Thursday, March 08, 2007

8 du mars

contar dias para que se no fim todos eles vão-se da mesma forma?
horas, minutos, segundos, cada um deles por mais ínfimo e especial que seja
não passará de passado no segundo em que passar.

para que viver na ilusão de que todo sonho se torna realidade
se tememos que muitos deles virem verdade?

filhos de mim e ti crescem fora do útero, amor.
não há necessidade de protegê-los de si mesmos
o mundo já o faz bem o suficiente para isolá-los todos.

a cidade cinza colore-se de preto e branco para as festividades.
toda a vida que há há de findar-se em seu tempo.

os carros atravessam caminhos cruzados somente por pés santos.
lembra-se quando viemos aqui da última vez?
você até me proporcionou um daqueles raros momentos de felicidade, só nós dois.

a notícia saiu nos jornais do mundo inteiro,cobertores de centenas de milhões
protegem do frio, mas não do mundo
e fornece-lhes o calor com a chama certa.

nos classificados, a procura por refúgios,
a vontade de desejar, a luxúria, o mundo, a vida.
casas no campo de guerra e nas praias à beira do inferno.

céu vermelho no por do sol da negra africana,
filho morto no seio.desde cedo tenta-se a banalizar a dor, que cuida de todos em seus braços fortes.

hoje é oito de março em algum ano qualquer
hoje é algum dia de abrilhoje é o junho e julho chuvoso
o agosto do agourohoje é algum dia de setembro, em que, talvez, torres caiam.
hoje é o mês das crianças,
o dia dos mortos,
o aniversário da lenda,
hoje é ano que vem,
que será a mesma coisa de ontem,
hoje é carnaval, num fevereiro maquiado,
hoje é oito de março em algum ano qualquer.

quinta feira, a bandeja no chão esfria com o vento de fora.
o café com leite parado, e o pão com queijo mofado
azedam minha boca amarga
e minha cara não é bonita, mas podia ser pior.

o violão mudo tosse no canto da parede,
esconde-se de mim e minhas torturas.
o tempo não parou desde que comecei a escrever.

a bandeja se foi, o café com bolachas também,
os cheiros de flores da noite não penetram o quarto.
sinto cheiro de morte,
sinto cheiro de sonhos.

e o vento os leva todos...
os relógios não dizem horas,
por isso são 7 da manhã em algum lugar do ano
e crianças assistem ao primeiro dia de aula.
são 21 horas perto daqui,
21:15 do dia 8 de março.

No comments: