Tuesday, May 27, 2014

Máscaras.

as máscaras que vi se sustentam no ar,
mesmo sendo parte do passado, mesmo sendo não mais importante
que foram as mentiras contadas por ela tempos atrás,
cem, duzentos, mil.

as máscaras que escondem os rostos de homens
são mentiras contadas pelas línguas antigas,
línguas mortas, esquecidas.

as máscaras que serviram tanto
ainda servem
não mais das mesmas maneiras,
mas ainda para os mesmos fins.

Monday, May 26, 2014

Os canha.

a primeira falava sobre um dia
de chuva numa cidade fria
e depois vieram cores de um país desconhecido,
e meninas azuis de longos vestidos,
depois canções de amores eternos das madrugadas,
que duravam o tempo de boas risadas.

passou o tempo lavando amores, marcando a idade,
ninguém aprendeu a cantar, ou dançar, é verdade,
mas houve histórias de mudanças da vida,
alguns olás, muitas despedidas,
catarinas putas, catarinas virgens, relógios perdendo as molas,
os cachorros morrendo sem ser por bola,
se sobrou um pouco de algo, ninguém viu,
mas ainda tem o puta que pariu.

Sunday, May 25, 2014

Domingo.

o domingo é um dia em que reservo para mim mesmo,
como se eu fosse meu deus, e eu seguisse minhas regras após criar meu mundo,
em pouco menos, ou até mesmo mais, que os sete dias,
para poder ficar só, para poder pensar um pouco,
nas coisas que acontecerão, e me angustiar nas especulações daquelas que ainda virão.

o domingo é um dia em que eu não sou de mais ninguém,
mas não é que nos outros dias eu seja de alguém,
mas acontece de invadirem tanto os meus dias, ao longo dos dias, que preciso,
preciso, preciso de um dia só para me fechar em mim.

poderia ser qualquer outro dia, e, na verdade, não é necessariamente o domingo,
mas poderia ser o domingo, visto que domingos são sempre tão vazios de significados,
posso dar o melhor dos sentidos a esses dias, escolhendo-os para dedicá-los a mim.

então,
de hoje em diante,
desde a meia noite
até a meia noite,
dedico todos os domingos a mim,
guardando-o com idolatria a mim,
ser maior, único e imperfeito.

um dia do eu.

Friday, May 23, 2014

Natur.

a chuva cheirando que cai e molha a terra
e o marrom da lama e o verde da grama
e o cinza do céu e o escuro da noite
são facetas da vida que gosto de observar e de viver, porque é minha, porque é única,
porque sou livre para fazê-lo enquanto escuto os sons das pessoas em movimento,
o som dos respiros, suspiros, gritos, anseios, medos, desesperos.

o sol queimando a terra seca e a grama amarela com o céu azul,
sem nuvens e com o cheiro seco da morte
são também facetas mais desesperadas da poesia da vida
e não são menores ou piores que as outras,
não existe graduação para os fatos naturais, eles acontecem
independente do que se acredita ser bem ou mal,
acontece antes de nós, apesar de todos..

Thursday, May 22, 2014

Banquetes.

sentado num trono de ouro, entre montanhas de diamantes,
ele aguarda um momento que talvez nunca se apresente.

as dançarinas em seu torno dançam, os soldados de seu exército marcham,
para onde vai a nação, pergunta o povo,
mas o povo clama com vozes e brados que inaudíveis à nobreza.

sentado em um trono, ao lado de uma rainha cuja beleza trouxe guerras e nunca paz,
observa bandejas movendo-se no eterno banquete,
enquanto criados rastejam pelos restos de alimento,
e o vinho escorre de seus lábios e o cega.

as frutas, frescas e suculentas, escorrem o sumo pelos corpos das concubinas,
enquanto bocas sem dentes e línguas frias buscam os recônditos de seus corpos,
e o rei de todos ri, embriagando-se de poder,
segurando seu cajado incrustado de gemas, e sentado em seu trono gigante,
não fecha os olhos por um momento sequer, porque não quer que nada se perca à vista,
mas lhe foge à mente a idéia de que a cada segundo perde um pouco sua vida,
e que a eternidade nunca virá, e reis caem, e novos reis se fazem,
e o povo uma hora se tornará seu próprio rei,
e cada um terá sua chance no grande trono que é a vida,
e todos dançarão a ciranda do poder, mas cairão todos de exaustão,
no entanto sempre haverá alguém disposto a encerrar um banquete
se proclamando o novo dono da festa.

Wednesday, May 21, 2014

O poeta

o que faz o poeta, o que é?
quem é que o faz, ele mesmo ou é aclamado pelos outros?
o que é o poeta, o que faz?
versa seus versos baixinho, com vergonha do que pode ter escrito,
medo do sentimento exposto tê-lo tornado frágil demais
ante a visão dos outros;
ou os clama a plenos pulmões,
como se seus brados os tornassem melhores,
e o alcance fosse maior, distorcendo as palavras, perdendo o significado.

o que é o poeta?
é aquele que analisa seu redor e o coloca
através de suas visões particulares, suas impressões,
um pintor das palavras?

quem é o poeta?

é você?

Dores

Dói o joelho direito
E o esquerdo sente,
Por serem irmãos,
Crias de um só Criador.

Dói o cotovelo direito
E o esquerdo compadece,
Por ser ele semelhante,
Mesmo contrário.

Dói a coluna lombar
E os ombros se tencionam incomodados,
Por serem eles também
Parte de um Todo.

Dói a cabeça
E o peito sente,
Por serem uno,
Mas agirem como totais Desconhecidos.

Monday, May 19, 2014

Apneia

O estalo do Beijo:
os céus das bocas se aproximam
Troveja
A luta das línguas no mar de saliva
Homens ao mar
Amores ao mar
Um mar tão grande
Onde tantos vão se afogar.

Friday, May 09, 2014

O impossível.

os versos que leio,
e os que não leio,
os bons versos que escrevo,
(tão raros)
e os piores que já rascunhei
(tão mais comuns),
tudo o que me for belo
e aquilo que não for horrendo,
são todos para o mesmo destinatário.

Elvis

floresce minha plantação
com teu olhar,
que eu sinto falta
de matar minha sede
com a tua saliva
e te cantar no ouvido
para me amar gentil,
me amar de verdade.

e nunca me deixar ir.

o que foi que aconteceu?

por que é que eu fui?

Vaso.

eu te olho e não consigo entender tão bem
o que é que tantos que a viram enxergaram
enquanto tudo o que vejo é uma beleza
que me serve de admiração como um quadro numa galeria.

te vejo enxergando com dois pedaços do céu,
mas não me sinto mais próximo de lá por causa disso:
continuo terreno, e você continua de carne, osso e sangue.

tua pele é quente igual, teus dentes brancos iguais,
teus cabelos compridos iguais, tua mucosa rosada igual,
ainda assim, por que teimam em dizer-te diferente?

o que me parece é que és um objeto:
como um vaso que queremos muito colocar no centro da nossa mesa,
na sala da nossa casa,
para que as visitas olhem e pensem como temos enorme bom gosto;
ou como um livro que há tempos queremos ler,
e consumir, e consumar, e absorver;
ou como um carro potente que nos irá fazer parecer bem
diante dos nossos outros amigos homens,
que entendem tanto de carro,
e medem suas riquezas através de carros
e vivem através de carros,
indo de um lado para outro dentro deles,
mas nenhum deles contigo.

o que parece é que tem sempre alguém querendo te usar para alguma coisa,
como eu estou fazendo agora,
usando tua figura para me "inspirar"
e escrever esse poema.

mas não sei,
eu vivo errando,
eu vivo errado.

talvez essa seja somente outra vez que isso me acontece,
tudo bem.

mas e se eu não estiver e você for, de fato, tão objetificada quanto parece,
eu começo a me questionar,
será que você sente?

Wednesday, May 07, 2014

Morena dos olhos de céu.

os teus olhos, morena
me deixam com vontade de arrancá-los
e jogá-los num jarro
(apesar de eu achar que deveríamos jogar ximbra com eles,
mas teria pena demais de colocá-los no chão de barro
duro, batido, sujo - ele estragaria um pouco do brilho do teu olhar)
para conservá-los onde eu sempre possa vê-los:

na estante do meu quarto,
num móvel na minha sala,
no centro da minha mesa,
vigiando meu dia,
protegendo minha noite,
sendo meu anjo protetor.

os teus olhos, morena,
me deixam com vontades demais.

Sunday, May 04, 2014

Uma carta escrita no passado.

Um dia escrevi uma carta
Dizendo como iam as coisas
E como a vida estava me levando a caminhos
Que nunca pensei que trilharia.

A carta ficou longa,
Mas não por causa da vida que vivi,
Mas por causa da vida
Que ficou em espera,
A vida que está para acontecer
E aquela que só se desenvolveu
Numa outra realidade.

A carta ficou longa
Porque em determinado ponto falei da saudade
E a saudade não tem tamanho.

A carta ficou longa
Porque era para você.
E porque era para você
A carta ainda está escondida
Numa gaveta
Para ser esquecida.