colocou minhas camisas
bem dobradas, como só ela consegue fazer,
minhas calças,
algumas meias e cuecas
dentro da minha mochila
de costas
e me entregou assim que cheguei.
disse tão calmamente
que nunca mais me veria,
que iria me evitar a todo custo
e tudo o que fosse meu
que não estivesse empacotado
era agora dela.
carreguei minhas coisas
rua à fora
e me hospedei no primeiro hotel que encontrei
- a diária era o preço de um sanduíche
desses que te envenenam a alma
e te entopem as veias,
o quarto era sujo,
escuro e o colchão tinha um odor
de esperma e mijo de muitos outros hóspedes anteriores.
fiquei naquele lugar
até perceber que não havia mais volta,
ela tinha tomado a decisão final.
estava deitado na cama
quando escutei o barulho
e pensei que fosse o escape
de um carro velho que passava
pela rua,
mas estava enganado.
alguns homens se matavam em frente ao portão,
o sangue escorria pelo asfalto
e isso me fez lembrar que foi dela
o único sangue que sorvi, o único
que precisei,
o único que quis
que fosse misturado ao meu.
então senti uma lágrima escorrendo pelo canto do meu rosto,
se eu soubesse o que viria,
não teria tentado conter os pensamentos,
que vinham num imenso fluxo,
meu rosto se transfigurou em uma careta de dor
e uma enxurrada de lembranças me jogou na cama.
acordei horas depois,
e não havia nenhuma estrela no céu,
nenhuma luz na rua,
a escuridão me devorava no meio da noite
e eu me entreguei a ela
na esperança de poder
talvez
seguir.
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