Monday, May 30, 2011

Torre.

do alto da torre
olha o povo
e sorri feliz
com as decisões tomadas.

a chuva se aproxima,
o céu escurece
e a água cai gota por gota
e se espalha pelas ruas
e pelas casa
e molha o povo todo.

as águas escoam e se vão
como se jamais tivessem chegado
e o sol aparece mais uma vez
acima do povo castigado.

as vidas de todos são como a água
que vem à terra e depois some
em um piscar de olhos,
um mover de mãos,
uma respiração,
tudo se passa, tudo vai.

do alto da torre
ele vê seu povo molhado
e o chão escorregadio
vê seu povo seco
e o chão duro
e sorri feliz
porque tudo é como devia ser.

Morte.

existe cá em mim
um peso que me oprime
um medo que me destrói.

existe cá em mim
um tempo que não passou
um rio que não fluiu.

existe cá em mim
uma dor que jamais sarou
uma ferida que não fechou.

existe cá em mim
a idéia que ainda não cresceu
o pensamento que não superei

existe cá em mim
a vida que não foi vivida
e aquilo que vem depois.

Thursday, May 26, 2011

X

se move como o fogo
como a chama que jamais se apagará
e queima.

queima como o ferro em brasa,
como o ácido.

Nem sempre.

ela me diz:
"você já notou
que a maioria das coisas que você escreve
começam com um
'ela faz alguma coisa' e terminam
sempre com alguma coisa triste?"

eu disse que nem sempre.

e sorri.

Wednesday, May 25, 2011

Quarta feira.

nos corredores a encontrei
quando estava perdida
a procura de algum lugar
que eu não lembro
e não vem ao caso
no momento.

o que importa agora
é dizer o quão linda ela estava
usando um vestido longo,
de um tecido fino
e que lhe caia muito bem.

o que senti ainda me é difícil de descrever.

foi o impulso de construir,
a vontade de ser capaz
de um dia realizar algo tão lindo
quanto ela.

foi em uma quarta feira
do mês chuvoso de maio
que fui até sua casa,
em silêncio,
e entrei, esperando que estivesse tudo bem
para ela.

ela assistia a tv
de vez em quando,
mas me disse que estava desinformada.

isso foi na terça pela manhã
e eu sorri para ela
e ela para mim.

ela estava quente na quarta,
usando um short e uma camiseta verde
com uma estampa de macaco
e flores amarelas,
uma roupa de ficar em casa assistindo a programas ruins que passam
a toda hora.

foi com surpresa que ela reagiu
ao me ver a sua porta
com uma mão forçando a entrada
e fechando-a assim que passei meu corpo por ela.

ela ameaçou gritar,
mas era tarde
e meus braços já a seguravam contra mim,
seu corpo quente de quarta feira,
minha mão segurando um trapo que coloquei em sua boca molhada
e de imediato senti seu calor amolecer.

naquela quarta tive o calor dela todo para mim.
depois de mim, ninguém mais o sentiu.
depois de mim, ninguém mais a teve quente em uma quarta feira.

não.

depois de mim,
sua vida deixou de ser.

e como foi uma quarta bonita,
com o sol alto durante todo o dia,
dia raro numa semana de chuvas.

Tuesday, May 24, 2011

Um pulo.

ela está deitada
com os olhos fechados
e a respiração quase sem existir.

ela está só
e a terra é tão esquisita
para que ela possa compreender.

a lua é amarela,
mas às vezes é clara
como se a luz que vem dela
fosse de uma lâmpada florescente.

a cama é dela
e sem ela há o vazio
e o amassado do colchão
que mostra a localização do seu corpo.

seus olhos miram o vazio do outro lado do quarto
a espera de qualquer coisa,
algo para sentir, algo para pensar.
mas nada vem.

ela está perto de fechar os olhos
quando sente o coração pular uma batida,
quando percebe que é assim que começa,
que é assim que termina.

Monday, May 23, 2011

Melissa.

seu nome era melissa
e ela fazia o que bem entendia
e não havia nada em todo o mundo que impedisse melissa
de conseguir o que ela queria.

ao nascer, melissa tinha 47 centimetros
e pesava três quilos
e duzentos e sessenta e quatro gramas
e era a luz a vida de seus pais.

ela cresceu
como tudo mais que veio a terra faz,
e tudo o que queria virava realidade
e melissa foi se tornando cada vez mais gente,
cada vez mais uma moça inteligente,
o raio de sol que iluminava os caminhos a se seguir.

melissa foi feliz
por toda a sua infância
e tão feliz quanto adolescentes podem ser
com todos aqueles hormônios fervilhando.

foi quando melissa tinha dezessete anos
que conheceu tulio,
seu primeiro grande amor,
que à época, com todo o fervor da paixão juvenil,
acreditou ser o único.

túlio era mais alto que ela,
forte o suficiente para que ela se sentisse segura em seus braços
e costumava usar jeans e camisetas escuras,
mesmo em dias quentes
como era a grande maioria.

com túlio, melissa experimentou todas as coisas que pensou que só existissem no mundo inventado,
mas que logo viu que era a maior verdade.
então ela se entregou completamente à paixão cega
e quando túlio apareceu uma noite
ao pé de porta, pedindo para entrar
já que seus pais estavam fora,
ela hesitou e teve medo pela primeira vez
porque ele estava demasiado exaltado
e parecia impaciente com algo.

foi nessa noite que ela sentiu contra sua face
o choque da mão de túlio
que parecia outra pessoa
e soltava palavras agressivas
uma atrás da outra
chamando-a de puta
e dizendo que queria sexo
e mais uma vez houve o choque da mão,
dessa vez fechada,
o som seco, osso contra osso,
articulações iterfalangianas contra zigomático,
as lágrimas correndo do rosto de melissa
e ela pensa em seus pais
e em que prato eles pediram para o jantar de dezoito anos de casados
e ela sente outra vez o choque,
dessa vez em seu abdome,
o que a deixa sem ar,
as mãos fortes dele dobram seu corpo e a jogam no chão,
a bochecha esquerda toca o assoalho espelhado
e as lágrimas escorrem no chão de mármore,
o sangue começa a pingar
e ela pensa em como seu sangue pinga no chão
sujando tudo,
as mãos de túlio arrancam seu short,
rasgam sua calcinha
e ela sente náusea e o vômito vindo
e a última coisa que vê é um pedaço de frango
mal mastigado e meio digerido
e as últimas coisas que sente são o cheiro azedo
do seu vômito
e uma pancada forte,
como se túlio tivesse juntado as mãos
para dar um golpe mais forte
em sua nuca.
o resto é escuro.

o corpo de melissa foi enterrado
na manhã seguinte
e o colégio declarou luto.
seus pais jamais esqueceram da noite de dezoito anos de casados
e a tensão entre eles não durou muito.
dentro de dois anos houve o divórcio
e em quatro anos o pai de melissa saltava do prédio onde morava
com a nova esposa e seu enteado.
a mãe de melissa nunca se casou novamente.

túlio fugiu da cidade
e nunca mais foi visto.

Saturday, May 21, 2011

mulher.

mulher de pele clara
como a luz
que vem do céu
e toca o teu rosto maravilhoso,
afogue-me em tuas curvas,
em teu sorriso,
me dê teu calor.

mulher das mãos tão macias
me chame pra perto
e me acolha em você
por tempos e tempos alegres
que farão esquecer
todo o tempo que vivi sem ti.

mulher dos olhos espelhados
me deixe ver o que tu vês em mim
para assim poder sempre dizer
que estar com você
é sempre ser feliz.

Sunday, May 01, 2011

Minha kriptonita, meu anel amarelo.

queria ouvir tua voz
me dizendo que sente minha falta
me dizendo que me quer ao teu lado
nessas noites chuvosas
e nas secas e quentes.

queria ouvir tua voz
no meu ouvido
e sentir tua língua na minha
o toque da tua mão quente
e o cheiro do teu cangote.

eu queria mesmo
era ter a certeza que ao acordar
você estaria ao meu lado
ou na sala, lendo um livro,
e eu chegaria ao teu lado
e sentiria teu corpo e o apertaria
bem forte junto ao meu
para que tu nunca mais te afastes de mim
e eu nunca mais deixe o teu lado.