Monday, May 23, 2011

Melissa.

seu nome era melissa
e ela fazia o que bem entendia
e não havia nada em todo o mundo que impedisse melissa
de conseguir o que ela queria.

ao nascer, melissa tinha 47 centimetros
e pesava três quilos
e duzentos e sessenta e quatro gramas
e era a luz a vida de seus pais.

ela cresceu
como tudo mais que veio a terra faz,
e tudo o que queria virava realidade
e melissa foi se tornando cada vez mais gente,
cada vez mais uma moça inteligente,
o raio de sol que iluminava os caminhos a se seguir.

melissa foi feliz
por toda a sua infância
e tão feliz quanto adolescentes podem ser
com todos aqueles hormônios fervilhando.

foi quando melissa tinha dezessete anos
que conheceu tulio,
seu primeiro grande amor,
que à época, com todo o fervor da paixão juvenil,
acreditou ser o único.

túlio era mais alto que ela,
forte o suficiente para que ela se sentisse segura em seus braços
e costumava usar jeans e camisetas escuras,
mesmo em dias quentes
como era a grande maioria.

com túlio, melissa experimentou todas as coisas que pensou que só existissem no mundo inventado,
mas que logo viu que era a maior verdade.
então ela se entregou completamente à paixão cega
e quando túlio apareceu uma noite
ao pé de porta, pedindo para entrar
já que seus pais estavam fora,
ela hesitou e teve medo pela primeira vez
porque ele estava demasiado exaltado
e parecia impaciente com algo.

foi nessa noite que ela sentiu contra sua face
o choque da mão de túlio
que parecia outra pessoa
e soltava palavras agressivas
uma atrás da outra
chamando-a de puta
e dizendo que queria sexo
e mais uma vez houve o choque da mão,
dessa vez fechada,
o som seco, osso contra osso,
articulações iterfalangianas contra zigomático,
as lágrimas correndo do rosto de melissa
e ela pensa em seus pais
e em que prato eles pediram para o jantar de dezoito anos de casados
e ela sente outra vez o choque,
dessa vez em seu abdome,
o que a deixa sem ar,
as mãos fortes dele dobram seu corpo e a jogam no chão,
a bochecha esquerda toca o assoalho espelhado
e as lágrimas escorrem no chão de mármore,
o sangue começa a pingar
e ela pensa em como seu sangue pinga no chão
sujando tudo,
as mãos de túlio arrancam seu short,
rasgam sua calcinha
e ela sente náusea e o vômito vindo
e a última coisa que vê é um pedaço de frango
mal mastigado e meio digerido
e as últimas coisas que sente são o cheiro azedo
do seu vômito
e uma pancada forte,
como se túlio tivesse juntado as mãos
para dar um golpe mais forte
em sua nuca.
o resto é escuro.

o corpo de melissa foi enterrado
na manhã seguinte
e o colégio declarou luto.
seus pais jamais esqueceram da noite de dezoito anos de casados
e a tensão entre eles não durou muito.
dentro de dois anos houve o divórcio
e em quatro anos o pai de melissa saltava do prédio onde morava
com a nova esposa e seu enteado.
a mãe de melissa nunca se casou novamente.

túlio fugiu da cidade
e nunca mais foi visto.

2 comments:

Isabelle said...

tentei comentar hj de manhã que não gostei do final :~ O Túlio devia ir pra cadeia e ser a melissa de todos os detentos. :/ Mas ficou bem bom o texto.

Laís said...

QUE FODA!