Saturday, August 29, 2009

Tênis.

teus tênis sujos abandonados no chão
espalham o barro e a saudade por toda a casa.

há coisas de você que eu não lembro,
por mais que eu queira lembrar,
mas há outras, no entanto,
que jamais saem da minha cabeça
e, às vezes, me vejo perturbado por isso.

tua calça, tua blusa,
tua calcinha sobre uma cadeira
me fazem pensar
que você nunca chegará para se vestir e sairmos.

há coisas que lembro demais
como o teu gosto numa manhã de sábado
ou o sal da tua pele descendo para a comida,
deixando-a salgada, mas não ruim,
jamais ruim.

teu quintal, tua cozinha, teu quarto
me vêm à mente sempre que nada mais vem.
mas eu sempre tento fugir
das lágrimas e da tristeza,
tento afugentar tudo com um sorriso.

os lençóis, o frio, meu corpo no teu,
tentando deixar o mínimo de espaço entre os dois
e teus comentários maldosos sobre quem eras
e sobre como se sentia.

não sei o que nos dava,
mas nos fazia um mal tão grande
que por uns tempos parecia até bom.

os olhares, o silêncio, as vontades demonstradas
lembro até hoje de boa parte das palavras
de boa parte das ações
e, de vez em quando sonho com elas.

hoje não quero fugir de você,
quero sorrir como sorrio quando lembro,
sentir a alegria de ter vivido
e parar de pensar em tudo o que não vivi,
não vivemos.

teus tênis sujos, antes de serem esquecidos no chão do quarto,
deixaram teus passos na minha mente.

e não há o que se fazer para mudar. apenas sorrir e seguir.

"é o fim do mundo
como o conhecemos
e eu me sinto bem."

A promessa.

entre os lençóis
promessas foram feitas,
juras de amor formadas.

fora deles,
descumpridas, esquecidas.

Dentro do coração, o amor.

um dia
raimundo virou para maria
e disse
"meu bem, meu bem,
é por isso que o raimundo nunca vai se acabar."

ela olhou para ele com um olhar de dúvida.
não entendia nada.

"por que isso,
homem de deus?"

ele a puxou para perto,
pela cintura,
e disse olhando-a nos olhos,
mas quase não os vendo:

"porque, mulher,
se acabar, acaba o amor,
e esse daqui vai durar."

Nuvem passageira.

como num sonho,
você me chega,
meio translúcida,
meio inteira,
e me diz que eu não devo esperar,
a vida é curta demais
para só amar.

quando o sol nasce,
você se vai entre raios de luz
e o som de ondas quebrando na praia.

teu gosto quase sumindo da minha boca
e os passos sendo levados embora.

o vento bate em meu rosto
então abro os olhos...
você nunca esteve comigo de verdade,
você foi um dia sem nuvens.

Friday, August 28, 2009

se você for, eu quero ir com tu.

hoje eu falo tudo o que falo a alguém que não existe mais,
aos meus fantasmas e meus medos,
ao eterno silêncio que envolve cada palavra.

hoje eu clamo amores que não são reais,
sentimentos que não são reais,
uma vida que não é real.

e para quê?

para que uma hora eu consiga aprender a viver assim,
para que em algum momento eu me sinta bem vazio,
bem sozinho,
até que alguém me convide para viver a realidade,
até que alguém me diga para arrumar minhas coisas e ir
porque é tarde e há muito tempo que não vivi,
mas ainda há muito para viver.

e irei.

"não posso sentir cheiro de lasanha."

hoje eu evito sentir o cheiro
de tudo aquilo que me lembra você.

"as canções mais nervosas que o mundo há de ouvir."

meu amor por você
é a essência de tudo,
da melodia da alma,
da beleza da vida,
da tristeza vivida
e da alegria perdida.

Wednesday, August 26, 2009

a minha ana.

a minha ana tem os olhos
mais negros que a terra já criou,
a boca mais vermelha que o inferno já pintou
e o balanço mais perfeito que desceu do paraíso.

Tuesday, August 25, 2009

Todas são iguais.

e eu bem podia gostar de todas,
mas eu gosto é de você.

das coisas que você é quando é o amor.

você é o amor
de uma forma que eu não conheci,
o amor que talvez perdi.

você é o amor
que, para mim, nunca existiu,
o amor mais lindo que anil.

você é o amor
que um dia não tive para mim
o amor por ouro, prata, marfim.

você é o amor
que me deu febre, suores, dores,
um amor de todas as cores.

você é o amor
que eu nunca soube explicar
amor que, pensei, sempre estaria por lá.

mas você foi amor que chegou
e agora não quer mais ir.

marcou território,
urinou em meu jardim.

você é o amor
feio um cão que vem do inferno
e aguarda cada segundo com ansiosa calma.

você é o amor
que me arranca a alma.

Saturday, August 22, 2009

Unilateral.

você me dá a mão
e pede para que eu nunca te solte.

mas eu te estendo a mão,
esperando uma ajuda
que nunca vem.

Friday, August 21, 2009

Beibe morfina.

ela podia controlar os dias
e as noites
os invernos e os verões.

ela podia controlar cada sonho de cada noite.

e devo dizer que ela me deu muitos pesadelos.

Bj.

eu olho pra ela
com seus olhos brilhando
como duas estrelas no céu da madrugada
o cabelo caindo sobre sua testa
e os lábios suavemente se movendo
e penso em como seria maravilhoso
guiá-la até as portas do inferno
enquanto ela me faz enxergar anjos
e ouvir cânticos.

Crepusculando.

ela era como o entardecer
linda, confortável, poderosa
e passou muito rápido.

Wednesday, August 19, 2009

Aquela mulher.

era como sonhar
com uma montanha
um raio
um cavalo.

era como sonhar que era capaz de voar
acima de tudo e todos.

era impossível, inesquecível.

A manhã seguinte.

estar com ela
é como...

sabe quando a gente tem um dia bom,
muito bom,
e ele chega ao fim
e a gente fica triste porque o dia foi muito bom?

estar com ela é acordar no outro dia
recebendo um boquete.

Tuesday, August 18, 2009

Adeus, Maria da Flor.

com ela tudo se resumia ao sexo
e às drogas
e a toda a vida que ela não viveu até então,
mas queria viver.

não havia beleza
nem alegria
nem amizade
havia ela e o mundo inteiro de desconhecidos
prontos para virem e irem
como ela vinha e ia na vida de todos.

ela que sorria um riso vazio,
como os olhos que ela tinha,
sem brilho.

ela que dizia
que não tinha tempo
nem medo
nem sentimentos...

ela que vivia
ao extremo.

acabou por ir embora
sem viver o que queria,
sem sentir o grande embrulho
do presente
que é o amor.

ela, que numa noite escura,
subiu aos céus e desceu
como alguns quilos de chumbo,
com o manto de morfeu.

ela que foi minha amiga,
minha amante, minha irmã,
foi para além do horizonte,
o reino do amanhã.

queria um dia revê-la
e que ela mostre para mim
o riso que ela nunca deu
e sinta o amor que nunca sentiu.

mas sei - e me entristeço -
que outra vida não virá,
que o sábio é viver o que temos
com o que temos...

Quente e úmida.

a tua língua
parece a língua de fogo
a língua que arde
a língua que queima.

a tua boca
parece uma fogueira,
parece um forno,
parece um inferno.

e é nela que quero passar a eternidade.

Tríade.

a tua cama,
o doritos
e o amor.

Sunday, August 16, 2009

O sangue que corre.

eu tenho que te dizer,
meu bem,
uma coisa que me acontece:
toda vez que eu te vejo,
toda vez que eu sinto o teu cheiro,
minha calça fica apertada.

Estanque.

entre todos nós
caminha sem ser percebido,
em um silêncio que devora,
que amedronta.

e ele se alimenta
de tudo o que há na alma,
dos medos, temores, raivas, rancores.

entre todos nós
caminha sem ser notado
e arranca dos peitos
a esperança de um dia mudarmos.

Friday, August 14, 2009

Aluga-se

saiu pela porta sem nem olhar pra trás
e tudo o que se ouviu foram ecos de uma tranca
se fechando,
trancafiando no passado as lembranças que existiriam daqui a anos.

numa caixa havia retalhos
de uma época de sorrisos e de alegria
que não mais voltaria
porque pertence a outros tempos.

o álcool, o fósforo riscado,
o fogo lambendo sorrisos e abraços.

um lar em pedaços não é um lar,
o coração não está mais lá e jamais voltará.
um lar em pedaços é tudo o que sobrou:
coisas numa caixa em chamas e uma casa com uma placa de aluga-se
vende.

Tuesday, August 11, 2009

Como eu queria.

"duas almas perdidas
num aquário de peixes
ano após ano."

04:05

a solidão,
o silêncio,
e os pensamentos dos quais não se escapa:
isso forma a madrugada.

Mentiras, mentiras.

todas as vezes em que abres os lábios
mentiras escapam.

todas as vezes em que fechas os olhos
mentiras escorrem.

todas as vezes que estás com alguém
mentiras se fazem.

todas as vezes que teu corpo se move...
mentiras crescem.

Como ela é.

os olhos molhados, cheios das lágrimas que teimam em cair
todas as horas ao longo dos dias,
me lembram céus cinzentos, mares bravios, tormentas.

não há calma nem paz nem amor
não há tranqüilidade nem carinho nem felicidade.

em seus olhos há morte,
tristeza.

seus olhos mostram a todos o que enxergam:
a vida de verdade.

Monday, August 10, 2009

Luz e Escuridão

no escuro, os teus olhos negros,
parecem dois vórtices sugando toda a luz.

no escuro, tua boca toda
parece a coisa mais bela que eu já vi.

no escuro, você é o que meus sonhos sonharam,
o que meu desejo desejou.

no escuro você é toda a verdade,
do início ao fim.

no escuro ninguém é quem é,
e, ainda assim,
quando está claro
eu só quero você.

Das pequenas vezes.

às vezes eu dôo,
mas apenas quando eu vejo o teu sorriso
brilhando feito o sol e me cegando
feito chuva pesada no parabrisa.

às vezes eu rio de dor
porque é algo incrivelmente bom
te ver quando tenho vontade,
te ouvir no meio da madrugada,
acordando e te vendo
pra poder voltar a dormir.

mas
às vezes eu choro

Wednesday, August 05, 2009

Você é um quadro.

ela disse com a voz mais sábia de todos os mundos:
"eu te amo como se ama cada coisa linda que esse mundo já viu
e se é grato por isso.
amo como cada uma das obras de arte que se conhece,
de monet, rembrandt, picasso, davinci...
amo mais que qualquer poema já escrito,
de neruda, vinícinius, drummond, bandeira...

amo cada uma dessas obras porque me conquistou,
assim como você,
mas sei que jamais poderei tê-las para mim,
assim como você."

de seus olhos saíram lágrimas,
ela poderia estar mentindo como todos os seres humanos do mundo,
mas algo no ar dizia que aquilo era mais do que uma mentira elaborada.

doía demais dizer aquilo
e doía demais escutar,
era pesado demais para ser mentira
e machucava como a verdade.

L.

já provei do amor que acabou.
já dei do amor que acabou.
mas pra você, meu bem,
só o amor sem fim.

Tuesday, August 04, 2009

Ícaro.

eu sinto o sol batendo no meu rosto,
o vento tocando minha pele,
a tua voz no meu ouvido.

eu lembro do teu cheiro
como se todos os dias da minha vida eu o tivesse sentido,
como se você fosse flores
na primavera.

o pensamento de você
me faz voar sobre as montanhas,
me faz ver acima das nuvens
sem nem precisar fechar os olhos.

"você sonha com o paraíso, quem vai te levar lá?"

se você me der a mão,
já estarei lá,
com você.

Sunday, August 02, 2009

A guerra.

eram tempos de paz
até que você apareceu
me trazendo os pensamentos
que eu, com tanta luta,
conseguia manter distante.

e agora a guerra acontece
enquanto você não assiste a nada disso.

Sinceridade.

ele disse
"você não sabe como eu me sinto quando eu vejo você."
ela olhou para ele
e disse como quem entende tudo no mundo
"não, eu não sei."

Verso.

ele abria os olhos todas as manhãs
e via os cílios longos dela
o rosto amassado no travesseiro
as olheiras que nunca sumiam
e as manchas que ela escondia
e não podia evitar de achá-la linda,
como uma poesia.

ele abria os olhos todas as manhãs
e sentia uma alegria tamanha
em saber que ao seu lado
estava o mais belo dos versos já composto pelo homem.

O descaso.

ele - que tanto amou,
que tanto desejou,
que tanto fez coisas
para que ela fosse feliz -
não era feliz
porque ela era feliz.

e ela - que era triste
porque ele era triste,
que era sentida
porque ele era sentido,
que era perturbada
porque ele era perturbado -
sorria porque agora era feliz.

Saturday, August 01, 2009

Aulas.

o amor não devia vir como a chuva.

nuvens cinzas no horizonte,
sem nunca sabermos quando exatamente chegarão,
caindo aos poucos ou despencando de vez.

o amor devia vir como um acidente.

você não espera que aquilo ocorra
e depois dele não há como se evitar,
apenas conviver com os fatos.

mas, infelizmente,
o amor é um sentimento que se tem,
e não uma disciplina que se aprende.

Congela.

lá fora eu não faço a menor idéia do que acontece,
mas aqui dentro eu sinto um frio na alma,
como aquele que eu sempre sinto,
nem melhor, nem pior,
sempre igual
e é isso que me castiga.

Verde.

ah, as mentiras.

elas têm um gosto tão doce,
mas tão doce.

de forma alguma lembram as verdades amargas,
as verdades duras,
as verdades biliares.

ah, as mentiras...

O teu corpo emana um odor só teu.

eu sinto o teu cheiro
de vez em quando.

de vez em quando
me dói a alma
quando eu sinto o teu cheiro.

de vez em quando
eu não sinto você.

me dói a alma
quando não sinto o teu cheiro.

Dias, semanas, meses, anos.

toda vez que eu
abro um livro,
ouço uma música,
penso em você,
escrevo uma linha,
ou qualquer dessas coisas do cotidiano...

me pego sempre
imaginando quando
é que você vai começar a me esquecer.

A verdade é que.

dos teus lábios saem as mentiras
que os meus ouvidos conhecem tão bem.

dos meus lábios
saem as mentiras que você não quer aceitar.

e nós mentimos como quem fala a verdade,
como quem tudo quer no mundo,
um para o outro,
um o outro.