Tuesday, March 31, 2009

"Nada permanece inalterado até o fim."

eu não daria mais nada
por ninguém porque não há nada
que se possa fazer
pelas coisas.

o que é torto é torto, feito torto,
e não que eu não sinta a imensa vontade de endireitar
o que a meus olhos está errado,
mas nem sempre o bom é o melhor.

e mesmo que não toquemos
as coisas para que elas mudem,
elas mudam.

mas não daria nada por essas mudanças.

Amor:

"um conceito pelo qual medimos nossa dor."

"e é assim que eu gosto, beibe."

porque eu quero viver para sempre.

Monday, March 30, 2009

Espelho.

olhou para o espelho
e só viu o que havia lá.

viu o desespero,
o medo, a aflição,
viu todas as dores,
todas as decepções,
todos os dias iguais.

olhou para o espelho
e não viu nada que não estava lá.

Sunday, March 29, 2009

Das coisas que preciso, atualmente.

preciso parar de falar
como se sempre fosse entender o que quero dizer
depois de dias, semanas, meses.

preciso parar de falar em códigos
comigo mesmo
porque eu me perco, eu me esqueço,
eu me enrolo,
me enrolo.

preciso parar de dar nomes a coisas que jamais tiveram
e de dar nomes novos ao velho
ou simplesmente dar nomes a coisas
que podem muito bem passar sem nome.

preciso parar de silêncios
e preciso parar de falar.

O problema.

o problema em se apaixonar perdidamente
é que não há placas ou sinais
quando queremos nos encontrar.

Aparências.

os lábios dela encostavam sua orelha
e contavam segredos
que ele poderia passar sem.

os olhos dela contavam verdades
que ele poderia viver sem.

a vida dela era
inteira
uma coisa que ele viveria muito bem sem.

mas não era assim que parecia ser.

Saturday, March 28, 2009

E é inútil esse tipo de fuga.

desenhos e cartas
e perfumes e ex amores
queimam dentro de uma lata enferrujada

e as labaredas estalam suas línguas
que lambem os lábios que criei para que
você pudesse falar comigo sempre.

os olhos pintados de castanho tornam-se cinzas,
a caneta se apaga para sempre
e tudo o que era branco, tudo o que havia lá,
some no calor.

o vermelho, amarelo e azul devoram tudo
com imensa fome,
devoram braços, pernas e órgãos,
devoram corações e baços,
mas não queimam as lembranças.

Friday, March 27, 2009

Morre-se aos poucos e se vive de uma vez.

o ar falta aos pulmões
e, quando há o esforço para respirar,
os olhos se abrem com tamanho espanto
que conseguem enxergar finalmente.

vê, então, o céu azulado que quase esquecera
e as nuvens brancas formando figuras
e o sol emanando suas luzes à sua retina
formando as últimas figuras a serem vistas.

as duas esferas fecham-se para nunca mais abrir
e não há mais nada que penetre seus alvéolos
e as últimas gotas de sangue vivo jorram em suas veias
e seus pensamentos se perdem na eternidade,
a vida cessa de uma vez.

são 15 horas de um dia qualquer
e as sombras se criam entre becos,
onde crescem livremente e se alimentam de tudo.

o cheiro de frutas apodrecendo empesta o ar
e é tudo o que se consegue respirar.

entre gemidos e estalados beijos,
uma mão fria toca um corpo quente,
um grito de medo e uma breve atenção
e encontra-se o corpo estirado ao chão.

ninguém sabe ao certo como se deu a morte,
suicídio, assassinato ou a tão natural sorte.

foi enterrado sem nome,
numa noite abafada de outono,
nunca houve flores em seu túmulo,
nenhum amigo para sentir sua falta,
nenhuma mulher para chorar as lágrimas das amantes.
seus únicos visitantes
eram ocasionais baratas, ratos e rastejantes.

a morte lhe veio como nos vem a todos,
sem aviso prévio.

mas, diferente do que se pensa,
ela vem aos poucos.

Wednesday, March 25, 2009

Borboleta.

todos que você ama
todos os que você odeia
todos os que você esquece
e todos aqueles que você lembra.

os homens com quem se deitou
as mulheres que você não beijou
as verdades que você não disse
e as mentiras que você sempre contou.

os jogos que você jogou
os livros que você já leu
as canções que você cantou
e tudo o que já escreveu.

há marcas na história do mundo
que mostram que tudo o que se faz
repercute em outro lugar.

nada passou em branco.

Tuesday, March 24, 2009

Aos poucos.

abria os olhos
para ver o que não queria
ouvia sempre
o que nunca desejava

e assim seguia
a vida de quem não tinha vida.

e, na cama, todo dia,
antes de dormir,
pensava em tudo aquilo
que queria evitar para si.

assim tinha os pesadelos
que faziam sua vida parecer melhor.

o sol sempre se punha
à sua esquerda
enquanto escrevia as cartas
e poemas que ninguém leria.

e os trancafiava em envelopes
que seriam digeridos pelo tempo.

enquanto no céu brilhasse uma estrela
não conseguia fechar os olhos
com medo de, ao abrí-los,
perdê-la para sempre.

por horas e horas viravasse na cama
suando, sangrando, chorando.

e quando o sol aparecia,
iluminando seu lado fraco,
sentia a dor, sentia a fraqueza
sentia a morte chegando aos poucos.

estava mais preparado para a morte que para a vida
porque agora ele sabia que algo vinha.

aos poucos, mas vinha linda em seu vestido negro.

Sunday, March 22, 2009

As moscas.

por trás das moscas
brilha um sol
que não me toca
porque as moscas me envolvem
como um cobertor,
uma segunda pele,
uma proteção.

por trás das moscas
está o belo sol
a bela vida,
mas as moscas não me deixam tocar nada disso.

Tendências.

tendo a caminhar
por caminhos escuros
porque o perigo da vida
sempre me atrai
para perto do fogo
que queima as asas da mariposa.

tendo a gostar
das coisas que podem fazer-me mal
porque antes de todo o dano
far-me-ão bem
como a droga que mata
pouco depois do prazer.

tendo a desejar
o que, ao ser desejado,
torna-se perigoso,
causando imensos estragos,
como velhos amores que findam
ou novos amores iniciados.

Friday, March 20, 2009

Iluminado.

em noites tão escuras
quanto essas do meu mundo
há um velho solitário,
mais um pobre vagabundo

que em dias tão sumidos
quanto o brilho dos seus olhos
esconde-se entre as ruas
e nas putas tem outros corpos.

tentando sempre esquecer o que passou
tentando sempre esquecer o que viveu
tentando sempre esquecer o que restou
tentando sempre esquecer...

pra não lembrar de coisa alguma
esqueceu
de quase tudo aquilo
que um dia foi só seu

agora já não tem mais
o que guardar pra si
beija a garrafa
que só traz pra ele o fim.

quase fazendo esquecer o que passo
quase fazendo pensar que ele viveu
quase fazendo acreditar que adiantou
quase fazendo ele lembrar...

Wednesday, March 18, 2009

Seis.

entre capas e espadas
estamos nós
reunidos para nos alegrar
em tardes que poderiam ser tão tristes.

cantamos histórias
de reinos distantes
contamos os feitos
de desconhecidos errantes
e, no fim de tudo,
honramos a nós mesmos.

rolam os dados
e não importa o resultado
o que tiver de ser,
será.

Monday, March 16, 2009

mentiras.

tuas mentiras não são tuas mentiras
tuas mentiras não parecem com o que elas costumavam ser
e eu queria bem saber:
o que foi que aconteceu?

tuas mentiras não são mais tuas
como um dia talvez tenham sido minhas
e eu só queria saber:
quando foi que mudou?

De quando você me trocou por ela.

escuto sozinho
as canções que você não quis ouvir comigo
porque estava ocupada demais
vivendo a tua vida.

leio o trecho de livro
que eu queria ler pra você
mas jamais o farei
porque você sempre estava longe de mim
vivendo a tua vida.

sofro com o calor
que eu queria sofrer com você
e nunca poderei
porque você não está mais por aqui.

e, às vezes, eu penso que talvez eu tenha te dado liberdade demais
e por isso você foi embora com ela.

às vezes acho que você escolheu tudo isso
quando entrou naquele carro
depois de tudo o que aconteceu,
depois de eu pedir para você esquecer e ficar.

às vezes acho que tudo foi minha culpa
por não ter te parado.

então percebo que eu ter feito você ficar
não faria ela não vir,
só a traria ainda mais perto de mim
e o peso da culpa ainda estaria nas minhas costas
só que de uma forma diferente.

eu não estava lá,
mas posso ver,
sempre pude ver, desde quando soube,
sua pupila se tornando um ponto negro
se adaptando a toda aquela luz súbita.

por um momento eu acho que você não sabia o que estava acontecendo,
então soube e entendeu e se sentiu bem.

você percebeu que minha mão não era tão boa de segurar quanto a dela
que te prometia a eternidade,
enquanto eu mal podia te dar o amanhã.

Das coisas que existem entre dois seres humanos.

há o silêncio
e ambos sabem que isso não é bom
quando olhares não falam bem por si.

há a distância
e ambos sabem que isso não é bom
quando os gestos não significam o que deveriam.

há o medo
e ambos sabem que isso não é bom
quando o amor já não se mostra tanto.

há a insegurança
e ambos sabem que isso não é bom
quando já não se entende o outro tão bem.

há a derrota
e ambos sabem que isso não é bom
porque nunca é bom perder nesse jogo.

ambos sabem que nada disso é bom
porque, por mais que seja possível novos começos,
há o fim.

Sunday, March 15, 2009

Ponto.

eu te vejo daqui de cima
e você não passa de um ponto.

um lindo ponto
que se move lentamente
pela superfície do planeta.

eu te vejo daqui de longe
do meu planeta longínquo
e você não passa de um mísero ponto.

um ponto frágil e ridículo,
que eu não perceberia
se não soubesse que era você esse ponto.

daqui de cima
eu vejo você como um ponto,
que muitas vezes me incomoda
que muitas vezes deveria não existir,
mas existe, está ali,
sempre ali, em algum lugar
e esse ponto que às vezes me faz mal
jamais poderei apagar.

Vida

eu não devia gastar tanto tempo
pensando em você.

eu não devia me preocupar
tanto em imaginar
como você vai estar
em todos os momentos
que não são o agora.

eu não devia.

mas eu sempre faço as coisas erradas
mesmo quando estou fazendo tudo certo.

Saturday, March 14, 2009

"Pedro, onde 'cê vai eu também vou."

até meus joelhos cansarem
até meus pés sangrarem
até que deitar no chão
limitado pela dor.

sigo até onde não mais der
e ainda depois.

Friday, March 13, 2009

antieu.

se eu fosse o pássaro livre
que voa cortando o céu
com suas asas leves
e seu canto suave,
você seria a pedra,
a atiradeira,
o sorriso de prazer por me ver caindo.

se eu fosse um rei
de um lugar qualquer
com ou sem magia,
onde tudo existiria em paz
até que não mais,
você seria a pólvora,
o veneno,
a traição.

se eu fosse o começo de tudo,
o segredo da vida,
mestre do universo,
senhor da sabedoria,
você seria a morte,
a ignorância,
o próprio fim.

Thursday, March 12, 2009

Os fantasmas se divertem.

é noite
e os fantasmas brincam no sótão.

gritam, arrastam cadeiras,
fazem sons que gelam a espinha.

é quase dia
quando os fantasmas resolvem que eu não vou dormir
enquanto eles estiverem aqui
e gritam ainda mais alto,
cantam músicas do passado,
coisas antigas sobre o coração.

o sol nasceu
e os fantasmas foram embora
agora é hora de viver a vida
ou dormir até o próximo ataque.

há dias não sei o que é viver.

MJ vai-se embora, vamos juntos com MJ.

vamos embora daqui
para bem longe
onde não há estrelas
ou luz
ou céu.

vamos embora daqui
porque já é nossa hora
e tudo o que é bom acaba.

depois do show do máicou,
vamos embora daqui,
porque será o fim.

peguemos uma estrada
dessas que nos deixam em qualquer lugar,
beira de estrada,
eu, você e a mata.

vamos embora daqui
mas um dia vamos voltar
porque tudo o que é bom volta.

Wednesday, March 11, 2009

Panamá.

você me vê sonhando
e não sente nada porque não é você.

você me vê chorando
e não se comove porque não são suas lágrimas.

você nunca ligou pra mim
então porque me sinto assim?
eu quero que você se vá
em algum trem pro panamá...

você me ouve falando
mas não entende nada do que eu digo

você me vê te amando
e não diz nada para eu não te amar...

você nunca se importou
então por que é que mudou?
eu não devia mais ligar,
para sua vida no panamá...

Tuesday, March 10, 2009

As vezes.

às vezes somos os maiores inimigos de nós mesmos.
às vezes trazemos à tona fantasmas
que não nos visitariam se não nos lembrássemos.
às vezes pensamos em coisas que o melhor seria evitar.
às vezes achamos que tudo no mundo é culpa nossa.

Monday, March 09, 2009

Arrependimento.

dar um mundo,
que muitas vezes é seu próprio,
a alguém que nada disse,
a alguém que só estava ali
ao seu lado
é uma das maiores tolices dos homens.

é ruim o gosto da lágrima perdida
porque ela vai embora para nunca mais voltar pra nós,
sem jamais subir as bochechas e voltar a seus ductos
sem sumirem com o que quer que as tenha criado.

é ruim o gosto do arrependimento,
marcando nossas papilas gustativas das piores maneiras.

ps.

na hora,
só emoção.

faltando a razão
que vem pesando depois
causando dor de cabeça
dores na alma,
arrependimento.

Saturday, March 07, 2009

Quase alguém.

entre corpos vivos e carcaças
eu me perco sempre a vagar
e não, não há cachaça
que eu beba que seja capaz de afogar
as mágoas, lavar a alma, enxaguar a dor.

entre copos de vidro e de plástico
eu quase encontro alguém,
um vulto que se move do outro lado
e quase me lembra de quem
quase me faz pensar
em quase lembrar de você.

Desvalor.

nem toda lágrima derramada
cai por algo que valha a pena.

Eu.

tanta tanta tanta gente
que nem sei o que dizer.

tanta tanta tanta gente
que nem sei o que pensar.

tanta tanta tanta gente
que nem sei o que sentir.

tanta tanta tanta gente
que um só nunca importou.

Wednesday, March 04, 2009

Números.

dois dividem a mesma cama,
os mesmos lençóis,
as mesmas horas,
os mesmos momentos,
os mesmos dias,
os mesmos anos,
os mesmos sonhos.

dois dividem entre si
coisas que dois não dividiriam com outros.

dois dão coisas entre si
que jamais dariam a outros.

(mas nenhum dos dois jamais pediu isso abertamente)

dois dão o coração
dois dão carinho
dois dão atenção
dois dão paz
dois dão amor
dois dão esperança.

dois se decepcionam ao perceber que
um dos dois não quer mais ser dois,
sente falta de ser um,
quer ser três, quatro ou só dois,
um dois com um terceiro
aí dois se dividem,
torna-se quase que nada.

então um chora,
um lamenta,
um geme,
um nega,
um se enfurece,
um odeia,
um barganha,
um implora,
um se humilha,
um quer morrer,
um não vê jeito,
um aceita,
um segue.

um tenta ser dois porque não consegue se divertir sendo um.
porque um e um nem sempre são dois.
às vezes são só um e um
e nada além.
ser um é estar sempre só,
no meio de vários uns.

um tenta ser dois mais uma vez,
porque sente falta de ser dois,
enquanto seu antigo dois já é quase três.

mas um segue,
um tenta,
um corre atrás,
um cansa,
um aceita ser um por um tempo porque vê que ser um nem é tão ruim assim,
um cansa,
um corre atrás,
um tenta,
um segue.

até que um seja dois, um seja dez, um seja cem.
mas um sempre será um
e todo o resto sempre será divisível.

Sombras.

o sol bate em nossas costas,
cria sombras que são maiores que nós.

mas quão maiores que nós
são as nossas sombras?

quanto da escuridão que agüentamos
elas podem alcançar?

quando é noite escura
as sombras se deitam
e nós temos que suportar tudo sozinhos.

Motivos.

não há motivos para sorrir,
seguir,
amar,
chorar,
viver.

mas a gente vai sem eles
porque assim
a gente consegue se divertir.

Monday, March 02, 2009

Alguma coisa.

alguma coisa em teus olhos
alguma coisa em tua boca
alguma coisa em teus traços
alguma coisa em você toda.

sempre há alguma coisa que me faz pensar
que há alguma coisa em você
que não sou capaz de explicar.

Mari...

eu não sei há quanto tempo
o sol lá fora resolveu brilhar
para, teus e nossos, dias iluminar,
não sei não.

e há tantas coisas que eu não sei
sobre você, nós,
a vida, meu bem...
tanta coisa há que em você
que, para mim, é puro mistério.

é na penumbra,
usando as sombras a teu favor,
que você me aparece sempre
com um meio sorriso,
assim meio tristonho,
meio choroso,
meio alegre e
me diz qualquer coisa que eu nunca entendo
até que seja a hora exata de se entender.

é com o tempo que
teus lábios finos,
teus sinais notáveis,
são, por mim, compreendidos.

e toda noite
eu penso em como seria bom
ter sempre o tempo para você.

Sunday, March 01, 2009

"Que não seja imortal, posto que é chama."

há uma fogueira
onde queimamos o passado
para ver na fumaça o futuro.

desenhá-lo com cinzas
e pintá-lo com o tempo.

há uma fogueira feita
com tudo o que todos foram
e ela queima e queima e queima,
sempre queimará
porque nunca falta ar,
nunca falta vida para a ela
alimentar.

há uma fogueira
que queima com fogo divino,
lindo,
um fogo que atrai
e destrói.