

só que as músicas não duram para sempre.