Wednesday, March 04, 2009

Números.

dois dividem a mesma cama,
os mesmos lençóis,
as mesmas horas,
os mesmos momentos,
os mesmos dias,
os mesmos anos,
os mesmos sonhos.

dois dividem entre si
coisas que dois não dividiriam com outros.

dois dão coisas entre si
que jamais dariam a outros.

(mas nenhum dos dois jamais pediu isso abertamente)

dois dão o coração
dois dão carinho
dois dão atenção
dois dão paz
dois dão amor
dois dão esperança.

dois se decepcionam ao perceber que
um dos dois não quer mais ser dois,
sente falta de ser um,
quer ser três, quatro ou só dois,
um dois com um terceiro
aí dois se dividem,
torna-se quase que nada.

então um chora,
um lamenta,
um geme,
um nega,
um se enfurece,
um odeia,
um barganha,
um implora,
um se humilha,
um quer morrer,
um não vê jeito,
um aceita,
um segue.

um tenta ser dois porque não consegue se divertir sendo um.
porque um e um nem sempre são dois.
às vezes são só um e um
e nada além.
ser um é estar sempre só,
no meio de vários uns.

um tenta ser dois mais uma vez,
porque sente falta de ser dois,
enquanto seu antigo dois já é quase três.

mas um segue,
um tenta,
um corre atrás,
um cansa,
um aceita ser um por um tempo porque vê que ser um nem é tão ruim assim,
um cansa,
um corre atrás,
um tenta,
um segue.

até que um seja dois, um seja dez, um seja cem.
mas um sempre será um
e todo o resto sempre será divisível.

2 comments:

Ludmila said...

É a vida, a gente míngua e depois multiplica, pra minguar de novo. Será que existe um estacionamento ou vamos passar a vida toda a dividir e multiplicar? :~

Laís said...

putamerdaquefoda!