Friday, December 26, 2014

História.

reconstrói tudo toda vez
a partir de memórias que nem sei
se lembra mais, e
de histórias que nem sei se contam mais,
pequenos contos que não trazem paz
perturbações
que flutuam pelo ar
esperando o momento de voltar
para atormentar e perturbar
o presente
e arruinar
os muitos planos de futuro
com um passado
doente
cheio de ranço e rancor
que paira como marx uma vez sonhou
que o comunismo faria.

no entanto a foice da lembrança corta
e o martelo da memória pesa
cortando a carne e amassando crânios
que caem no esquecimento.

reconstrói tudo
mais uma vez
esperando que a ruína não mais aconteça.

Wednesday, December 17, 2014

Queda.

as mãos se movem
tentando aparar a queda
mas o chão parece nunca chegar.

Thursday, December 11, 2014

Oito anos.

oito anos de tentativas frustradas de esquecimento
de cantos de amores que esmorecem
de dias que humilham, noites que fervem
de sentimentos que perdem seus nomes
pois se destroçam e devoram
até que não reste nada
além da lembrança de que um dia
algo há muito perdido
foi bom a ponto de fazer rir,
embora hoje só traga dor.

oito anos de cantos tortos
que morrem na calada da noite
abafados por murmúrios e suspiros.

Sunday, November 23, 2014

Corpore.

o corpo range
treme, geme, estremece,
o corpo é fraco,
feito de carne e osso,
não é aço e concreto,
é falho e feio,
e mole.

o corpo tomba
mãos tronchas, cabeça tonta,
coluna torta, envergada toda,
olhos inchados. pulmão com catarro,
o corpo enfraquece, desfalece,
falece,
falha e morre, para.

o corpo do homem, essa máquina divina,
imagem e semelhança de deus,
é falho como somente
a mente de deus pode criar.

Wednesday, November 12, 2014

Olha a poesia.

olha a poesia
dita, lida, escrita,
passada tanto tempo
do tempo que foi pensada.

ainda vive a poesia
com força e fôlego em seu pulmão
um grito tão alto que assusta
amedronta e enche de temor
e raiva e vontades, desejos
de mudança da vida que existe
e existia desse mesmo jeito
quando nem nós dois estávamos aqui
(coisas que eu nunca me acostumo, meu deus,
como faz para se adaptar?)

olha a poesia
que nem eu nem você fizemos
que nenhum de nós vivemos
que jamais sonhamos
olha ela em preto e branco
- celulóide (mesmo que o papel esteja amarelado de tempo)
e tinta preta -
olha ela ali,
mas cadê você?

Monday, November 10, 2014

Delta t.

Pequeno demais o tempo
Ínfimo quando comparado ao todo
E ainda menor somos nós
Submetidos aos desejos dos segundos
Que passam, arranham, machucam, massacram.

Escravos do minúsculo
É o que somos.

Wednesday, November 05, 2014

Universo umbigo.

a onda que quebra na praia
e a árvore que cai na floresta
o gelo que derrete e se quebra na queda da geleira
o choro do animal moribundo na mata
a vida acontecendo, e ninguém vendo

a baleia emergindo para respirar
o pássaro ruflando suas asas
o vento soprando o pólen e germinando novas plantas
a vida que acontece cheia de vigor
sem ser observada.

quão ínfima é a parte do homem
diante das maravilhas do mundo,
e ainda assim nos colocamos
no centro de tudo.

Na verdade...

a verdade não faz bem,
a verdade não liberta,
a verdade não traz paz,
a verdade não alivia,
a verdade não dá sono,
a verdade não cura,
a verdade não é nada
além dela mesma,
fechada sobre si,
intruncada, um segredo,

a verdade não é novo começo,
a verdade não é fim,
a verdade não é vida,
a verdade não é sinal de boa fé,
a verdade não é prova de amor,
a verdade não é um presente que se dá,
a verdade não é Maior.


Tuesday, October 21, 2014

Indescritível.

eu não conseguiria escrever um poema
que dissesse o quanto sinto a tua falta
tanto em noites frias quanto em dias quentes
tanto em dias escuros e noites insones
ou em qualquer outra circunstância que venha a calhar
ser descrita para o melhor desenvolvimento do poema.

por isso, hoje, nessa noite de outubro,
eu nem tentarei dizer que quando fecho os meus olhos é você quem vejo
ou que é teu beijo que desejo
e teu corpo ao meu lado na cama é o que mais quero.

não adiantaria nada dizer essas coisas,
porque eu continuaria sozinho,
o colchão continuaria sem o peso do teu corpo
e minha vida permaneceria sem vida.

Força da natureza.

o sol correu seu trajeto até agora
e ninguém o impediu,
porque não há o que fazer contra a vontade do sol.

logo mais, a noite chegará,
porque será sua hora
e é de sua natureza que ela chegue
logo depois de o sol
ir embora.

(quando mais viria a noite,
se não quando fosse embora o sol?)

em minha boca o gosto amargo do café
ainda permanece
embora já faça uma hora desde que ele esfriou.

sinto fome, sinto um frio na espinha também,
sinto um impulso incontrolável de escrever
e é por isso que escrevo,
porque assim como o sol percorre seu espaço no céu,
e a noite aparece com suas luzes,
eu escrevo.

Monday, October 20, 2014

Desespero.

tantas vidas vividas
e nenhuma delas
parece servir para me acalmar.

Sunday, October 19, 2014

O monte i.

todos os dias se acumulam,
em montes gigantescos -
mais altos que as montanhas de marte -,
as realizações não realizadas
os estudos não estudados
os livros não lidos
as pessoas não conhecidas
as vidas não vividas.

amontoam-se e brigam entre si
sobre si
sob si
competem por atenção
tentam se sobressair,
mas a verdade é que o monte só cresce
e o esquecimento e abandono é a maior certeza.

Wednesday, October 15, 2014

Sobre as águas inflamáveis do tempo.

as chamas do tempo deixam suas marcas,
mas há lembranças mais fáceis de esquecer que outras.

Monday, October 13, 2014

LZ.

tudo o que quero é estar
dentro de você
enquanto led zeppelin toca nos alto falantes
e você mistura seus gemidos com a guitarra.

e depois, quando estivermos cansados, deitados,
tomados banho,
quero que você pegue seu livro
e eu pegue o meu,
e deitemos em silêncio por uma ou duas horas,
antes de levantarmos para jantarmos
e depois, mais uma vez,
escutarmos os gigantes
que um dia caminharam sobre a terra.

Thursday, October 09, 2014

Pandora.

a felicidade pode ser encontrada
muitas vezes onde acreditamos que ela não está,
no entanto,
os locais onde mais achamos que a encontraremos
são aqueles que só trazem tristeza
e tragédias,
como uma caixa de pandora
que nos foi prometida que faria o mundo melhor,
no entanto só destrói.

Monday, October 06, 2014

4x2 revisitada.

lembra quando a gente cantava
noite a dentro
para as estrelas
como se, mesmo distantes,
elas pudessem nos ouvir
e conosco sorrir nossa alegria?

quanto tempo faz desde que nos encontramos
num pedaço de chão batido
com as cordas a vibrar um lá menor
e soltarmos nossas vozes
a plenos pulmões?

muito tempo desde o puta que pariu.

Calendário.

traço planos no calendário
cada data um ponto
e ligo cada um deles,
desejando no tracejado vislumbrar o meu futuro,
mas o que vejo é só mais um plano,
mais um sonho,
mais um dia,
infinitos pontos.

Wednesday, October 01, 2014

O coração.

o coração correndo com pressa,
pulando o compasso,
fugindo das normas, grita afobado
"que raio de vida é essa,
meu deus, que não é a que eu quis?"

mas o que deus tem a ver com isso,
se o que o coração, entre batidas, diz
é somente fruto do seu vício?

e sem notar quase cansa,
num tropeço quase para,
o coração que se encanta
e dificilmente sara.

Wednesday, September 24, 2014

Ourives.

colocar palavras no vazio dói,
mas não tanto quanto retirá-las
da forja quente em meu peito.

Tuesday, September 23, 2014

"Quando vier a primavera."

deixe-me deitar em teu colo
e ler para você
algumas palavras bonitas,
de algum conto dos meus favoritos,
ou uma das poesias que eu mais gosto,
deixe-me dizê-las como se fossem minhas,
e escute com atenção minha voz,
enquanto penso
que talvez você acredite
que um dia será só minha.

Do trecho de Lílitchka!

o camarada maiakóvski,
entre fumaça de tabaco e o frio,
o medo e o calor do álcool,
confessa-me seu amor,
mas eu não sei o que lhe dizer
e, desde então, suas palavras ecoam em minha mente.

Lembranças.

Na porta a luz vaza para dentro
e a silhueta do teu corpo se forma
em minha memória.

As pequenas gotas de água escorrendo entre teus seios
descendo pelo teu bendito ventre,
chegando a Vênus e evaporando com o Calor.

Tua boca se movendo,
a língua se projetando contra o palato,
o som doce do meu nome em teus lábios.

Tocar de leve a tua pele,
e assistir ao fechar dos teus olhos
e ouvir o leve ronronar ao sentir meu calor.

Como poderia esquecer de uma lembrança tão boa
quando tudo o que tenho agora são somente isso:
lembranças, cinzas de um passado ensolarado.

Monday, September 22, 2014

Lá, laiá laiá...

noite quente, meu bem,
quando me escuto cantarolando aquela canção
e sua doce melodia
me faz pensar em você.

noite quente, meu bem,
que imediatamente fica fria e solitária
quando me percebo sem você.

Sunday, August 17, 2014

As ruas lá fora.

as ruas lá fora estão cheias de vida
que pulsa de forma constante,
explodindo de tristezas e insatisfações,
transbordando sentimentos e frustrações.

as ruas lá fora pululam
repletas de pessoas
com sonhos e vontades
talentos não explorados e incapacidades.

as ruas lá fora são quase mortas
não fossem as milhares de pessoas que lá transitam
em ônibus, carros, bicicletas, caminhando sobre seus próprios pés
como o coração do carlos perguntou
"para quê tanto pé, meu deus?"
se a maioria caminha para lugar nenhum?

a lua sobe no céu lá fora,
mas se esconde por trás de meia dúzia de nuvens
porque sente vergonha de não ter por quem brilhar.

o mar mareja lá fora,
subindo e descendo sua maré,
anseia pelo momento em que devorará mais uma vez o mundo.

aguardemos.

por enquanto temos as ruas asfaltadas
liberando o calor absorvido ao longo do dia,
servindo de passarela para os notívagos e
prostitutas: mulheres
em corpos de homem, mulheres em corpos de mulheres.

temos os sons que nunca se calam
as luzes iluminando
a noite avançando.

Dia perdido.

o dia inteiro perdido
por motivos maiores que eu ou você
maiores que a distância entre nós.

o dia inteiro perdido
mesmo que eu tenha pego os livros
e tentado decifrá-los,
mesmo que eu tenha escrito
e tentado colocar sentimentos em palavras
e falhado.

o dia inteiro perdido
mesmo que eu tenha telefonado para meus pais
e tenha me preocupado
e tenha sentido amor, carinho,
pena.

o dia inteiro perdido,
cada uma das vinte e quatro horas,
perdido porque não sei o que fazer,
porque volto a sentir em mim
a falta de propósito.

o dia perdido
e não há mais onde encontrá-lo.

Depressão.

faz uma semana que eu não leio
faz dias que não vejo teus olhos
e não provo tua boca
e não ouço tua voz
quando acordo.

faz uma semana que não sinto em minhas mãos
as páginas secas de um tomo cheio de histórias
e faz tempo demais que não tenho meus braços ao redor do teu corpo
e minhas mãos segurando tua cintura
e o cheiro dos teus cabelos
invadindo meu rosto.

faz tanto tempo que não tenho você
que até não lembro
de quando foi que deixei de ler.

Thursday, August 14, 2014

Há braços.

te fazer minha risoflora
e em teus braços me abrigar
procurando neles o ninho
que eu possa chamar de lar.

Wednesday, August 13, 2014

Mudança.

hoje, no dia treze do mês de agosto de dois mil e catorze
(ou quatorze, como preferirem)
aconteceu um evento que veio a mudar as estruturas do meu país
(mas não de maneira permanente, apenas uma nova cratera na lua,
nada que mudará sua órbita).

o curioso, devo sinalizar,
é que ontem à noite
enquanto trabalhava,
escutei a voz do homem que queria mudar o brasil
(como se ninguém mais prometesse mudar essa poça estagnada)
e parei para pensar que não há mudanças significativas para o presente.

enquanto não houver aquele que sonhe em não deixar seu nome
escrito em quatro ou oito anos,
mas sim pela eternidade,
haverá atraso e tristeza e miséria
no pior sentido da palavra: miséria da alma.

enquanto houver sonhos de mudar ontem o agora,
não haverá amanhã.

Como?

onde está o calor do toque que anseio
e o cheiro suave do corpo
que desperta em mim desejos de um longo amanhã
nesse domingo cinza, apesar da luz do sol,
apesar do por do sol,
apesar de toda a ação que acontece lá fora.

sem que ela esteja ao meu lado,
como posso dizer que um dia foi bem vivido?

Monday, August 11, 2014

Volúpia.

A volúpia reside
Em tuas curvas,
Teus gestos e olhares.

Tua volúpia vive em teu corpo inteiro.

Ao acordar, quando dorme
E enquanto revira os olhos
E bufa impaciente.

Tua volúpia vive a despertar em mim
Sensações de possessão:
Possuir teu corpo
E te fazer dizer que és minha.

Meu desejo vive em ti.

Wednesday, August 06, 2014

Isqueiro.

acenda meu fogo
queime
em mim
um pedaço de si.

acenda meu fogo
com tua língua
e arda.

acenda meu fogo
que cansei
de esperar.

O desejo do mundo pela má literatura.

o mundo deseja ver sangue:
tristeza e sangue impregnados nas carnes
e nos ossos de todos.

o mundo anseia pela carnificina,
pelo terror, pela anti-vida,
o mundo deseja a morte da poesia
e de tudo o que é lindo.

não compreendo os motivos
dos desejos do mundo,
e nem mesmo posso fazê-lo,
pois sou apenas um, e não o mundo.

o mundo, ao ver que eu me sentiria melhor
com ele não fazendo as coisas que faz,
talvez então optasse por me tirar de seu caminho,
e eu me veria sozinho,
antes de não mais ver.

o mundo não se saciará só com meu sangue,
meus poucos litros de rubor,
sempre ansiará por mais.

Wednesday, July 30, 2014

A primeira vez que o segurei.

quando o segurei pela primeira vez
foi com estranheza que senti que se movia entre meus dedos
e que sua vida extrapolava seus limites físicos.

foi como se em minhas mãos repousasse a criatura mais perfeita do mundo
e meu toque o incomodasse.
fiquei com medo de machucá-lo.

quando o segurei pela primeira vez
tive a certeza que nenhuma outra sensação se equipararia àquela
não teria como.

meus dedos percorrendo seus contornos,
tentando desvendar seus mistérios,
em vão, ou quase isso.

quando o segurei pela primeira vez
tive medo.

Tuesday, July 29, 2014

Ama.

esta noite sonhei que teus seios vertiam o leite
que alimentava meu sangue
que fortalecia a existência,
o único alimento que importava.

então acordei
e percebi que tinha fome,
mas você estava longe
e ao meu lado
o vazio.

Sunday, July 27, 2014

Fazer amor.

não se faz amor
em uma cama
com gemidos,
arranhões e mordidas
não se faz amor com bebidas
antes ou cigarros
depois.

não se faz amor
com corpos
apertados contra uma parede
ou no chão.
não se faz amor
dando-se as mãos
numa cadeira de cinema.

não se faz amor
com bocas que se calam
umas às outras.
não se faz amor
com línguas
que se tocam e se lambem.

se faz amor
com o todo dia
a cada dia,
o dia a dia,
se faz amor
com paciência
como quem estuda uma ciência
se faz amor
como quem descobre que
no amor
existe um mundo.

Saturday, July 26, 2014

Quando a guerra chegar.

eu quero estar nos teus braços
enquanto ouvimos os ruídos do mundo a acabar
e nossos olhos falam por nós, pois nossos lábios calados,
quase sufocam nossa respiração
com a poeira dos escombros
e o lamentoso grito da morte cortando os ares.

nunca mais seríamos encontrados,
porque não haveria relatos dos sumidos,
seríamos só duas vítimas
da guerra do fim do mundo.

se alguém um dia soubesse,
no entanto,
que naquela manhã de julho duas pessoas que se amavam
foram reduzidas a duas manchas de sangue,
talvez se compadecessem
e orassem por nós a seu deus.

Wednesday, July 23, 2014

Os não mapeados.

dói o joelho,
dói a coluna lombar,
dói também aqueles lugares
que não são mapeados em atlas de anatomia,
mas que todos no mundo conhecem bem,
embora preferissem nem saber deles,
porque só se descobre que os temos
quando começam a doer.

e, diabos,
como doem!

Quem sabe?

o que eu quero de você
talvez não tenha nome
talvez não seja descrito em canto algum
talvez jamais existirá.

o que quero de você,
talvez esteja em todo lugar.

Conhaque do Carlos.

terra quente
sob nossos pés descalços
deixa a gente bem.

Monday, July 21, 2014

Hino de esperança pelo advento daquele que chega para nos trazer a paz, o amor, e o auto conhecimento.

No oriente negro
Brilha uma luz dourada
Estrela da manhã.

Espremedor.

Ela fazendo
Suco de laranja
Refresca'alma.

Thursday, July 17, 2014

Ou não.

quero ouvir tua voz
como ninguém jamais ouviu,
porque se não for assim,
talvez o que valha mais
seja o teu silêncio.

Wednesday, July 16, 2014

Diferente, mas igual.

As mesmas músicas de sempre
Sempre despertando os mesmos sentimentos.
Só que dessa vez diferentes.

Através do mar.

ouvindo e lembrando dos teus olhos
pequenos, morena, e tua boca de lábios finos
sempre risonhos,
e tua voz, e teu nariz, e tuas mãos dedos longos
e toque suave.

ouvindo e pensando que as coisas que passam
são tão boas
porque acabam.

Monday, July 14, 2014

Shhh

o teu silêncio traz coisas
que só quem não ouve
compreende.

Verde-vermelho.

amadurecer
ato constante de sumir
dentro de si.

Sunday, July 06, 2014

Josef K.

Minha cintura longe da tua
É um castigo triste e desmerecido.
Não poder escutar teu coração à noite,
Com meu ouvido entre tuas mamas,
Sentindo o oscilar da tua caixa torácica,
É uma punição muito alta
Para um crime que não sei se cometi.

Wednesday, July 02, 2014

É isso.

o que é que somos hoje?
pedaços de passado que,
num lampejo,
são iluminados rapidamente
para logo sumirem na escuridão
da vida.

Há?

não consigo pensar em palavras
não consigo pensar em gestos
não consigo pensar em rostos
não consigo pensar.

fecho os olhos e vejo escuridão
e vejo luz
e escuridão
e a luz que enxergo quando volto a abri-los
é clara e me cega,
fecho os olhos para não enxergar.

os sons que escuto não fazem sentido
carros de passeio buzinam, ônibus buzinam,
pessoas buzinam atrás de seus confortos, de seus apertos,
abrem suas bocas e buzinam,
nada faz sentido.

não sinto mais o cheiro da tarde molhada
ou da noite que chega tranquilamente lá fora
se arrastando, apagando a luz como uma leve brisa leva embora a chama de uma vela,
não entendo  o que acontece aqui.
por que antes eu era capaz de sentir,
e agora nada, e agora só o vazio, e agora só um grande buraco?

não existem mais palavras
não existem mais gestos
não existem mais rostos
não existem mais pensamentos.

não existo.

Seja.

aprendi paciência contigo, como quando se aprende a escrever,
persistente, repetindo, aprendi também carinho,
como se fosse ler, como se fosse uma atividade prazerosa gostar de você,
porque é.

e tantas vezes rimos, tantas vezes tuas lágrimas verteram por nada,
seguidas de um sorriso ainda tímido e um leve soluço,
aprendi que não estou pronto para o que aqueles que te rodeiam estão:
o amor incondicional não foi feito para mim,
mas não posso dizer que não te amo, porque sempre sinto um desejo de te proteger
e te ver feliz.

seja feliz em tuas aventuras em pensamentos, em tuas fantasias, desejos e sonhos.
seja feliz, criança, porque é tempo disso.
não se preocupe com o resto, sua vida, hoje, é tesouro precioso,
seja feliz.

Sunday, June 29, 2014

Mau humor.

meus pés doem
e quero solenemente ignorar qualquer um que chegue até mim
ou tente chegar próximo a mim
ou ao menos sonhe em pensar em tentar chegar junto de mim.

que caia sobre eles a ira de todos os deuses que já matei
e todos aqueles que hão de me matar,
que sofram e sofram e sofram e sofram.

e amanhã,
amanhã é novo dia.

Friday, June 27, 2014

Gal.

gal canta em meus ouvidos agora
e devia fazer isso sempre.

seu ou au au au au ou au
faz-me algo que não sei dizer.

vontade de tomá-la em meus braços,
deitar em seu colo,
ouvir em silêncio.

cante, cante.

Tango.

tango mil tangos em minha mente
enquanto tento tranquilo pegar no sono
tergiversando os tangos que tangaremos.
tango contigo e tenho terrores
tentando tristemente te esquecer
enquanto tuas texturas, tessituras, tecidos -
traçados tortuosos dentro de mim -
tentam-me diabolicamente para perto de você.

tenho sonhos com as danças que dançaremos
e acordo com a lembrança das noites tenebrosas perdidas,
tua mão pequena na minha, teu rosto colado ao meu,
e nossos olhos se tocando.

O seu leve ronrono.

a textura dos teus cabelos enrolando em minha mão,
se entrelaçando entre meus dedos,
tornando-se parte de mim, dominando-me em minha vã tentativa
de domá-lo.

o calor do teu olhar, a esquentar dentro de mim, meus humores
como o fogo faz com a água, só que de maneira instantânea,
imediata, fazendo com que sinta o sangue fluir mais rapidamente
e preencha locais que antes estavam vazios.

tua língua...
não posso cantar tua língua, por ser ela um pedaço de carne rosada
que me deixa sedento mesmo após me saciar,
sou incapaz de falar mais.

... não há como escrever um poema para você além desses pequenos pedaços,
não conheço outras formas,
nem estou em condições, no momento, de procurá-las,
minha mente se perde em memórias do seu rosto:
você fechando os olhos ao toque das minhas mãos
e o som baixinho do seu leve ronronar.

Thursday, June 26, 2014

Antinatural.

hoje não sinto nada bonito em mim,
fora você,
e minhas vontades e desejos são todas sujas,
quando não envolvem você.

a cama vazia, silenciosa,
é tão estranha que não consigo dormir,
e o ar sem teu cheiro
parece não conseguir me fazer respirar.

é estranho.

Tuesday, June 24, 2014

O que acontece?

O que acontece quando se fecha a porta
E os sons ecoam em todas as paredes
Cravando marcas profundas na memória
Como se fosse faca quente em manteiga?

O que acontece quando toda esperança
De que um dia vai se repetir
Aquele momento em que corpos perdem fronteiras
Vai embora se queimando como um cigarro no fim?

O que acontece quando as horas viram cinzas
E as estrelas começam a sumir no céu
Quando as coisas que um dia foram lindas
Começam a ter gosto de fel?

O que acontece quando você vai embora
Ou quando eu vou embora
E o quarto fica vazio e sem calor?

Thursday, June 19, 2014

Ressaca da maré.

de vez em quando,
quase sempre que dá,
embora quase nunca dê,
me aventuro no mundo das teorias
das ideias e das palavras,
das linguagens sobre linguagens
dos nós teóricos que a língua pode dar.

de vez em quando,
mas às vezes só raramente,
compreendo um pouco do que está escrito,
mas acho que se falarem,
vou me embananar todo e esquecer que língua
e Língua são outras ideias,
mas eu nunca esqueço quando leio
a maiúscula a definir.

de vez em quando
o nó se dá em minha mente
e sinto vontade de deixar tudo de lado,
abandonar todas as vontades de escrever,
me lançar no oco do mundo,
sumir.

mas aí me vem o desespero
só na ideia de que eu perderia as palavras,
ou pior, que elas continuariam vindo, sempre vindo,
como um rio para o mar, o mar quebrando numa praia,
sem fim, sem fim,
e a maré subindo me faria sentir a ressaca braba
a ressaca de um mundo sem escrita.

Wednesday, June 18, 2014

Idéia.

a ideia é que seja incompleta a ideia
e que no meio do caminho
alguém consiga tomá-la para si
e preenchê-la, completá-la.

Sunday, June 15, 2014

O verde.

É o verde que me assombra os sonhos
Com sua fertilidade e beleza
Com todas as possibilidades
Já não mais possíveis.

É o verde reluzente que me faz tremer de frio no calor
E ver o mundo girando e minha nuca arrepiar
E o estômago embrulhar.

É do verde resplandecente que sinto falta de ver
Ao acordar,
E isso dói.

Monday, June 09, 2014

O Russo.

uma vez escrevi à mão versos de maiakóvski,
como se, ao escrevê-los eu mesmo, os tornassem meus,
dedicando-os a você,
que seria meu comunismo, minha ideologia, meu amor.

os versos russos que te escrevi, hoje são passado,
(lixo, cinzas, quem sabe)
e não serviram para me transformar em poeta.

continuo o mesmo homem menino
sem ideia, sem rimas, sem versos.

Não fosse

o céu cinza deveria ser azul,
não fossem as nuvens. não fossem as pessoas,
tudo mais seria perfeito,
embora não houvesse nada,
só o céu azul e as flores coloridas
e a grama verde
como o teu olhar.

não fosse a morte,
tudo que haveria seria a vida
e o desespero não seria o medo da morte, mas o medo da vida.

não fosse você
não haveria poema, e seria tudo um grande silêncio.
talvez fosse, então, melhor.

Despetalar.

a sensação de inocência
e o conhecimento de que a qualquer momento pode ser maculada
destruída, destroçada, desmoralizada como jezebel,
uma madalena.

a sensação de que posso palpar tuas cores,
acalentar-te em meu colo
e te dizer, depois que tudo for destruído,
que está tudo bem,
que eu te amo.

Friday, June 06, 2014

Motivo da ressaca.

todos os dias lembro do teu nome
quando acordo, enquanto urino, enquanto escovo os dentes,
enquanto tomo banho, enquanto me enxugo,
enquanto visto a roupa, enquanto dirijo meu caminho até o trabalho,
enquanto trabalho e na hora do almoço,
quando volto para casa, enquanto estudo,
enquanto leio e quando vou dormir.

isso me perturba
e, às vezes, quase sempre,
eu quero esquecer.

Motivo da escrita.

o vazio me motiva
em tentativas vãs
a preenchê-lo.

Thursday, June 05, 2014

Blé

fecha a porta, apaga a luz e vem deitar aqui comigo,
que essa noite está chovendo
e não quero ser teu amigo.

Partes de Maria.

o teu olhar, maria,
é a mais pura tentação:
todas as vontades do mundo me tomam de uma só vez,
e eu me sinto incapaz.

o teu sorriso, maria,
largo e branco marfim,
é como teclas de um piano que quero tocar suavemente,
mas são vetadas a mim.

a tua língua, maria,
labareda rubra
faz meu sangue arder, incandescer, irradiar,
e meu corpo vira cinza.

tua palavra, maria,
é a dona de mim:
e eu vou indo, seguindo, ouvindo suas ordens,
mas é tudo em vão.

o teu corpo, maria,
é um caminho sem fim
que eu trilho, tentando me encontrar,
mas é perdição.

Tuesday, June 03, 2014

Águas turbulentas.

a quantidade de água
que passa
correndo, fluindo, jorrando,
por baixo das pontes erguidas há muito,
e que hoje significam risco a quem tenta atravessar,
é maior que a imaginação pode contar.

Monday, June 02, 2014

Estou lendo W.W.

estou lendo walt whitman
(finalmente)
e o leio como se fosse um passeio no campo,
como se fosse uma caminhada na praia,
como se fosse um mergulho no mar ou um banho de cachoeira.

estou lendo walt whitman
(por que há anos falo e penso que deveria ler sua poesia e nunca antes o fiz?)
como se suas canções fossem os sons de correnteza,
os pios dos pássaros ou os passos dos animais rasteiros,
como se fosse o som dos homens.

estou lendo walt whitman
e devo dizer que tenho gostado bastante.

Sunday, June 01, 2014

M. A.

onze dias para onze anos
e onze vidas não seriam o suficiente
para matar a saudade
que o coração sente.

Você se lembra?

me pergunto, sozinho, deitado na cama, mais um pensamento solitário que uma pergunta,
se você se lembra
e imediatamente me vêm à mente centenas de vezes
que outras pessoas perguntaram essa mesma frase
de forma mais bela e inspirada que eu,
é que as simples lembranças servem de início para a maioria das tristezas
e das belezas, dos risos e dos choros.

como daquela vez, um tempo atrás, quando perguntaram se você se lembrava de quando éramos jovens
e brilhávamos como o sol -
então os olhos se fecham e imagino se, de fato, você é capaz de enxergar como aqueles tempos eram claros,
brilhantes quando comparados ao momento em que vivemos agora
(onde estou parece o coração das trevas).

ou então quando perguntam se você se lembra da torrente de paixão,
de ouvir nossa canção,
e fechando minha garganta sinto como se um punho a apertasse,
os olhos chegam a arder ao pensar
que centenas de canções perderam seu valor
por já não descreverem o Amor
(por mais que todas elas se pareçam,
por só existir um Amor,
toda e qualquer palavra de Amor que não seja para você
não é nada mais que amor)

e então me pergunto
como já perguntaram antes de mim
(por que parece que tudo sempre já foi dito?
por que sou tão não-original? por que tudo o que faço é uma cópia da cópia de uma cópia?)
você se lembra? lembra do meu nome?

a resposta parece óbvia.
mas responda antes que eu esqueça.

Tuesday, May 27, 2014

Máscaras.

as máscaras que vi se sustentam no ar,
mesmo sendo parte do passado, mesmo sendo não mais importante
que foram as mentiras contadas por ela tempos atrás,
cem, duzentos, mil.

as máscaras que escondem os rostos de homens
são mentiras contadas pelas línguas antigas,
línguas mortas, esquecidas.

as máscaras que serviram tanto
ainda servem
não mais das mesmas maneiras,
mas ainda para os mesmos fins.

Monday, May 26, 2014

Os canha.

a primeira falava sobre um dia
de chuva numa cidade fria
e depois vieram cores de um país desconhecido,
e meninas azuis de longos vestidos,
depois canções de amores eternos das madrugadas,
que duravam o tempo de boas risadas.

passou o tempo lavando amores, marcando a idade,
ninguém aprendeu a cantar, ou dançar, é verdade,
mas houve histórias de mudanças da vida,
alguns olás, muitas despedidas,
catarinas putas, catarinas virgens, relógios perdendo as molas,
os cachorros morrendo sem ser por bola,
se sobrou um pouco de algo, ninguém viu,
mas ainda tem o puta que pariu.

Sunday, May 25, 2014

Domingo.

o domingo é um dia em que reservo para mim mesmo,
como se eu fosse meu deus, e eu seguisse minhas regras após criar meu mundo,
em pouco menos, ou até mesmo mais, que os sete dias,
para poder ficar só, para poder pensar um pouco,
nas coisas que acontecerão, e me angustiar nas especulações daquelas que ainda virão.

o domingo é um dia em que eu não sou de mais ninguém,
mas não é que nos outros dias eu seja de alguém,
mas acontece de invadirem tanto os meus dias, ao longo dos dias, que preciso,
preciso, preciso de um dia só para me fechar em mim.

poderia ser qualquer outro dia, e, na verdade, não é necessariamente o domingo,
mas poderia ser o domingo, visto que domingos são sempre tão vazios de significados,
posso dar o melhor dos sentidos a esses dias, escolhendo-os para dedicá-los a mim.

então,
de hoje em diante,
desde a meia noite
até a meia noite,
dedico todos os domingos a mim,
guardando-o com idolatria a mim,
ser maior, único e imperfeito.

um dia do eu.

Friday, May 23, 2014

Natur.

a chuva cheirando que cai e molha a terra
e o marrom da lama e o verde da grama
e o cinza do céu e o escuro da noite
são facetas da vida que gosto de observar e de viver, porque é minha, porque é única,
porque sou livre para fazê-lo enquanto escuto os sons das pessoas em movimento,
o som dos respiros, suspiros, gritos, anseios, medos, desesperos.

o sol queimando a terra seca e a grama amarela com o céu azul,
sem nuvens e com o cheiro seco da morte
são também facetas mais desesperadas da poesia da vida
e não são menores ou piores que as outras,
não existe graduação para os fatos naturais, eles acontecem
independente do que se acredita ser bem ou mal,
acontece antes de nós, apesar de todos..

Thursday, May 22, 2014

Banquetes.

sentado num trono de ouro, entre montanhas de diamantes,
ele aguarda um momento que talvez nunca se apresente.

as dançarinas em seu torno dançam, os soldados de seu exército marcham,
para onde vai a nação, pergunta o povo,
mas o povo clama com vozes e brados que inaudíveis à nobreza.

sentado em um trono, ao lado de uma rainha cuja beleza trouxe guerras e nunca paz,
observa bandejas movendo-se no eterno banquete,
enquanto criados rastejam pelos restos de alimento,
e o vinho escorre de seus lábios e o cega.

as frutas, frescas e suculentas, escorrem o sumo pelos corpos das concubinas,
enquanto bocas sem dentes e línguas frias buscam os recônditos de seus corpos,
e o rei de todos ri, embriagando-se de poder,
segurando seu cajado incrustado de gemas, e sentado em seu trono gigante,
não fecha os olhos por um momento sequer, porque não quer que nada se perca à vista,
mas lhe foge à mente a idéia de que a cada segundo perde um pouco sua vida,
e que a eternidade nunca virá, e reis caem, e novos reis se fazem,
e o povo uma hora se tornará seu próprio rei,
e cada um terá sua chance no grande trono que é a vida,
e todos dançarão a ciranda do poder, mas cairão todos de exaustão,
no entanto sempre haverá alguém disposto a encerrar um banquete
se proclamando o novo dono da festa.

Wednesday, May 21, 2014

O poeta

o que faz o poeta, o que é?
quem é que o faz, ele mesmo ou é aclamado pelos outros?
o que é o poeta, o que faz?
versa seus versos baixinho, com vergonha do que pode ter escrito,
medo do sentimento exposto tê-lo tornado frágil demais
ante a visão dos outros;
ou os clama a plenos pulmões,
como se seus brados os tornassem melhores,
e o alcance fosse maior, distorcendo as palavras, perdendo o significado.

o que é o poeta?
é aquele que analisa seu redor e o coloca
através de suas visões particulares, suas impressões,
um pintor das palavras?

quem é o poeta?

é você?

Dores

Dói o joelho direito
E o esquerdo sente,
Por serem irmãos,
Crias de um só Criador.

Dói o cotovelo direito
E o esquerdo compadece,
Por ser ele semelhante,
Mesmo contrário.

Dói a coluna lombar
E os ombros se tencionam incomodados,
Por serem eles também
Parte de um Todo.

Dói a cabeça
E o peito sente,
Por serem uno,
Mas agirem como totais Desconhecidos.

Monday, May 19, 2014

Apneia

O estalo do Beijo:
os céus das bocas se aproximam
Troveja
A luta das línguas no mar de saliva
Homens ao mar
Amores ao mar
Um mar tão grande
Onde tantos vão se afogar.

Friday, May 09, 2014

O impossível.

os versos que leio,
e os que não leio,
os bons versos que escrevo,
(tão raros)
e os piores que já rascunhei
(tão mais comuns),
tudo o que me for belo
e aquilo que não for horrendo,
são todos para o mesmo destinatário.

Elvis

floresce minha plantação
com teu olhar,
que eu sinto falta
de matar minha sede
com a tua saliva
e te cantar no ouvido
para me amar gentil,
me amar de verdade.

e nunca me deixar ir.

o que foi que aconteceu?

por que é que eu fui?

Vaso.

eu te olho e não consigo entender tão bem
o que é que tantos que a viram enxergaram
enquanto tudo o que vejo é uma beleza
que me serve de admiração como um quadro numa galeria.

te vejo enxergando com dois pedaços do céu,
mas não me sinto mais próximo de lá por causa disso:
continuo terreno, e você continua de carne, osso e sangue.

tua pele é quente igual, teus dentes brancos iguais,
teus cabelos compridos iguais, tua mucosa rosada igual,
ainda assim, por que teimam em dizer-te diferente?

o que me parece é que és um objeto:
como um vaso que queremos muito colocar no centro da nossa mesa,
na sala da nossa casa,
para que as visitas olhem e pensem como temos enorme bom gosto;
ou como um livro que há tempos queremos ler,
e consumir, e consumar, e absorver;
ou como um carro potente que nos irá fazer parecer bem
diante dos nossos outros amigos homens,
que entendem tanto de carro,
e medem suas riquezas através de carros
e vivem através de carros,
indo de um lado para outro dentro deles,
mas nenhum deles contigo.

o que parece é que tem sempre alguém querendo te usar para alguma coisa,
como eu estou fazendo agora,
usando tua figura para me "inspirar"
e escrever esse poema.

mas não sei,
eu vivo errando,
eu vivo errado.

talvez essa seja somente outra vez que isso me acontece,
tudo bem.

mas e se eu não estiver e você for, de fato, tão objetificada quanto parece,
eu começo a me questionar,
será que você sente?

Wednesday, May 07, 2014

Morena dos olhos de céu.

os teus olhos, morena
me deixam com vontade de arrancá-los
e jogá-los num jarro
(apesar de eu achar que deveríamos jogar ximbra com eles,
mas teria pena demais de colocá-los no chão de barro
duro, batido, sujo - ele estragaria um pouco do brilho do teu olhar)
para conservá-los onde eu sempre possa vê-los:

na estante do meu quarto,
num móvel na minha sala,
no centro da minha mesa,
vigiando meu dia,
protegendo minha noite,
sendo meu anjo protetor.

os teus olhos, morena,
me deixam com vontades demais.

Sunday, May 04, 2014

Uma carta escrita no passado.

Um dia escrevi uma carta
Dizendo como iam as coisas
E como a vida estava me levando a caminhos
Que nunca pensei que trilharia.

A carta ficou longa,
Mas não por causa da vida que vivi,
Mas por causa da vida
Que ficou em espera,
A vida que está para acontecer
E aquela que só se desenvolveu
Numa outra realidade.

A carta ficou longa
Porque em determinado ponto falei da saudade
E a saudade não tem tamanho.

A carta ficou longa
Porque era para você.
E porque era para você
A carta ainda está escondida
Numa gaveta
Para ser esquecida.

Tuesday, April 29, 2014

Beijo da rosa.

eu só queria
cantar no ouvido
kiss from a rose
a dizer com a alma
que ela é my power,
my pleasure,
my pain.

mas o quarto está vazio,
a cama está vazia,
não existe ouvido,
não existe música.

Sunday, April 27, 2014

O criador.

Não chove e não faz sol
E a noite é silenciosa,
Como se nada estivesse lá fora.

Como se as pessoas que dormem em seus quartos,
Respirando ruidosamente,
coçando suas peles com longas unhas que arranham,
Dando beijos ruidosos antes das tentativas de sufocar gemidos,
Não estivessem em canto algum.

Só na minha mente.

Seria possível que eu tivesse inventado tudo isso,
E que a realidade foi criada por mim?

Dificilmente.

Afinal, como alguém que não sabe criar um poema
Poderia criar um mundo inteiro?

Sunday, April 13, 2014

Manhã de um domingo 13 de abril.

Café fumegando e bolo
Na mesa,
Enquanto um livro em meu colo
Passa voando.

A chuva começa a cair lá fora,
Ainda suave, mas ruidosa,
Como um beijo no pé do ouvido.

As páginas passam
E eu me pergunto
Se poderia ser melhor.

Mas temo a resposta.

Tuesday, April 08, 2014

Do que me deves e do que não.

Dê-me teu corpo
E te farei sorrir,
Dê-me teu tempo
E te farei sorrir,
Dê-me tua alma
E te farei sorrir.

Mas não me dê amor,
Ou te farei chorar.

Não me dê amor,
Ou te farei infeliz.

Não me dê amor,
Ou te farei odiar.

Sunday, April 06, 2014

Poema da noite do dia seis de abril.

É noite como todas as outras noites foram
Antes de hoje e ontem
E como serão amanhã e depois de amanhã.

Mas é noite como nenhuma outra foi
Ou nenhuma outra será.

Faz calor como muitas outras vezes já fez
E como tantas outras fará.

Mas o calor de hoje é só agora que sinto.

Existem palavras que nunca foram pensadas
E demorarão até que sejam ditas
Me pergunto quando alguém as pensará
E quanto tempo há de levar até dizê-las.

Às vezes eu rio sozinho
Imaginando o que elas poderiam significar,
Mas é uma triste brincadeira,
Porque eu sempre estou perdendo.

Então eu apago as luzes,
Porque é noite,
Deito em frente ao ventilador,
Porque é quente,
E tento não sonhar,
Porque é em vão.

Saturday, April 05, 2014

Findo.

Se as nuvens alvas,
Bem altas, cortam o céu,
É o fim dos tempos.

Friday, April 04, 2014

Jesus de Praga.

Lembro dos domingos em que era acordado
Pela manhã com o sol e a chuva
E o caminho, debaixo da sombrinha dela
Era cheio de buracos e pedras e lama.

E até chegar lá havia briga e choro,
Havia silêncio e rancor
E dias em que brotava o riso.
Não me recordo de dias felizes.

A felicidade plena me parecia difícil
Quando eu não podia fazer
Aquilo que bem quisesse.

E com ela eu não podia ter vontades
Que não fossem condizentes com as dela.

No local, a igreja do bairro,
Na qual não entro há uma década,
Escolhia um lugar onde o ventilador soprasse o vento
Da manhã de domingo já perdida
Enquanto todos brincavam do levanta abaixa da cerimônia
E diziam graças a deus
Quando tudo acabava
E eu dizia também,
Porque era o fim.

Então, calados ou conversando,
Caminhávamos até o apartamento
E seguíamos a nossa vida:
Ela lá e eu cá,
Como foi, é, deve ser, e será.

Tuesday, April 01, 2014

Primeiro de abril.

Se lembra de quando te amei?
Eu também não.

Monday, March 31, 2014

Cosmos.

Quando as Palavras já não bastam
e o Silêncio, só, não se sustenta,
e os Olhares não se mantém firmes,
e os Abraços já se encontram frouxos,
e a Solidão é tudo o que envolve
o Mundo, como se fosse um pequeno ponto
no meio do Vazio imenso que é a existência,
traça-se o mapa e os limites da Vida,
entende-se o Incompreensível
rende-se à Impotência.

Saturday, March 15, 2014

As vozes.

As vozes da minha cabeça
Elas já não falam como antes faziam
Com sentido e ordenadas.

Hoje só ouço palavras soltas e desconexas
Como se houvesse interferência no sinal
Entre elas e eu.

As vozes da minha cabeça já não me dizem a verdade
Porque há tempos já não sei distinguir verdadeiro e falso
E isso me prejudica tanto.

As vozes na minha cabeça começaram a me preocupar
Porque agora ouvi-las já não parece natural.
É como se elas não existissem.

As vozes na minha cabeça gritam forte e não me deixam dormir
Há tanto tempo que não sei mais se estou sonhando ou desperto.

Como calar o que não se sabe como?
Como ignorar aquilo que somos nós?

Há perguntas que gostaria que tivessem respostas.

Friday, February 28, 2014

O blues do pirata.

O blues tocando
Numa noite quente
E você dançando,
Girando ao meu redor e sorrindo.

Hoje eu devia escutar a velha música
E o choro da guitarra deveria abafar
As lágrimas da minha alma.

O blues sempre tocará enquanto for carnaval.