Friday, December 23, 2011

O que foi?

quem foi que levou embora
aqueles tempos em que tudo era poesia?

foi o tempo
sozinho, que passa,
ou fui eu mesmo e eu já temia?

quem foi que levou pra longe
aquela época que brilhava
e os versos corriam soltos
fluíam como rios,
prontos para tudo e nada.

que foi que me aconteceu?

Thursday, December 15, 2011

E agora?

estou cansado das coisas
e as coisas de verdade
nem ao menos começaram.

Thursday, December 08, 2011

Volume.

o volume em minha mão,
frio como a noite cheia de possibilidades,
é mais repleto de vida
que o próprio homem.

o volume em minha mão
contém mundos
e proporciona visão
além daquela que conhecemos.

o volume em minha mão é mágico,
libertador.

Tuesday, December 06, 2011

A Chegada.

desde que chegaste,
depois de verões e invernos sem proteção,
tudo o que eu conhecia
tomou nova proporção
e as dores que antes doíam
quase incapacitavam
hoje parecem arranhão.

o céu é d'um azul diferente
do de antes de você
e até os sabores mudaram
sem eu saber bem o porquê,
mas fato é que, um dia,
depois que você chegou,
olhei para trás e vi
como tanta coisa mudou
e agora eu já nem sei mais
quem era que vivia aqui
no meu corpo quando eu
não era o eu que sou agora.

quando era noite,
antes, o desespero me batia
de uma forma tão intensa
que tudo o que eu queria
era fechar os olhos
e fluir a poesia
hoje quando bate a noite,
quando as horas vão pesando
fico calado sozinho
e ouço os sons da madrugada.

quando você não havia,
talvez fosse só uma idéia,
fluía-me versos imensos
que nunca respeitavam métrica
era inquieto e angustiante
o simples fato de viver
antes de haver você.

mas desde que chegaste
pude finalmente ver
que tudo o que sabia da vida
era nada perto do viver.

Tuesday, October 25, 2011

Lufada de Tempo

o tempo veio e arrancou das prateleiras
todas as lembranças
e as misturou
como só o tempo consegue fazer.

e agora não sei direito
onde se meteram aqueles dias
que hoje procuro sem cessar.

o tempo veio como uma lufada de vento
e por um instante senti em meu rosto
a brisa suave do esquecimento
e tudo jamais voltou.

Friday, October 14, 2011

Aniversário delas.

ocasionalmente me pergunto como
seria tudo se nós chegássemos ao fim.
como seriam os nossos primeiros sonhos
e quão difícil seriam os dias para mim.

eu certamente não saberia como agir
quando chegasse a data do teu novo ano
e a lembrança desse dia batesse bem aqui,
no peito que já conhece todo o dano

que um pensamento triste pode me causar.

não existe solução para esse velho dia
que não poderei ter o prazer de esquecer.

por isso que jamais quero te perder.

Monday, October 10, 2011

Livro.

estou lendo um livro pela primeira vez
o nome dele não importa agora ou nunca,
mas acredito ser um livro que vocês
talvez gostassem de sentir a textura
das páginas grossas do volume fino
e o relevo da tinta negra escura forte
que faz com que se sinta outra vez menino
que sem ler livros aprendeu sobre a morte
e ainda assim conseguiu seguir, crescer e mudar.

estou lendo um livro pela primeira vez
e acho que seria muito bom para vocês.

Tuesday, October 04, 2011

21:37

eu sei que não sou eu.

Agora.

sei de tudo o que vai acontecer
agora antes mesmo de viver
sei o que esperar, o que posso fazer
o que vou ouvir e o que devo dizer.

eu posso não prever o futuro,
mas sei muito bem ver o passado.

Monday, October 03, 2011

Vez com vez.

talvez quando o sol nascer outra vez
os ventos mudem, as cores troquem
entre si suas magias e belezas
e algo bem diferente aconteça
ao invés daquilo que sempre acontece.

talvez quando o sol nascer outra vez
ele queime o céu como nunca o fez
tão intenso e tão quente, que até talvez
ilumine o que há pela última vez.

Sunday, October 02, 2011

O melhor.

a cada noite ela escutava
sentada na beira da cama,
na mesma estação que tocava,
as velhas músicas que tanto ama.

ela sempre com os olhos cheios
de águas que se punham a escorrer
ouvia seu passado sem medos
de um dia ela chegar a esquecer.

sem notar, pega um lenço velho,
daqueles que achou que teve um fim
e enxuga as águas de seu olhar cego
a olhar o tempo, tão perdida em si.

visões perdidas do passado,
o melhor é não ter que se lembrar
de um tempo tão glorificado
o melhor é toda noite chorar.

Tuesday, September 27, 2011

do que um dia, numa noite de um mês qualquer, me disseram e agora eu digo de volta, porque as coisas que vão um dia, talvez, voltem.

"não se pode tomar boas decisões
não parará
eu não posso parar"

Vento.

agora acho que entendi
o que o vento um dia me gritou.

Monday, September 26, 2011

Verdadectomia

por que com você
tudo tem que parecer
uma cirurgia
onde eu devo retirar
com cuidado,
para não machucar,
cada pedaço do que você quer me dizer?

Partes

os cabelos que lhe escorrem pelos ombros
são como as águas que descem dos sete picos,
de forma tão bela, a mudar como sonhos.

os olhos são duas lindas bolas de fogo
queimando seu combustível, todo o meu amor,
sem se preocupar com todo o meu esforço
feito para mantê-la sempre para mim.

seus lábios, fendas profundas em suas carnes,
fazem arder em mim tanto desejo,
que até me pego a imaginar, quase vejo,
minha língua a buscar cada uma de suas partes.

Sunday, September 25, 2011

3x4 Falseados de A.

é noite há tempos e é mais uma solitária
não existe consolo para mim, só você
que está longe, rodeada da história
de muitos anos que passaram sem se ver.

faz tanto tempo que é noite que já não há
mais esperança de que haja uma mudança
nem há vontade para agir e levantar,
e fazer algo nesta vida que avança.

como já é tão tarde, logo devo partir
a outros mundos, visitar novos confins
além daqui deste lugar, que tem por fim
me limitar, me prender ao somente aqui.

Friday, September 23, 2011

Métrica.

hoje quis escrever um poema mais
um poema como há tempos não faço
com rima e com métrica, bem perspicaz.
com tudo dentro de um simples compasso

feito com um pouco de trabalho,
com um belo bocado de alegria
para não me sentir solitário
na confecção desta nova poesia.

a cada passo da batalha
observa-se bem a métrica
mas talvez haja grandes falhas

na feição deste meu poema
falhas talvez não pequenas
mas certas que foram nada.

Monday, August 29, 2011

A questão.

o que se faz
quando se sente algo
tão intenso,
e o objeto a que direcionamos
esse sentimento
não acredita
nunca?

Tuesday, August 09, 2011

Eu, assim como Ray Charles, tenho uma mulher

eu tenho uma mulher que não sabe
quando escrevo coisas para ela
e quando escrevo coisas por escrever,
só pelo prazer.

tenho uma mulher que não sabe o quanto a amo,
e vive achando que todo o meu amor
vai diretamente para qualquer outra que não ela.

tenho uma mulher
que fica triste, calada, com raiva,
quando escrevo situações irreais com personagens que tem
traços de realidade.

tenho uma mulher que sente ciúme de imagens,
ciúme de ícones,
de pessoas se movendo na tela do cinema.

tenho uma mulher que amo.

Monday, August 08, 2011

RPG

quero um lugar
ao teu lado
da mesa
onde passaremos a vida,
onde passaremos a noite
jogando,
sorrindo,
imaginando.

e eu serei o teu guerreiro
mago bardo paladino bárbaro
serei tudo o que você quiser,
tudo para te salvar
do que vier a acontecer.

quero um lugar
ao teu lado
pelo resto da vida
onde sempre poderei me divertir
contigo nas noites
em que chamarmos amigos
e o mundo sumir
dentro da nossa fantasia.

e invadiremos castelos
e exploraremos masmorras,
mataremos dragões
e derrubaremos ditadores,
seremos heróis
eu e você,
lado a lado.

e quando a campanha
estiver perto do fim,
quando nossas vidas estiverem por um triz,
seremos coroados
rei e rainha dos reinos esquecidos.

Thursday, July 28, 2011

Palavras.

todas as palavras vão sem jamais chegar
todas as palavras fugiram pra algum lugar.

procuro por elas no sol, no céu,
nos papéis velhos e nos novos,
mas elas não estão lá.

eu só me pergunto onde estão.

as palavras fugiram numa noite quente de verão
e já faz frio e já chove e elas ainda não voltaram.

eu sinto em mim o desespero
que é viver sem palavras

e me pergunto se um dia elas estarão comigo
mais uma vez.

Sunday, July 03, 2011

Eu, ela, livros e cama.

quero você
na cama, comigo,
enquanto eu,
depois de ter suado contigo
e desfeito a cama
com nosso amor,
leio um livro do roth e você
lê teu talese
e alguma música toca aleatoriamente
e tudo é bom
e tudo é paz
e nós só amamos.

e eu a sentir o teu calor ao meu lado
termino um parágrafo e te olho
e você me olha
e existe um beijo e voltamos aos livros
sabendo que estamos ali
um pelo outro.

Saturday, June 25, 2011

Irgendwo

immer wenn ich ihr frage,
wo bist du, mein liebchen.
sie sagt mir
irgendwo.

immer wenn ich ihr frage
wohin gehst du, mein liebchen
sie sagt mir
irgendwo.

ich suche sie
irgendwo und irgendwann
obwohl ich sie nicht finden kann.

heute habe ich ihr gefragt
wo bist du, mein liebchen
und sie hat mir gesagt
nirgendwo.

ich glaube das,
nirgendwo ist, wo sie immer geblieben ist.

A Mensagem

hoje eu lembrei
de um fato engraçado
dos idos de anos atrás.

eu tinha um coração quebrado
(não que eu não o tenha mais)
e dormia em uma cama estranha
num quarto de hotel.

não lembro se dia ou noite,
mas uma mensagem me chegou
por engano,
pedindo perdão,
dizendo que errou.

hoje lembrei disso
e imaginei como estaria o remetente de tal mensagem,
e a pessoa que deveria recebe-la,
quem eram, onde andam
será que ela o perdoou?

hoje eu pensei neles dois
e me vi naquele quarto estranho
mais uma vez,
só que agora, eu já enviei essa mensagem
e esperei uma resposta
e já esperei por ela também,
ansioso, sem dormir.

Die Liebe.

não há amor
que no peito viva

e só há amor
na idéia de amar.

não há amor
que se baste na vida

e só há amor
enquanto houver ar.

Friday, June 24, 2011

Dúvida.

talvez eu não tenha o que é preciso
para seguir feliz
e continuar sorrindo.

talvez eu não tenha o necessário
para viver a vida
sem achar que é tudo errado.

talvez eu não seja o que eu devia,
por achar que ninguém mais o é.

A Manel.

ó, manuel
tu que do céu
disseste estar tão cansado
de todo o enfado
da terra acima de ti,
me faz hoje pensar
em como sem hesitar
existe tanto o ruim.

Saturday, June 18, 2011

O dia.

o dia mal começou,
mas sei que não terá mais
que vinte e quatro horas -
agora ele tem menos,
vinte e três horas
e trinta minutos -,
tempo mais que suficiente
para acabar com a alegria
e destruir esperanças,
desmanchar sorrisos
e causar sofrimento.

Toda vida.

o negócio é
que não sabemos como nos portar
ante qualquer coisa que nos dê valor
e não sabemos como viver
sem machucar qualquer um que tente nos compreender.

não sabemos ser calmos
ou ter a parcimônia necessária para a vida.

somos podres por dentro,
por fora,
por toda vida.

Inferno?

"vem aqui"
ela diz
ajeitando as cobertas
e abrindo espaço para mim.

"fica comigo"
seu calor é tão intenso
que me sinto condenado
ao inferno dos abraços.

S. t.

o nome é outro,
mas não importa,
porque quando se chama de verdade,
toda mentira toma forma.

Sobre estar cansado.

estou cansado
e minha cabeça dói
porque estou realmente cansado
e eu consigo
quase ver
tudo o que seria bom.

estou cansado
como se tivesse trabalhado 7 semanas
em um dia,
como se viver
fosse mais exaustivo do que já é.

estou cansado
e não há descanso
para nada.

L.

o medo não é perder
pedaços de carne,
o osso branco exposto ao sol.

não.

o medo é não poder ter
o que sempre quero,
o que mais amo,
vocês.

Azeitonas

duas azeitonas
em órbitas
espelhando o mundo
como ele pode ser,
como é.

duas azeitonas
que flutuam nos sonhos
e se molham
de vez em quando.

duas azeitonas
que me deixam cheio
de vontades:
minha língua a tocá-las.

duas azeitonas
que choram azeite
e dão sabor à vida.

Wednesday, June 01, 2011

Cadê você?

onde está você
para tomar café com leite
comigo
enquanto eu dispo tuas pernas
e palpo tuas coxas.

onde está você
quando eu só quero tomar
uma cerveja
e sentir a tua língua aquecendo
minha boca logo após um gelado gole.

eu quero você agora
como se você fosse o livro que eu devo ler,
como a música que devo ouvir.

eu quero você
como se tudo fosse novidade,
como se eu te tivesse desde sempre.

Fome II

então, como se fosse uma enorme surpresa,
ele nota que a maior parte das coisas que ele fala
é sobre fome.

Monday, May 30, 2011

Torre.

do alto da torre
olha o povo
e sorri feliz
com as decisões tomadas.

a chuva se aproxima,
o céu escurece
e a água cai gota por gota
e se espalha pelas ruas
e pelas casa
e molha o povo todo.

as águas escoam e se vão
como se jamais tivessem chegado
e o sol aparece mais uma vez
acima do povo castigado.

as vidas de todos são como a água
que vem à terra e depois some
em um piscar de olhos,
um mover de mãos,
uma respiração,
tudo se passa, tudo vai.

do alto da torre
ele vê seu povo molhado
e o chão escorregadio
vê seu povo seco
e o chão duro
e sorri feliz
porque tudo é como devia ser.

Morte.

existe cá em mim
um peso que me oprime
um medo que me destrói.

existe cá em mim
um tempo que não passou
um rio que não fluiu.

existe cá em mim
uma dor que jamais sarou
uma ferida que não fechou.

existe cá em mim
a idéia que ainda não cresceu
o pensamento que não superei

existe cá em mim
a vida que não foi vivida
e aquilo que vem depois.

Thursday, May 26, 2011

X

se move como o fogo
como a chama que jamais se apagará
e queima.

queima como o ferro em brasa,
como o ácido.

Nem sempre.

ela me diz:
"você já notou
que a maioria das coisas que você escreve
começam com um
'ela faz alguma coisa' e terminam
sempre com alguma coisa triste?"

eu disse que nem sempre.

e sorri.

Wednesday, May 25, 2011

Quarta feira.

nos corredores a encontrei
quando estava perdida
a procura de algum lugar
que eu não lembro
e não vem ao caso
no momento.

o que importa agora
é dizer o quão linda ela estava
usando um vestido longo,
de um tecido fino
e que lhe caia muito bem.

o que senti ainda me é difícil de descrever.

foi o impulso de construir,
a vontade de ser capaz
de um dia realizar algo tão lindo
quanto ela.

foi em uma quarta feira
do mês chuvoso de maio
que fui até sua casa,
em silêncio,
e entrei, esperando que estivesse tudo bem
para ela.

ela assistia a tv
de vez em quando,
mas me disse que estava desinformada.

isso foi na terça pela manhã
e eu sorri para ela
e ela para mim.

ela estava quente na quarta,
usando um short e uma camiseta verde
com uma estampa de macaco
e flores amarelas,
uma roupa de ficar em casa assistindo a programas ruins que passam
a toda hora.

foi com surpresa que ela reagiu
ao me ver a sua porta
com uma mão forçando a entrada
e fechando-a assim que passei meu corpo por ela.

ela ameaçou gritar,
mas era tarde
e meus braços já a seguravam contra mim,
seu corpo quente de quarta feira,
minha mão segurando um trapo que coloquei em sua boca molhada
e de imediato senti seu calor amolecer.

naquela quarta tive o calor dela todo para mim.
depois de mim, ninguém mais o sentiu.
depois de mim, ninguém mais a teve quente em uma quarta feira.

não.

depois de mim,
sua vida deixou de ser.

e como foi uma quarta bonita,
com o sol alto durante todo o dia,
dia raro numa semana de chuvas.

Tuesday, May 24, 2011

Um pulo.

ela está deitada
com os olhos fechados
e a respiração quase sem existir.

ela está só
e a terra é tão esquisita
para que ela possa compreender.

a lua é amarela,
mas às vezes é clara
como se a luz que vem dela
fosse de uma lâmpada florescente.

a cama é dela
e sem ela há o vazio
e o amassado do colchão
que mostra a localização do seu corpo.

seus olhos miram o vazio do outro lado do quarto
a espera de qualquer coisa,
algo para sentir, algo para pensar.
mas nada vem.

ela está perto de fechar os olhos
quando sente o coração pular uma batida,
quando percebe que é assim que começa,
que é assim que termina.

Monday, May 23, 2011

Melissa.

seu nome era melissa
e ela fazia o que bem entendia
e não havia nada em todo o mundo que impedisse melissa
de conseguir o que ela queria.

ao nascer, melissa tinha 47 centimetros
e pesava três quilos
e duzentos e sessenta e quatro gramas
e era a luz a vida de seus pais.

ela cresceu
como tudo mais que veio a terra faz,
e tudo o que queria virava realidade
e melissa foi se tornando cada vez mais gente,
cada vez mais uma moça inteligente,
o raio de sol que iluminava os caminhos a se seguir.

melissa foi feliz
por toda a sua infância
e tão feliz quanto adolescentes podem ser
com todos aqueles hormônios fervilhando.

foi quando melissa tinha dezessete anos
que conheceu tulio,
seu primeiro grande amor,
que à época, com todo o fervor da paixão juvenil,
acreditou ser o único.

túlio era mais alto que ela,
forte o suficiente para que ela se sentisse segura em seus braços
e costumava usar jeans e camisetas escuras,
mesmo em dias quentes
como era a grande maioria.

com túlio, melissa experimentou todas as coisas que pensou que só existissem no mundo inventado,
mas que logo viu que era a maior verdade.
então ela se entregou completamente à paixão cega
e quando túlio apareceu uma noite
ao pé de porta, pedindo para entrar
já que seus pais estavam fora,
ela hesitou e teve medo pela primeira vez
porque ele estava demasiado exaltado
e parecia impaciente com algo.

foi nessa noite que ela sentiu contra sua face
o choque da mão de túlio
que parecia outra pessoa
e soltava palavras agressivas
uma atrás da outra
chamando-a de puta
e dizendo que queria sexo
e mais uma vez houve o choque da mão,
dessa vez fechada,
o som seco, osso contra osso,
articulações iterfalangianas contra zigomático,
as lágrimas correndo do rosto de melissa
e ela pensa em seus pais
e em que prato eles pediram para o jantar de dezoito anos de casados
e ela sente outra vez o choque,
dessa vez em seu abdome,
o que a deixa sem ar,
as mãos fortes dele dobram seu corpo e a jogam no chão,
a bochecha esquerda toca o assoalho espelhado
e as lágrimas escorrem no chão de mármore,
o sangue começa a pingar
e ela pensa em como seu sangue pinga no chão
sujando tudo,
as mãos de túlio arrancam seu short,
rasgam sua calcinha
e ela sente náusea e o vômito vindo
e a última coisa que vê é um pedaço de frango
mal mastigado e meio digerido
e as últimas coisas que sente são o cheiro azedo
do seu vômito
e uma pancada forte,
como se túlio tivesse juntado as mãos
para dar um golpe mais forte
em sua nuca.
o resto é escuro.

o corpo de melissa foi enterrado
na manhã seguinte
e o colégio declarou luto.
seus pais jamais esqueceram da noite de dezoito anos de casados
e a tensão entre eles não durou muito.
dentro de dois anos houve o divórcio
e em quatro anos o pai de melissa saltava do prédio onde morava
com a nova esposa e seu enteado.
a mãe de melissa nunca se casou novamente.

túlio fugiu da cidade
e nunca mais foi visto.

Saturday, May 21, 2011

mulher.

mulher de pele clara
como a luz
que vem do céu
e toca o teu rosto maravilhoso,
afogue-me em tuas curvas,
em teu sorriso,
me dê teu calor.

mulher das mãos tão macias
me chame pra perto
e me acolha em você
por tempos e tempos alegres
que farão esquecer
todo o tempo que vivi sem ti.

mulher dos olhos espelhados
me deixe ver o que tu vês em mim
para assim poder sempre dizer
que estar com você
é sempre ser feliz.

Sunday, May 01, 2011

Minha kriptonita, meu anel amarelo.

queria ouvir tua voz
me dizendo que sente minha falta
me dizendo que me quer ao teu lado
nessas noites chuvosas
e nas secas e quentes.

queria ouvir tua voz
no meu ouvido
e sentir tua língua na minha
o toque da tua mão quente
e o cheiro do teu cangote.

eu queria mesmo
era ter a certeza que ao acordar
você estaria ao meu lado
ou na sala, lendo um livro,
e eu chegaria ao teu lado
e sentiria teu corpo e o apertaria
bem forte junto ao meu
para que tu nunca mais te afastes de mim
e eu nunca mais deixe o teu lado.

Saturday, April 30, 2011

Você não me ensinou a te esquecer, mas vejo que você continua andando.

eu me controlo
e me contorço
eu me mordo.

mas não sei, simplesmente,
como faz para deixar de lado
toda a preciosidade
e todo o tempo
que tenho em mim.

Saída.

é noite
e ela está vestida para ela
colocou o vestido negro
que ele tanto gostava e tanto exaltava
tomou seus banhos,
perfumou-se
e usou o desodorante que ele falava que a deixava ainda mais saborosa.

foi à rua para esquecer,
para queimar tudo o que aconteceu,
para machucar
para se perder
nos braços,
nos beijos,
nas camas.

não se questiona,
não duvida
e em momento nenhum se arrepende.

Lembrança.

eu me lembro
mas não devia.

então esqueço
e tudo volta.

eu esqueço
de esquecer
e não lembro
de não lembrar.

sinto fome
e penso
em todas as vontades
que tenho
e em como só essa
pode ser saciada agora.

Silêncio

o silêncio é uma faca
que corta carne
e alma,
estraçalha.

Friday, April 29, 2011

E eu me pergunto como uma noite com batata doce, omelete e capuccino pôde terminar tão mal.

"fui atender
e não era o meu amor."

O mundo.

não creio no arrependimento
e nem espero telefonemas,
porque não sou essencial,
porque viver sem mim é mais fácil.

Me dá um oi.

espera
e espera
com uma esperança tão grande em seu peito.

espera
e espera
mesmo sabendo que sua espera não levará a nada.

espera
e espera
conhecendo aquilo por que espera
e tendo a certeza que não adianta esperar,
ela não dirá um oi.

Problema com a musa.

eu queria
que você acreditasse
nas palavras
que são pra você.

mas você só quer
as que não são.

As horas do dia.

são três horas da manhã
e o telefone está calado
desde as nove horas
da noite anterior,
que se estende infinita
na angústia e na agonia.

são sete horas da manhã
e o silêncio é tão grande
que os pássaros lá fora
parecem estar aqui dentro
cantando no ouvido
e bicando minha cabeça.

são dez horas da manhã
e eu me pego pensando.

Thursday, April 28, 2011

Sufoco

havia algo preso em sua garganta
e só ela - a dona -
sabia o que era.

havia algo em sua bela garganta
que a impedia de respirar
e a deixava sempre no sufoco.

havia algo em sua garganta
até o momento em que ela engasgou
e morreu na rua sete de setembro
às 17 horas
de uma tarde de mês de chuvas.

A Palavra Dita

sem que possa voltar
ao tempo em que nada existia
ao tempo em que nada importava.

Monday, April 25, 2011

O sonho.

eu lembro de uma noite
que talvez nem tenha existido
(e é o mais provável,
que tudo isso tenha sido um sonho)
em que ela me disse que se sentia feliz
de estar comigo,
que se sentia bem de saber que era minha
e que de fato podia contar comigo.

Sunday, April 24, 2011

Amende.

a máquina sou eu.

Ninar.

queria te chamar de beibe
te fechar os olhos
e cobrir de beijos.

Voz

eu já ouvi
mil coisas
na vida
já ouvi que estava calado
e que falava demais.

não seguindo
necessariamente
essa ordem
na cronologia dos fatos.

mas, talvez,
essa voz que fala demais
não seja minha,
talvez ela só venha
de dentro.

A continuidade da máquina.

uma máquina
com olhos e boca
da qual vêm todas as brutalidades,
de onde saem todas as inverdades,
que existem.

uma máquina
construída para destruir
planejada para desfazer planos.

uma máquina
abandonada, esquecida, enferrujada,
que ainda assim
nas noites que vão
não a deixam passar em branco.

uma máquina
que tem nome, rg, certidão de nascimento
e cpf,
até mesmo uma cnh,
programada para fazer
e dizer só
e somente aquilo que machuca
e que estraga.

Friday, April 22, 2011

Bonança.

é um dia ensolarado
e, de repente, sem nenhum aviso,
sem nuvens no horizonte,
o céu desaba
e a água arrasta tudo.

no entanto,
é um dia ensolarado
no meio de dias chuvosos
e isso não deve ser esquecido.

Cansado.

estou cansado
e, lá fora,
o mundo não se importa com isso.

estou cansado
e não há muita coisa que se possa fazer
quanto a isso.

estou cansado
da vida que não vivi
e talvez até da que sim.

estou cansado
e sei que não há descanso
para nada na vida.

estou cansado
e sei que minha alma nunca terá descanso
porque não existe nada além.

estou cansado
e não sei conviver com isso.

estou cansado
e sinto que
dentro de três meses
ou três anos
terei um furo no meu estômago
que me fará sangrar até a morte.

estou cansado
porque não há nada que impeça
isso que está pra acontecer.

estou cansado
porque eu queria tanto evitar
e não morrer.

estou cansado,
meu bem,
estou cansado e quero descansar.

Wednesday, April 20, 2011

Isso.

sinto que ainda precisa crescer
sinto que ainda não está pronto
sinto que o que sinto
é muito pouco perto do que posso sentir
e só penso,
só sinto
que ainda preciso de um tempo
para sentir ainda mais.

Vem comigo e pega minha mão.

existe eu
existe você
e existe uma sala vazia
com um som tocando um
rock n roll
daqueles que podemos dançar juntos
e eu me pergunto
por que é que há essa distância entre nossos corpos?

Tuesday, April 19, 2011

Torcedor

eu queria
ser o mestre
das palavras
e poder torcê-las
e retorcê-las
e,
então,
torcê-las novamente.

como me ensinou o mestre,
como tem sido feito há séculos.

eu queria ser o mestre
das palavras
para assim ser capaz de expressar
tudo o que há.

IAM.

a visão turva
e já não sinto nada
porque metade de mim foi embora.

me falta o ar
e o peito dói
enquanto sinto o mundo ao redor sumir.

Saturday, April 16, 2011

"Só sei dançar com você"

existem coisas
que só o amor faz.

para todo o resto
há o que sobra.

Friday, April 15, 2011

De não estrela boa.

o silêncio vem
comandando seu reino
entre nós nesses dias

as coisas que digo
que penso
que escrevo
são cada vez mais fáceis
de se apagar pelo tempo,
pela vontade, pelo olhar.

acredito que seja
coisa daquela velha arte.

Alegria

de vez em quando,
especialmente depois de grandes decepções,
é bom saber
que ainda existe esperança
e que as coisas podem sim
ser boas.

pelo menos boas o suficiente
para nos dar alegria e prazer.

Dois mundos.

estou em casa
e tenho aqui
os pensamentos
do mundo
do absurdo.

tenho aqui comigo
também
os pensamentos
de um mundo irreal
tão fabuloso
que podemos palpá-lo.

tenho dois mundos
incríveis aqui nesse lugar
infinitos mundos dentro de mim.

Thursday, April 14, 2011

Absurdo.

o absurdo
é aquilo que a gente
tenta a vida toda aceitar.

o absurdo
é o pensamento,
é a idéia.

o absurdo
é tudo aquilo que acontece
quando não queremos que nada do que aconteceu
de fato
tenha acontecido realmente.

o absurdo
é isso.

VII

cresce em mim
um sentimento
tão nobre
que seu nome
está na lista.

v

palavra que significa tanto
em tão pouco,
palavra que diz tudo
enquanto nada fala.

é ela a palavra que permanece calada
enquanto vivemos achando que nunca a diremos.

é a imensidão do abismo
que nos encara quando nos esquecemos
que ele pode nos olhar de volta.

mas ela vem
forte como só ela pode ser,
única como nenhuma outra,
e, como o vento,
como o tempo,
ela nos joga no chão,
nos humilha, nos torna humanos.

O rio que flui e a vida que morre.

o que é o tempo?
é algo que é muito maior
do que minhas tentativas
inúteis
de definí-lo.

Os lábios de Isabelle.

sinto o gosto
de chocolate
cigarro
e café.

mas o único gosto
que queria sentir
era o dos lábios
de isabelle.

Eu.

sou eu quem digo
ao teu ouvido
todas as coisas
do teu mundo umbigo,
quem cutuca teu juízo,
quem desmancha teu sorriso.

sou em quem assombra teus dias
e desfaz a poesia,
quem sua carne rasgaria
num impulso simples de ira
jogando os pensamentos no fogo da pira

transformando-te em cinzas.

Sábado?

será que houve um dia
na criação
em que reinou a calmaria?

Wednesday, April 13, 2011

Ao longo da semana.

ela me disse:
"preciso estar só
e com você tudo é tão pior."

é uma segunda
quando ela me diz
que já não sou o que ela quis.

ela me fala
que seu corpo ao meu lado
são lembranças que pertencem ao passado.

ela me disse:
"preciso resolver
tudo isso o que sinto, para esquecer"

é uma terça
quando ela explica
que necessita me tirar da sua vida.

ela me fala
que já faz um tempo
que ela acha que não tem contentamento.

ela me diz:
"talvez seja pro bem
cada um seguir com outro alguém."

é uma quarta
quando ela se senta
ao meu lado e diz que não aguenta.

ela me fala
que há tempos é assim
e que faz isso por ela e por mim.

ela me diz:
"preciso ir embora
e tenho medo que já tenha sido a hora"

é uma quinta
quando ela me chega
se despedindo e cheirando a manteiga.

ela me fala
que já não dá mais
e que tudo o que ela quer é paz.

ela me diz:
"eu já não sei mais nada.
tudo o que quero é pegar a longa estrada."

é uma sexta
quando ela me beija
e eu sinto seu gosto de cerveja.

ela me fala
que pretende mudar
e no momento precisa de outro lugar.

ela me diz:
"pode ser que dê certo,
mas as chances são como água no deserto."

é um sábado
e ela está em meus braços
e nossos corpos numa só cama, apertados.

ela me fala
que quer estar assim comigo,
enquanto eu beijo seu umbigo

ela me diz:
"é, talvez não haja jeito,
mas quando estamos assim, é quase perfeito."

é um domingo
e ela está aqui comigo
por quanto tempo? não sei. enquanto durar.

Tuesday, April 12, 2011

A Metamorfose.

certo dia
ao acordar
de sonhos ruins
notou-se transmutado
em um ser completamente diferente,
apesar de permanecer com os mesmos olhos,
os mesmos membros,
os mesmos órgãos sexuais.

em seu sonho
vira os olhos do abismo
e o abismo,
como nietzsche disse,
o encarou.

mudara
e não sabia -
é aí que plana o terror -
se o que se passou
foi para melhor.

Sexto sentido.

é bem típico,
e não importa a hora -
tarde, manhã ou noite -
ela chegar
com sua voz doce,
e perguntar
se todas as coisas
que ele diz
têm um sentido além do que ela entendeu.

Monday, April 11, 2011

Noite.

quando é
que será tudo igual?

quando já for tarde?

talvez já seja noite.

Duração.

perguntas que corroem a mente,
destroem a alma,
destroçam o homem.

perguntas que não se calam,
mas falam cada vez mais algo,
perguntas que gritam a plenos pulmões.

e o tempo
que deveria ser a cura
dos maiores males
que já afligiram a terra
e suas criaturas,
ele parece não ter poder
contra essa moléstia.

é ensurdecedor
e dói.

por tudo o que já passou,
por tudo aquilo que já vi,
posso dizer
que ainda há muito
por vir.

Como eu disse anteriormente.

du kommst hin
und aus.
die Strasse sind alle voll.

ich will nichts besonderes.
nur dich.

De quando eu volto para o que eu fazia, mas agora tentando diferente.

ich werde
mit dir
ins Kino, in die Disco, irgendwo
- und nur mit dir -
gehen.

Friday, April 08, 2011

Milho.

a gente tenta
tenta
e tenta
mas sozinho
não dá.

Thursday, April 07, 2011

Como faz.

introjeta a idéia
e transforma em realidade.

Wednesday, April 06, 2011

O que não consigo dizer.

não sou poeta
e todos podem perceber isso
muito bem,
ao ler tudo isso.

não sou poeta e não sei passar sentimentos
da forma desejada
para o papel.

sou incapaz de dizer,
descrever tudo aquilo que sinto,
em algumas palavras que não sejam breves,
curtas, secas,
de alguma forma,
não realmente relacionadas com aquilo que quero dizer.

não sei como dizer
que
quando olho para uma pessoa
e vejo o sofrimento
a tristeza
a dor
e imagino
toda a vida
de alegrias perdidas
de possibilidades que não foram
de tempo jogado fora,
meu peito machuca,
minha garganta dá um nó
e eu penso
em como é triste
que eu não consiga
dizer ao mundo inteiro
que há tanta coisa ruim no mundo
e que o que todo mundo devia
fazer nessa vida
era viver e sorrir
e ser feliz
e aproveitar cada segundo que a gente tem.

Fala.

com quem vier
só não comigo.

Migração.

de todas as coisas que haviam em comum
talvez tenha sobrado somente uma
ou até mesmo ela migrou para outro
dos pólos de interesse?

Quarto vazio.

existe um quarto
vazio,
mas cheio de lembranças
de tudo aquilo
que somos
que fomos
e que seremos.

existe um quarto vazio separando dois mundos
e não é possível atravessá-lo.

Tuesday, April 05, 2011

Descoberta.

o desprezo,
a dor,
a fúria
nos olhos,
nos dentes,
nas unhas,
na carne.

Liu.

foi meu primeiro amor,
aquele que jamais esquecerei.

até hoje posso lembrar de seus carinhos,
sua risada,
seu jeito carinhoso
de me aninhar em seu colo
quando eu mais precisava.

o primeiro amor que tive
e senti como se sente
quando se tem
um primeiro amor.

foi meu primeiro amor
e, devo dizer, sinto falta dela até hoje.

e quando me sinto triste, hoje
me sinto ainda pior por saber que não posso contar com ela,
que nunca mais escutarei sua voz falando comigo.

foi meu primeiro amor
do tipo de primeiro amor que não vai embora nunca.

e por mais que passe o tempo,
e leve os detalhes embora,
os timbres, as texturas,
sempre lembrarei de como ela me fazia sentir amado
mesmo quando quem me devia mais amor
não o fazia.

foi meu primeiro amor
e é sobre ela que vou contar quando for velho
e tiver filhos
e netos
para quem contar histórias
sobre o passado
e sobre como era a minha vida.

foi ela, meu primeiro amor,
que, numa noite de terça feira,
me tomou nos braços
e beijou minha testa.

posso sentir seus lábios quentes agora,
apesar de já terem sido esfriados pelo tempo,
pela única consequência da vida.

ela foi o primeiro amor que tive,
o primeiro que me fez verter lágrimas,
o primeiro que me deixou triste,
o que me fez repensar a vida.

ela foi o meu primeiro amor,
aquele que até hoje sinto.

Não sei.

fala-se de livros.

eles existem,
espalham-se em milhões de corredores,
espelham-se num infinito de possibilidades.

falam dos livros
e de como eles têm as respostas
para as perguntas que fazemos
a nós mesmos
e ao mundo
e que só nos basta procurar
bem fundo,
não neles, em nós
o que queremos.
eles são auxiliadores.

me disseram
um dia
que se eu procurasse bem fundo
em mim mesmo,
encontraria tudo o que eu precisava,
mas eu procuro,
procuro,
procuro.

Espelho.

a imagem imita o objeto.

não há nenhuma mudança.

a imagem imita em cada detalhe
tudo o que o objeto faz
e não sente remorsos,
não sente dor,
não sente prazer,
porque é apenas aquilo que sabe fazer,
não foi feita para aprender,
somente imitar.

Monday, April 04, 2011

Somatização.

afundando, afundando,
cada movimento
ficando cada vez mais lento.

minha cabeça pesa, então, uma tonelada
e me puxa para baixo,
para o fundo.

os sons não chegam aos ouvidos,
o ar entra líquido em meus pulmões,
queimando, rasgando,
misturando-se em meu sangue
como veneno.

os olhos não enxergam
através da densa escuridão
que engole tudo.

não existe um mundo,
não existe vida,
não existe esperança.

é tudo medo,
é tudo dor,
é tudo real.

A terra.

a terra pesa
sobre o corpo deitado
há tanto tempo
que não sei bem quanto.

talvez há tanto
quanto o nosso amor.

a terra esconde
tudo o que passou
de tudo sobre ela
e de todos.

mas não há nada
que apague lembranças.

a terra é suja
e seus vermes corroem
e devoram sonhos
transformando-os em pesadelos.

mas tudo o que um dia foi
nunca deixará, de alguma forma, de ser.

Friday, April 01, 2011

"ela empacotou minha bolsa ontem à noite."

colocou minhas camisas
bem dobradas, como só ela consegue fazer,
minhas calças,
algumas meias e cuecas
dentro da minha mochila
de costas
e me entregou assim que cheguei.

disse tão calmamente
que nunca mais me veria,
que iria me evitar a todo custo
e tudo o que fosse meu
que não estivesse empacotado
era agora dela.

carreguei minhas coisas
rua à fora
e me hospedei no primeiro hotel que encontrei
- a diária era o preço de um sanduíche
desses que te envenenam a alma
e te entopem as veias,
o quarto era sujo,
escuro e o colchão tinha um odor
de esperma e mijo de muitos outros hóspedes anteriores.

fiquei naquele lugar
até perceber que não havia mais volta,
ela tinha tomado a decisão final.

estava deitado na cama
quando escutei o barulho
e pensei que fosse o escape
de um carro velho que passava
pela rua,
mas estava enganado.

alguns homens se matavam em frente ao portão,
o sangue escorria pelo asfalto
e isso me fez lembrar que foi dela
o único sangue que sorvi, o único
que precisei,
o único que quis
que fosse misturado ao meu.

então senti uma lágrima escorrendo pelo canto do meu rosto,
se eu soubesse o que viria,
não teria tentado conter os pensamentos,
que vinham num imenso fluxo,
meu rosto se transfigurou em uma careta de dor
e uma enxurrada de lembranças me jogou na cama.

acordei horas depois,
e não havia nenhuma estrela no céu,
nenhuma luz na rua,
a escuridão me devorava no meio da noite
e eu me entreguei a ela
na esperança de poder
talvez
seguir.

Wednesday, March 30, 2011

O Passado.

não há nada
que não lembre
do que não se quer esquecer.

De como quero.

eu quero te possuir
como se possui um livro,
te lendo toda,
te tendo toda,
te pondo pra dentro de mim
e te absorvendo
lenta e completamente
cada vez
mais e mais.

Observadores.

talvez tudo isso tenha começado comigo,
mas eu não sei, acho que sim,
as coisas geralmente são como elas
nos dizem, independentemente de como nós
nos lembramos delas.

não sei classificar o que acontece
sem utilizar o nome abismo
e sem expressar a distância
que se abre entre nós
que parece ser cada vez maior,
apesar de não haver mais nenhuma
mudança geográfica por nossa parte.

queria que tudo fosse como era antes,
sentir alegria vinda de você,
alguma alegria,
a mínima possível,
necessária,
para que eu saiba que sim,
que você acredita,
que sim,
não somos tão possíveis
quanto alienígenas observando
a terra enquanto um consenso interplanetário
decide que não vai interferir na vida
terreste com seu conhecimento avançado
e nos deixará viver em nosso primitivismo.

quero que voltemos ao tempo
em que havia os pensamentos que somos reais
e que um dia
povoaríamos o mundo com nossa semente
e seria bom.

sinto falta
todo dia
do tempo
que ainda não foi
e que ainda não veio
e que parece
cada vez menos possível.

Monday, March 28, 2011

Domingo ?

é domingo.
minto, na verdade é segunda feira
e o fim de semana passou
e a vida passou
e muitas coisas passaram
e eu pensei que seria o nosso derradeiro
- talvez até tenha sido, não sabemos,
você não sabe.

é domingo,
ou segunda, isso não importa,
porque tenho uma fome tão grande
que eu poderia morder
sua carne
até sentir o sabor férreo do teu sangue
passeando pelas minhas papilas gustativas
e escorrendo pela minha garganta,
como se fizessem um caminho
há muito conhecido.

é domingo, mas não é mais
porque no domingo eu te tive
e agora não.

Wednesday, March 23, 2011

Mais palavras que no dicionário.

em cada pedaço de folha
do livro vazio
que se estende à minha frente
e se preenche a cada segundo
com novas palavras, novos fatos,
existe você.

Wednesday, March 16, 2011

Pré requisito.

a gente tem que fechar várias coisas.
e pra te amar
é preciso saber disso.

Algumas folhas de caderno escritas com tua letra.

lembra de quando você me escreveu
uma carta de cinco ou três páginas
depois que eu te escrevi uma
tão longa quanto e você se impressionou
com a quantidade de coisas inúteis que eu conseguia
e ainda consigo
colocar em uma folha de papel?

bem, eu me lembro como se fosse ontem,
apesar de sua última carta para mim já ter quase
- ou mais de - um ano
e eu me pergunto se alguma outra vez você quis me escrever
qualquer palavra que fosse,
porque eu sempre penso que todas as minhas palavras
por você seriam mais claras se eu conseguisse escrevê-las,
assim elas seriam eternas, seriam
mais fortes e mais afirmativas
e talvez assim você acreditasse nas coisas que eu sempre te disse
e desse um pouco mais de valor
ao que nós dois somos,
eu e você
e esse sentimento que tenho por você e que,
por falta de um nome mais forte,
mais preciso, mais bonito,
chamo de amor, apesar de achar que talvez somente isso
não se encaixe e não se adeqüe a nós dois.

a tua carta está em minha lembrança,
o teu rosto está em minha lembrança
e eu só consigo pensar
onde está você agora,
que está tão distante que não consigo ouvir tua voz.

Monday, March 14, 2011

Poesia.

teu nome,
teu riso,
tua alegria,
teu olhar,
teus lábios,
o sabor da tua saliva
e sua língua passeando
em meu palato,
tua pele,
teu cheiro,
teus cabelos
e teus pêlos
se eriçando
ao toque dos meus dedos,
tua mão
ao meu redor,
me segurando, me protegendo,
me puxando pra si
devagar, forte, sempre.

2000.

todas os toscos versos,
sem métrica, sem nexo,
todos os pensamentos
mais escuros que flutuam
no vazio da minha mente.

todos eles não existem
sem você, poesia.

Friday, March 11, 2011

Lust

onde está?

Rato.

als ich gehe von ihr
aus,
fuhle ich
kleiner als ein Maus.

Thursday, March 10, 2011

2666

existem mais de
dois mil
seiscentos e sessenta
e seis motivos
para eu te querer
todo dia
cada dia
e que venham
mais
dois mil
seiscentos e sessenta
e seis dias
contigo
para que eu te mostre
todos os motivos
para te amar.

lado.

é quando eu sinto
o calor do teu toque
sem querer
quando eu viro na cama
de madrugada,
que eu sinto
que tudo mais
é resto
e que só o que é bom
é deitar
ao teu lado
é estar
ao teu lado
é viver
do teu lado.

Esmeralda

encarar a jóia do teu olhar
pelo resto da eternidade
e sentir a ternura,
a paz,
a alegria de ter você comigo.

é isso que quero todos os dias
é isso que penso todas as horas
é isso que sinto sempre
ao encarar a jóia do teu olhar.

Enquanto te aperto, você me escapa.

eu queria te tomar
em meus braços
nunca te largar,
nunca deixar o mundo
te afastar
de mim.

como disse o poeta.

a gente
não foi feito
pra ficar
assim separado.

Monday, March 07, 2011

Espelho de versos.

é alguma hora
e o telefone toca
e você me diz
que não sabe quem é.

então eu te digo
que você não está se reconhecendo
no espelho.

onde está?

vejo páginas se abrindo
nos meus livros,
como pernas.

e na minha cama
eu procuro você.

H&I

você me pergunta
entre um gole
dessa garrafa safira
se eu realmente falo
o que minhas palavras dizem.

eu te olho no fundo
do teu verde
através das nossas lentes
e te digo
que cada palavra
significa
ainda mais do que se possa imaginar.

Wednesday, March 02, 2011

Fome

eu tenho fome
porque é madrugada
e eu estou sem você
há mais de quatro dias.

tenho fome
porque é noite,
é quente
e é solitário.

eu tenho fome
porque eu acho
que em toda a minha vida
ainda não ouvi sua voz
o suficiente.

eu tenho fome.

Wednesday, February 23, 2011

Dentes

o teu sorriso
me vem à mente
e eu penso
que ele
talvez seja a única coisa
que eu gostaria de ver
agora

Tuesday, February 22, 2011

1 no dado.

talvez por não saber
exatamente o que devo dizer
é que eu escreva tudo
o que eu penso
e tudo o que acho
e cada uma das pequenas impressões que tive.

talvez por não saber o que sentir
eu diga o que digo
e faça o que faço.

talvez por não saber como amar
eu tente
e falhe.

Sobre as palavras.

acho que descobri
o que amo
em escrever.

amo o fato de não precisar
de você
ou de ninguém
para dizer
o que estou sentindo.

e amo o fato
de, ao mesmo tempo, saber
que quando falo
de você,
e pra você,
tudo fica bem mais fácil.

Cego.

é noite, querida,
e eu só penso em como você está indo
tão devagar
como a noite.

e eu nem estou perto de você
pra poder dizer qualquer coisa
ou poder sentir o cheiro da tua pele
deitada suada na cama.

é noite
e parece que a escuridão
que achava que conhecia
não era tão verdadeira
quanto pensei.

Tuesday, February 01, 2011

Natureza.

eu consigo me imaginar
dizendo ao seu ouvido
sua mão na minha,
eu sentindo cada uma das tuas falanges:
"tu não quer sentir
meus ossos contra os teus?
porque eu quero nossos esqueletos assim,
tentando se fundir
até o fim."

você não acha que isso seja
algo natural pra nós dois?