Friday, March 27, 2009

Morre-se aos poucos e se vive de uma vez.

o ar falta aos pulmões
e, quando há o esforço para respirar,
os olhos se abrem com tamanho espanto
que conseguem enxergar finalmente.

vê, então, o céu azulado que quase esquecera
e as nuvens brancas formando figuras
e o sol emanando suas luzes à sua retina
formando as últimas figuras a serem vistas.

as duas esferas fecham-se para nunca mais abrir
e não há mais nada que penetre seus alvéolos
e as últimas gotas de sangue vivo jorram em suas veias
e seus pensamentos se perdem na eternidade,
a vida cessa de uma vez.

são 15 horas de um dia qualquer
e as sombras se criam entre becos,
onde crescem livremente e se alimentam de tudo.

o cheiro de frutas apodrecendo empesta o ar
e é tudo o que se consegue respirar.

entre gemidos e estalados beijos,
uma mão fria toca um corpo quente,
um grito de medo e uma breve atenção
e encontra-se o corpo estirado ao chão.

ninguém sabe ao certo como se deu a morte,
suicídio, assassinato ou a tão natural sorte.

foi enterrado sem nome,
numa noite abafada de outono,
nunca houve flores em seu túmulo,
nenhum amigo para sentir sua falta,
nenhuma mulher para chorar as lágrimas das amantes.
seus únicos visitantes
eram ocasionais baratas, ratos e rastejantes.

a morte lhe veio como nos vem a todos,
sem aviso prévio.

mas, diferente do que se pensa,
ela vem aos poucos.

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