Saturday, April 30, 2011

Você não me ensinou a te esquecer, mas vejo que você continua andando.

eu me controlo
e me contorço
eu me mordo.

mas não sei, simplesmente,
como faz para deixar de lado
toda a preciosidade
e todo o tempo
que tenho em mim.

Saída.

é noite
e ela está vestida para ela
colocou o vestido negro
que ele tanto gostava e tanto exaltava
tomou seus banhos,
perfumou-se
e usou o desodorante que ele falava que a deixava ainda mais saborosa.

foi à rua para esquecer,
para queimar tudo o que aconteceu,
para machucar
para se perder
nos braços,
nos beijos,
nas camas.

não se questiona,
não duvida
e em momento nenhum se arrepende.

Lembrança.

eu me lembro
mas não devia.

então esqueço
e tudo volta.

eu esqueço
de esquecer
e não lembro
de não lembrar.

sinto fome
e penso
em todas as vontades
que tenho
e em como só essa
pode ser saciada agora.

Silêncio

o silêncio é uma faca
que corta carne
e alma,
estraçalha.

Friday, April 29, 2011

E eu me pergunto como uma noite com batata doce, omelete e capuccino pôde terminar tão mal.

"fui atender
e não era o meu amor."

O mundo.

não creio no arrependimento
e nem espero telefonemas,
porque não sou essencial,
porque viver sem mim é mais fácil.

Me dá um oi.

espera
e espera
com uma esperança tão grande em seu peito.

espera
e espera
mesmo sabendo que sua espera não levará a nada.

espera
e espera
conhecendo aquilo por que espera
e tendo a certeza que não adianta esperar,
ela não dirá um oi.

Problema com a musa.

eu queria
que você acreditasse
nas palavras
que são pra você.

mas você só quer
as que não são.

As horas do dia.

são três horas da manhã
e o telefone está calado
desde as nove horas
da noite anterior,
que se estende infinita
na angústia e na agonia.

são sete horas da manhã
e o silêncio é tão grande
que os pássaros lá fora
parecem estar aqui dentro
cantando no ouvido
e bicando minha cabeça.

são dez horas da manhã
e eu me pego pensando.

Thursday, April 28, 2011

Sufoco

havia algo preso em sua garganta
e só ela - a dona -
sabia o que era.

havia algo em sua bela garganta
que a impedia de respirar
e a deixava sempre no sufoco.

havia algo em sua garganta
até o momento em que ela engasgou
e morreu na rua sete de setembro
às 17 horas
de uma tarde de mês de chuvas.

A Palavra Dita

sem que possa voltar
ao tempo em que nada existia
ao tempo em que nada importava.

Monday, April 25, 2011

O sonho.

eu lembro de uma noite
que talvez nem tenha existido
(e é o mais provável,
que tudo isso tenha sido um sonho)
em que ela me disse que se sentia feliz
de estar comigo,
que se sentia bem de saber que era minha
e que de fato podia contar comigo.

Sunday, April 24, 2011

Amende.

a máquina sou eu.

Ninar.

queria te chamar de beibe
te fechar os olhos
e cobrir de beijos.

Voz

eu já ouvi
mil coisas
na vida
já ouvi que estava calado
e que falava demais.

não seguindo
necessariamente
essa ordem
na cronologia dos fatos.

mas, talvez,
essa voz que fala demais
não seja minha,
talvez ela só venha
de dentro.

A continuidade da máquina.

uma máquina
com olhos e boca
da qual vêm todas as brutalidades,
de onde saem todas as inverdades,
que existem.

uma máquina
construída para destruir
planejada para desfazer planos.

uma máquina
abandonada, esquecida, enferrujada,
que ainda assim
nas noites que vão
não a deixam passar em branco.

uma máquina
que tem nome, rg, certidão de nascimento
e cpf,
até mesmo uma cnh,
programada para fazer
e dizer só
e somente aquilo que machuca
e que estraga.

Friday, April 22, 2011

Bonança.

é um dia ensolarado
e, de repente, sem nenhum aviso,
sem nuvens no horizonte,
o céu desaba
e a água arrasta tudo.

no entanto,
é um dia ensolarado
no meio de dias chuvosos
e isso não deve ser esquecido.

Cansado.

estou cansado
e, lá fora,
o mundo não se importa com isso.

estou cansado
e não há muita coisa que se possa fazer
quanto a isso.

estou cansado
da vida que não vivi
e talvez até da que sim.

estou cansado
e sei que não há descanso
para nada na vida.

estou cansado
e sei que minha alma nunca terá descanso
porque não existe nada além.

estou cansado
e não sei conviver com isso.

estou cansado
e sinto que
dentro de três meses
ou três anos
terei um furo no meu estômago
que me fará sangrar até a morte.

estou cansado
porque não há nada que impeça
isso que está pra acontecer.

estou cansado
porque eu queria tanto evitar
e não morrer.

estou cansado,
meu bem,
estou cansado e quero descansar.

Wednesday, April 20, 2011

Isso.

sinto que ainda precisa crescer
sinto que ainda não está pronto
sinto que o que sinto
é muito pouco perto do que posso sentir
e só penso,
só sinto
que ainda preciso de um tempo
para sentir ainda mais.

Vem comigo e pega minha mão.

existe eu
existe você
e existe uma sala vazia
com um som tocando um
rock n roll
daqueles que podemos dançar juntos
e eu me pergunto
por que é que há essa distância entre nossos corpos?

Tuesday, April 19, 2011

Torcedor

eu queria
ser o mestre
das palavras
e poder torcê-las
e retorcê-las
e,
então,
torcê-las novamente.

como me ensinou o mestre,
como tem sido feito há séculos.

eu queria ser o mestre
das palavras
para assim ser capaz de expressar
tudo o que há.

IAM.

a visão turva
e já não sinto nada
porque metade de mim foi embora.

me falta o ar
e o peito dói
enquanto sinto o mundo ao redor sumir.

Saturday, April 16, 2011

"Só sei dançar com você"

existem coisas
que só o amor faz.

para todo o resto
há o que sobra.

Friday, April 15, 2011

De não estrela boa.

o silêncio vem
comandando seu reino
entre nós nesses dias

as coisas que digo
que penso
que escrevo
são cada vez mais fáceis
de se apagar pelo tempo,
pela vontade, pelo olhar.

acredito que seja
coisa daquela velha arte.

Alegria

de vez em quando,
especialmente depois de grandes decepções,
é bom saber
que ainda existe esperança
e que as coisas podem sim
ser boas.

pelo menos boas o suficiente
para nos dar alegria e prazer.

Dois mundos.

estou em casa
e tenho aqui
os pensamentos
do mundo
do absurdo.

tenho aqui comigo
também
os pensamentos
de um mundo irreal
tão fabuloso
que podemos palpá-lo.

tenho dois mundos
incríveis aqui nesse lugar
infinitos mundos dentro de mim.

Thursday, April 14, 2011

Absurdo.

o absurdo
é aquilo que a gente
tenta a vida toda aceitar.

o absurdo
é o pensamento,
é a idéia.

o absurdo
é tudo aquilo que acontece
quando não queremos que nada do que aconteceu
de fato
tenha acontecido realmente.

o absurdo
é isso.

VII

cresce em mim
um sentimento
tão nobre
que seu nome
está na lista.

v

palavra que significa tanto
em tão pouco,
palavra que diz tudo
enquanto nada fala.

é ela a palavra que permanece calada
enquanto vivemos achando que nunca a diremos.

é a imensidão do abismo
que nos encara quando nos esquecemos
que ele pode nos olhar de volta.

mas ela vem
forte como só ela pode ser,
única como nenhuma outra,
e, como o vento,
como o tempo,
ela nos joga no chão,
nos humilha, nos torna humanos.

O rio que flui e a vida que morre.

o que é o tempo?
é algo que é muito maior
do que minhas tentativas
inúteis
de definí-lo.

Os lábios de Isabelle.

sinto o gosto
de chocolate
cigarro
e café.

mas o único gosto
que queria sentir
era o dos lábios
de isabelle.

Eu.

sou eu quem digo
ao teu ouvido
todas as coisas
do teu mundo umbigo,
quem cutuca teu juízo,
quem desmancha teu sorriso.

sou em quem assombra teus dias
e desfaz a poesia,
quem sua carne rasgaria
num impulso simples de ira
jogando os pensamentos no fogo da pira

transformando-te em cinzas.

Sábado?

será que houve um dia
na criação
em que reinou a calmaria?

Wednesday, April 13, 2011

Ao longo da semana.

ela me disse:
"preciso estar só
e com você tudo é tão pior."

é uma segunda
quando ela me diz
que já não sou o que ela quis.

ela me fala
que seu corpo ao meu lado
são lembranças que pertencem ao passado.

ela me disse:
"preciso resolver
tudo isso o que sinto, para esquecer"

é uma terça
quando ela explica
que necessita me tirar da sua vida.

ela me fala
que já faz um tempo
que ela acha que não tem contentamento.

ela me diz:
"talvez seja pro bem
cada um seguir com outro alguém."

é uma quarta
quando ela se senta
ao meu lado e diz que não aguenta.

ela me fala
que há tempos é assim
e que faz isso por ela e por mim.

ela me diz:
"preciso ir embora
e tenho medo que já tenha sido a hora"

é uma quinta
quando ela me chega
se despedindo e cheirando a manteiga.

ela me fala
que já não dá mais
e que tudo o que ela quer é paz.

ela me diz:
"eu já não sei mais nada.
tudo o que quero é pegar a longa estrada."

é uma sexta
quando ela me beija
e eu sinto seu gosto de cerveja.

ela me fala
que pretende mudar
e no momento precisa de outro lugar.

ela me diz:
"pode ser que dê certo,
mas as chances são como água no deserto."

é um sábado
e ela está em meus braços
e nossos corpos numa só cama, apertados.

ela me fala
que quer estar assim comigo,
enquanto eu beijo seu umbigo

ela me diz:
"é, talvez não haja jeito,
mas quando estamos assim, é quase perfeito."

é um domingo
e ela está aqui comigo
por quanto tempo? não sei. enquanto durar.

Tuesday, April 12, 2011

A Metamorfose.

certo dia
ao acordar
de sonhos ruins
notou-se transmutado
em um ser completamente diferente,
apesar de permanecer com os mesmos olhos,
os mesmos membros,
os mesmos órgãos sexuais.

em seu sonho
vira os olhos do abismo
e o abismo,
como nietzsche disse,
o encarou.

mudara
e não sabia -
é aí que plana o terror -
se o que se passou
foi para melhor.

Sexto sentido.

é bem típico,
e não importa a hora -
tarde, manhã ou noite -
ela chegar
com sua voz doce,
e perguntar
se todas as coisas
que ele diz
têm um sentido além do que ela entendeu.

Monday, April 11, 2011

Noite.

quando é
que será tudo igual?

quando já for tarde?

talvez já seja noite.

Duração.

perguntas que corroem a mente,
destroem a alma,
destroçam o homem.

perguntas que não se calam,
mas falam cada vez mais algo,
perguntas que gritam a plenos pulmões.

e o tempo
que deveria ser a cura
dos maiores males
que já afligiram a terra
e suas criaturas,
ele parece não ter poder
contra essa moléstia.

é ensurdecedor
e dói.

por tudo o que já passou,
por tudo aquilo que já vi,
posso dizer
que ainda há muito
por vir.

Como eu disse anteriormente.

du kommst hin
und aus.
die Strasse sind alle voll.

ich will nichts besonderes.
nur dich.

De quando eu volto para o que eu fazia, mas agora tentando diferente.

ich werde
mit dir
ins Kino, in die Disco, irgendwo
- und nur mit dir -
gehen.

Friday, April 08, 2011

Milho.

a gente tenta
tenta
e tenta
mas sozinho
não dá.

Thursday, April 07, 2011

Como faz.

introjeta a idéia
e transforma em realidade.

Wednesday, April 06, 2011

O que não consigo dizer.

não sou poeta
e todos podem perceber isso
muito bem,
ao ler tudo isso.

não sou poeta e não sei passar sentimentos
da forma desejada
para o papel.

sou incapaz de dizer,
descrever tudo aquilo que sinto,
em algumas palavras que não sejam breves,
curtas, secas,
de alguma forma,
não realmente relacionadas com aquilo que quero dizer.

não sei como dizer
que
quando olho para uma pessoa
e vejo o sofrimento
a tristeza
a dor
e imagino
toda a vida
de alegrias perdidas
de possibilidades que não foram
de tempo jogado fora,
meu peito machuca,
minha garganta dá um nó
e eu penso
em como é triste
que eu não consiga
dizer ao mundo inteiro
que há tanta coisa ruim no mundo
e que o que todo mundo devia
fazer nessa vida
era viver e sorrir
e ser feliz
e aproveitar cada segundo que a gente tem.

Fala.

com quem vier
só não comigo.

Migração.

de todas as coisas que haviam em comum
talvez tenha sobrado somente uma
ou até mesmo ela migrou para outro
dos pólos de interesse?

Quarto vazio.

existe um quarto
vazio,
mas cheio de lembranças
de tudo aquilo
que somos
que fomos
e que seremos.

existe um quarto vazio separando dois mundos
e não é possível atravessá-lo.

Tuesday, April 05, 2011

Descoberta.

o desprezo,
a dor,
a fúria
nos olhos,
nos dentes,
nas unhas,
na carne.

Liu.

foi meu primeiro amor,
aquele que jamais esquecerei.

até hoje posso lembrar de seus carinhos,
sua risada,
seu jeito carinhoso
de me aninhar em seu colo
quando eu mais precisava.

o primeiro amor que tive
e senti como se sente
quando se tem
um primeiro amor.

foi meu primeiro amor
e, devo dizer, sinto falta dela até hoje.

e quando me sinto triste, hoje
me sinto ainda pior por saber que não posso contar com ela,
que nunca mais escutarei sua voz falando comigo.

foi meu primeiro amor
do tipo de primeiro amor que não vai embora nunca.

e por mais que passe o tempo,
e leve os detalhes embora,
os timbres, as texturas,
sempre lembrarei de como ela me fazia sentir amado
mesmo quando quem me devia mais amor
não o fazia.

foi meu primeiro amor
e é sobre ela que vou contar quando for velho
e tiver filhos
e netos
para quem contar histórias
sobre o passado
e sobre como era a minha vida.

foi ela, meu primeiro amor,
que, numa noite de terça feira,
me tomou nos braços
e beijou minha testa.

posso sentir seus lábios quentes agora,
apesar de já terem sido esfriados pelo tempo,
pela única consequência da vida.

ela foi o primeiro amor que tive,
o primeiro que me fez verter lágrimas,
o primeiro que me deixou triste,
o que me fez repensar a vida.

ela foi o meu primeiro amor,
aquele que até hoje sinto.

Não sei.

fala-se de livros.

eles existem,
espalham-se em milhões de corredores,
espelham-se num infinito de possibilidades.

falam dos livros
e de como eles têm as respostas
para as perguntas que fazemos
a nós mesmos
e ao mundo
e que só nos basta procurar
bem fundo,
não neles, em nós
o que queremos.
eles são auxiliadores.

me disseram
um dia
que se eu procurasse bem fundo
em mim mesmo,
encontraria tudo o que eu precisava,
mas eu procuro,
procuro,
procuro.

Espelho.

a imagem imita o objeto.

não há nenhuma mudança.

a imagem imita em cada detalhe
tudo o que o objeto faz
e não sente remorsos,
não sente dor,
não sente prazer,
porque é apenas aquilo que sabe fazer,
não foi feita para aprender,
somente imitar.

Monday, April 04, 2011

Somatização.

afundando, afundando,
cada movimento
ficando cada vez mais lento.

minha cabeça pesa, então, uma tonelada
e me puxa para baixo,
para o fundo.

os sons não chegam aos ouvidos,
o ar entra líquido em meus pulmões,
queimando, rasgando,
misturando-se em meu sangue
como veneno.

os olhos não enxergam
através da densa escuridão
que engole tudo.

não existe um mundo,
não existe vida,
não existe esperança.

é tudo medo,
é tudo dor,
é tudo real.

A terra.

a terra pesa
sobre o corpo deitado
há tanto tempo
que não sei bem quanto.

talvez há tanto
quanto o nosso amor.

a terra esconde
tudo o que passou
de tudo sobre ela
e de todos.

mas não há nada
que apague lembranças.

a terra é suja
e seus vermes corroem
e devoram sonhos
transformando-os em pesadelos.

mas tudo o que um dia foi
nunca deixará, de alguma forma, de ser.

Friday, April 01, 2011

"ela empacotou minha bolsa ontem à noite."

colocou minhas camisas
bem dobradas, como só ela consegue fazer,
minhas calças,
algumas meias e cuecas
dentro da minha mochila
de costas
e me entregou assim que cheguei.

disse tão calmamente
que nunca mais me veria,
que iria me evitar a todo custo
e tudo o que fosse meu
que não estivesse empacotado
era agora dela.

carreguei minhas coisas
rua à fora
e me hospedei no primeiro hotel que encontrei
- a diária era o preço de um sanduíche
desses que te envenenam a alma
e te entopem as veias,
o quarto era sujo,
escuro e o colchão tinha um odor
de esperma e mijo de muitos outros hóspedes anteriores.

fiquei naquele lugar
até perceber que não havia mais volta,
ela tinha tomado a decisão final.

estava deitado na cama
quando escutei o barulho
e pensei que fosse o escape
de um carro velho que passava
pela rua,
mas estava enganado.

alguns homens se matavam em frente ao portão,
o sangue escorria pelo asfalto
e isso me fez lembrar que foi dela
o único sangue que sorvi, o único
que precisei,
o único que quis
que fosse misturado ao meu.

então senti uma lágrima escorrendo pelo canto do meu rosto,
se eu soubesse o que viria,
não teria tentado conter os pensamentos,
que vinham num imenso fluxo,
meu rosto se transfigurou em uma careta de dor
e uma enxurrada de lembranças me jogou na cama.

acordei horas depois,
e não havia nenhuma estrela no céu,
nenhuma luz na rua,
a escuridão me devorava no meio da noite
e eu me entreguei a ela
na esperança de poder
talvez
seguir.