Wednesday, July 30, 2014

A primeira vez que o segurei.

quando o segurei pela primeira vez
foi com estranheza que senti que se movia entre meus dedos
e que sua vida extrapolava seus limites físicos.

foi como se em minhas mãos repousasse a criatura mais perfeita do mundo
e meu toque o incomodasse.
fiquei com medo de machucá-lo.

quando o segurei pela primeira vez
tive a certeza que nenhuma outra sensação se equipararia àquela
não teria como.

meus dedos percorrendo seus contornos,
tentando desvendar seus mistérios,
em vão, ou quase isso.

quando o segurei pela primeira vez
tive medo.

Tuesday, July 29, 2014

Ama.

esta noite sonhei que teus seios vertiam o leite
que alimentava meu sangue
que fortalecia a existência,
o único alimento que importava.

então acordei
e percebi que tinha fome,
mas você estava longe
e ao meu lado
o vazio.

Sunday, July 27, 2014

Fazer amor.

não se faz amor
em uma cama
com gemidos,
arranhões e mordidas
não se faz amor com bebidas
antes ou cigarros
depois.

não se faz amor
com corpos
apertados contra uma parede
ou no chão.
não se faz amor
dando-se as mãos
numa cadeira de cinema.

não se faz amor
com bocas que se calam
umas às outras.
não se faz amor
com línguas
que se tocam e se lambem.

se faz amor
com o todo dia
a cada dia,
o dia a dia,
se faz amor
com paciência
como quem estuda uma ciência
se faz amor
como quem descobre que
no amor
existe um mundo.

Saturday, July 26, 2014

Quando a guerra chegar.

eu quero estar nos teus braços
enquanto ouvimos os ruídos do mundo a acabar
e nossos olhos falam por nós, pois nossos lábios calados,
quase sufocam nossa respiração
com a poeira dos escombros
e o lamentoso grito da morte cortando os ares.

nunca mais seríamos encontrados,
porque não haveria relatos dos sumidos,
seríamos só duas vítimas
da guerra do fim do mundo.

se alguém um dia soubesse,
no entanto,
que naquela manhã de julho duas pessoas que se amavam
foram reduzidas a duas manchas de sangue,
talvez se compadecessem
e orassem por nós a seu deus.

Wednesday, July 23, 2014

Os não mapeados.

dói o joelho,
dói a coluna lombar,
dói também aqueles lugares
que não são mapeados em atlas de anatomia,
mas que todos no mundo conhecem bem,
embora preferissem nem saber deles,
porque só se descobre que os temos
quando começam a doer.

e, diabos,
como doem!

Quem sabe?

o que eu quero de você
talvez não tenha nome
talvez não seja descrito em canto algum
talvez jamais existirá.

o que quero de você,
talvez esteja em todo lugar.

Conhaque do Carlos.

terra quente
sob nossos pés descalços
deixa a gente bem.

Monday, July 21, 2014

Hino de esperança pelo advento daquele que chega para nos trazer a paz, o amor, e o auto conhecimento.

No oriente negro
Brilha uma luz dourada
Estrela da manhã.

Espremedor.

Ela fazendo
Suco de laranja
Refresca'alma.

Thursday, July 17, 2014

Ou não.

quero ouvir tua voz
como ninguém jamais ouviu,
porque se não for assim,
talvez o que valha mais
seja o teu silêncio.

Wednesday, July 16, 2014

Diferente, mas igual.

As mesmas músicas de sempre
Sempre despertando os mesmos sentimentos.
Só que dessa vez diferentes.

Através do mar.

ouvindo e lembrando dos teus olhos
pequenos, morena, e tua boca de lábios finos
sempre risonhos,
e tua voz, e teu nariz, e tuas mãos dedos longos
e toque suave.

ouvindo e pensando que as coisas que passam
são tão boas
porque acabam.

Monday, July 14, 2014

Shhh

o teu silêncio traz coisas
que só quem não ouve
compreende.

Verde-vermelho.

amadurecer
ato constante de sumir
dentro de si.

Sunday, July 06, 2014

Josef K.

Minha cintura longe da tua
É um castigo triste e desmerecido.
Não poder escutar teu coração à noite,
Com meu ouvido entre tuas mamas,
Sentindo o oscilar da tua caixa torácica,
É uma punição muito alta
Para um crime que não sei se cometi.

Wednesday, July 02, 2014

É isso.

o que é que somos hoje?
pedaços de passado que,
num lampejo,
são iluminados rapidamente
para logo sumirem na escuridão
da vida.

Há?

não consigo pensar em palavras
não consigo pensar em gestos
não consigo pensar em rostos
não consigo pensar.

fecho os olhos e vejo escuridão
e vejo luz
e escuridão
e a luz que enxergo quando volto a abri-los
é clara e me cega,
fecho os olhos para não enxergar.

os sons que escuto não fazem sentido
carros de passeio buzinam, ônibus buzinam,
pessoas buzinam atrás de seus confortos, de seus apertos,
abrem suas bocas e buzinam,
nada faz sentido.

não sinto mais o cheiro da tarde molhada
ou da noite que chega tranquilamente lá fora
se arrastando, apagando a luz como uma leve brisa leva embora a chama de uma vela,
não entendo  o que acontece aqui.
por que antes eu era capaz de sentir,
e agora nada, e agora só o vazio, e agora só um grande buraco?

não existem mais palavras
não existem mais gestos
não existem mais rostos
não existem mais pensamentos.

não existo.

Seja.

aprendi paciência contigo, como quando se aprende a escrever,
persistente, repetindo, aprendi também carinho,
como se fosse ler, como se fosse uma atividade prazerosa gostar de você,
porque é.

e tantas vezes rimos, tantas vezes tuas lágrimas verteram por nada,
seguidas de um sorriso ainda tímido e um leve soluço,
aprendi que não estou pronto para o que aqueles que te rodeiam estão:
o amor incondicional não foi feito para mim,
mas não posso dizer que não te amo, porque sempre sinto um desejo de te proteger
e te ver feliz.

seja feliz em tuas aventuras em pensamentos, em tuas fantasias, desejos e sonhos.
seja feliz, criança, porque é tempo disso.
não se preocupe com o resto, sua vida, hoje, é tesouro precioso,
seja feliz.