Saturday, November 14, 2020

Catorze

 trancado no banheiro depois de anos produzindo

é como se passa os catorze de maneira propícia.


não há poesia que morra

e nem poesia que não se crie:

ela segue acontecendo dentro e fora, fora e dentro,

mas já não é mais tão impulsiva,

se esconde quando vem visita,

prefere a privacidade 

das coisas que encontra no banheiro.


catorze, como se fosse três

funcionando como se nem existisse,

mas com tempo o suficiente

para saber que é um ser tão real

quanto qualquer amor possa ser.


trancado no banheiro

por algum tempo, quem sabe,

como adolescente que é,

como criatura confusa e em constante mudança.


quem sabe o que virá?

Sunday, July 19, 2020

Experiência.

que experiência mística é essa
de deitar ao Teu lado e esperar você acordar
como quem espera que o sol nasça dos teus olhos
e faça brilhar aquilo que é escuro
para que eu não me perca nos caminhos do dia.

que experiência divina é essa
de olhar o Teu sorriso se fazendo em teus lábios
e saber que fui eu o responsável pela existência
de uma beleza tão grande que não deveria ter um nome,
mas tem e é Teu sorriso.

e não sei se será justo que um dia,
quando eu me sentir triste e mau e ruim e podre,
porque é certo que esse dia virá,
porque é certo que nossa natureza não nos abandona,
eu faça teus olhos verterem lágrimas
ou faça sumir o sorriso,
ou faça os olhos não quererem mais se abrir para mim.

mas vivamos com o que acontece agora, no agora, por agora,
enquanto você está comigo e eu contigo
e não há nenhum mal no mundo inteiro
desde que o mundo inteiro é o aqui dentro
ao teu lado.

que experiência louca é essa que me toma e me faz querer
escrever assim,
como se eu tivesse de novo dezenove anos
e vivesse e morresse por amor?
um amor que não existe
e nunca poderia existir
e que bom que nunca existiu,
mas que hoje existe da mesma maneira,
porque o amor não é outro que não o amor.

Wednesday, May 20, 2020

A Rua.

a rua está viva.
quando deveria estar em silêncio
ela grita
quando deveria estar dormindo
ela grita
quando deveria estar mudando
ela grita.

a rua está viva,
mas aos poucos morre
e enquanto grita sente-se forte
sente-se certa
sente-se a única dona de verdades,
da única verdade.

a rua está viva
cheia de árvores, cachorros, gatos, pessoas.

a dor de saber que a rua está assim tão viva não cabe em palavras
porque se ela está viva, a rua, se está agora vivendo
só pode dizer que em breve
essa vida toda
irá embora,
mas continuarão os cães e gatos, as árvores.
as pessoas é que não mais.

a rua está viva
e é uma pena.