Friday, May 09, 2014

Vaso.

eu te olho e não consigo entender tão bem
o que é que tantos que a viram enxergaram
enquanto tudo o que vejo é uma beleza
que me serve de admiração como um quadro numa galeria.

te vejo enxergando com dois pedaços do céu,
mas não me sinto mais próximo de lá por causa disso:
continuo terreno, e você continua de carne, osso e sangue.

tua pele é quente igual, teus dentes brancos iguais,
teus cabelos compridos iguais, tua mucosa rosada igual,
ainda assim, por que teimam em dizer-te diferente?

o que me parece é que és um objeto:
como um vaso que queremos muito colocar no centro da nossa mesa,
na sala da nossa casa,
para que as visitas olhem e pensem como temos enorme bom gosto;
ou como um livro que há tempos queremos ler,
e consumir, e consumar, e absorver;
ou como um carro potente que nos irá fazer parecer bem
diante dos nossos outros amigos homens,
que entendem tanto de carro,
e medem suas riquezas através de carros
e vivem através de carros,
indo de um lado para outro dentro deles,
mas nenhum deles contigo.

o que parece é que tem sempre alguém querendo te usar para alguma coisa,
como eu estou fazendo agora,
usando tua figura para me "inspirar"
e escrever esse poema.

mas não sei,
eu vivo errando,
eu vivo errado.

talvez essa seja somente outra vez que isso me acontece,
tudo bem.

mas e se eu não estiver e você for, de fato, tão objetificada quanto parece,
eu começo a me questionar,
será que você sente?

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