Thursday, July 30, 2009

O silêncio II.

o silêncio cai
como uma bomba
e derruba tudo o que demoramos séculos para construir.

o silêncio cai
e acaba com todos os sonhos,
com todos os desejos
fazendo só restar a verdade.

Renascimento

entre a carne e os ossos
há a semente que germinará.

Wednesday, July 29, 2009

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há mais de um ano eu dizia que a felicidade
é compartilhar as coisas boas
com quem se ama,
com quem se quer.

a felicidade não mudou,
mas hoje não tenho com quem compartilhá-la por completo.

A velha história.

há dias
meus pensamentos têm sido você
e isso, meu bem,
começa a me preocupar.

Até o fim da eternidade.

é bom ter você de novo
de novo
de novo
de novo.

e eu sei,
sei que nunca
deixaria você ir embora
e nem faria nada
para te perder.

é bom ter você de novo
e de novo
e de novo
e de novo.

todos os dias da minha vida.

Intolerância.

eu os vejo nas ruas,
nos campos,
nos rios,
nos ares,
nos mares,
onde quer que possam haver duas pessoas,
eu os vejo.

eu poderia viver muito bem com isso,
poderia aceitar de boa tudo isso.

mas eu estou cansado demais
para ser tão resignado.

"Abra seu coração, não vê que eu preciso?"

você vai me deixar entrar?
aqui fora está frio
e molhado e sozinho.

a noite me tortura com seus velhos tormentos,
a chuva me castiga com seus velhos instrumentos
e o tempo me perturba com os antigos momentos.

e eu, aqui fora, só penso

alguma hora vai me deixar entrar?

E ninguém me ajudará a desfazer minha cama amanhã de manhã.

uma voz no meio da noite
e ela não diz meu nome.

como todas as outras
no meio do dia.

Sunday, July 26, 2009

A força que vem de 1984.

na noite escura
comigo estão meus sonhos,
minhas esperanças
e meus desejos.

não tenho mais nada,
nunca tive,
apenas o vazio me cerca
e ele é tudo o que há.

na noite escura
os homens se despem de pudores
as mulheres se despem de rancores,
o mundo inteiro desaparece sob os pés,

porque não há onde se apoiar
na noite escura,
não há onde crescer e se tornar algo.

na noite escura sou sugado para fora de mim,
condenado ao vácuo do saber.

e é a primeira vez que não sinto medo.

C.

é, amigo,
eu entendo que é tudo uma piada,
que somos todos fracos, humanos.

o que eu não consigo entender
é o porquê de ninguém estar rindo conosco.

por que é que estamos sós?

Thursday, July 23, 2009

A poesia.

a poesia morre por dentro,
desaba como o amor,
e não cresce mais,
não se faz como antes fazia.

a poesia sofre por dentro
não mais desabafa seu amor,
não se mostra mais,
como antes era a poesia.

Monday, July 20, 2009

Belo.

me dói o coração
a ignorância e o abuso
a falta de vontade de entender
que a beleza da vida
está na vida
e não nos olhos de quem quer enxergar.

Uma hora eu preciso dizer.

teu perfume invade meu quarto
me dizendo que você está indo embora.
eu sinto algo dentro de mim,
apertando o peito,
e a vontade de dizer que te amo.

até mais.

Luto.

da última vez que eu te vi
eu não lembro como estávamos.

provavelmente estávamos enlutados
e você virou-me o rosto.

como na primeira vez,
só que com outras cores.

Quero te mostrar o que é o meu amor.

eu quero te mostrar
as coisas que você nunca viu
porque sempre fecha os olhos
quando o filme fica assustador.

quero ler os livros que você nunca leu,
te cantar as músicas que nunca ouviu
e te recitar os poemas que você desconhece.

quero deitar no sofá com você
e assistir ao que estiver na tv,
esperar um bom desenho
e rir de quase todas as piadas.

quero, com você,
passar todas as noites insones,
e todos os dias mortos.

para, depois, reviver contigo
no paraíso.

Vem comigo.

todos querem dizer o quanto te amam
mas você parece não querer saber
e navega sobre o oceano
quase sem perceber.

pareces ignorar todos os gritos e clamores
à tua janela por horas e horas,
as juras de amor de quem te adora
e os presentes mais bonitos.

e há aquele teu sorriso
de quem não lembra de nada
além do que é preciso.
e você é minimalista.

o mar inteiro parece desabar sobre mim
quando eu penso em você
e em todos os clichês que isso pode resultar.

mas eu só peço que você venha comigo,
meu bem, segurando minha mão bem forte,
para que a gente não se separe
e nem se perca.

venha comigo para cá, debaixo de toda essa água,
onde construiremos o que você quiser.

viveremos num submarino da cor que você quiser,
cultivaremos um belo jardim onde os polvos passearão
e nós dois poderemos ser muito felizes.

é só você vir nadar.

Sunday, July 19, 2009

Sinceramente.

você já esteve em todos os lugares dos teus sonhos,
(você me diz que)
conheceu todos os teus ídolos mortos e vivos
em todos os lugares do mundo.

você já viu o mundo azul lá de fora
e disse que não faz diferença a nossa vida aqui dentro.
(como se essa não fosse a coisa mais óbvia a se pensar)

eu sempre odeio como você se acha superior
por ter visto ao vivo
o que eu só conheço através de telas
e imaginação sobre papel.

você sorri sempre que me conta essas coisas
(porque não acredita que eu acredite nessas coisas todas)
um sorriso de quem lembra de coisas que ninguém jamais viu.

odeio o fato de você estar sempre sorrindo,
sempre feliz, mesmo quando está chorando por alguém que não te mereceu
ou que você não merece.

você tem fotos de animais mortos:
teus gatos, cachorros, blackdog, evita, rex, totó.
os pêlos castanhos e pretos e brancos
por quais lágrimas foram derramadas.
(e todos sabem que eu nunca me comovo com animais)

odeio o fato de que, muitas outras coisas em você
me irritam como o sol entrando pela janela
num domingo de manhã, me acertando bem nos olhos
e não me deixando dormir bem novamente.
porque ele é quente e cheio de vida
como você durante toda a semana.

você sofre demais porque ama demais
(é o que me diz você ao se lamentar sempre)
mas ama tudo porque o amor é uma coisa boa
e você diz saber.
(mas todos sabem que você só copiou a canção)

odeio como você ama,
aparentemente desamando e sempre deixando um pedaço
para germinar assim que a estação certa vier
e eu acho que, para você, todo tempo é a estação certa.

você é sábia e entende das coisas da vida
(você mente dizendo que é isso tudo para todos que chegam perto)
como ninguém mais seria capaz de entender
e dá opiniões relevantes sobre tudo o que importa.
(enquanto a tua opinião é simplesmente ignorada por mim
por te conhecer como você acha que conhece todos.)

e eu odeio te ver tanto em mim,
odeio me ver em ti,
odeio estar longe de você como agora
e odeio estar junto de ti.

odeio porque somos ruins demais separados
e simplesmente horríveis juntos.
odeio por te amar tanto
sem jamais querer fazê-lo.
porque odiar é o melhor que posso fazer.

Y

o erro se fez
por querer-se sempre o bem.

o erro se fez
porque ninguém pode sair sem se ferir.

para ser humano
deve-se ter o coração partido
de novo
e de novo
e de novo.

até ele nunca mais se dividir.

Thursday, July 16, 2009

é por amor, meu bem?

"por que você me trata mal
se eu te trato bem?
por que você me faz o mal
se eu só te faço o bem?"

O mundo.

promessas contadas ao ouvido,
como se fossem as verdades secretas
que todos buscam desde os tempos imemoriais,
mas não são e sabemos todos disso.

segredos compartilhados entre dois
que sabem que segredos não significam mais
o que eram quando eram verdadeiramente segredos.
(um segredo morre quando seu único portador morre,
não quando se compartilha com alguém
- e segredos foram feitos para morrer.)

juras de amor ao pé do ouvido
quando o mundo inteiro sabe
que depois que se separam
procuram o verdadeiro consolo
nos ombros de quem não tem tanto amor assim.

os sorrisos falsos,
a riqueza falsa,
a falsa genialidade:
o mundo ao redor é o espelho das almas das pessoas
e isso consegue me assustar
de formas antes jamais imaginadas.

Anos e anos

há cinco anos eu estava sentado
esperando o tempo passar
(porque era só isso que eu fazia naqueles tempos)
para poder vê-la outra vez
enquanto ela estava com quem queria.
nunca comigo.

há quatro anos eu estava sentado
numa sala de aula pensando
em como os lábios daquela morena
eram tudo o que eu mais queria,
e em por que eu não podia tê-los.

há três anos eu estava sentado
no sofá do apartamento dela
suando, tremendo e falando
com uma voz trêmula
o quanto eu a desejava
escutando o porquê de ela não ser minha.

há dois anos eu estava sentado
na cama do meu quarto
mordendo minha língua e engolindo o ódio
e a frustração de querê-la
como quase quis.

há um ano eu sorria com ela
pelo telefone e fazíamos planos
para quando tudo o que fosse bom
acontecesse, como sabíamos que iria.
estávamos errados.

hoje estou sentado
escrevendo sobre toda a vida que vivi
sem querer pensar, sem pensar,
no que amanhã me reserva,
mas às vezes... às vezes eu sinto falta dos anos que se foram.

Wednesday, July 15, 2009

"e renasciam"

porque depois de uma longa vida
casamentos, filhos, netos e bisnetos
há de se cansar de algo.

é preciso, então, mudar,
morrer
e renascer.

Veritas.

há verdades que saem da minha boca
que se disfarçam de mentiras podres
para aqueles que a ouvem.

há alguém no mundo que ouve
cada palavra por mim expelida
e entende que há, nelas, infinita sinceridade.

e meus lábios movem-se rapidamente
porque é assim que as palavras devem parecer,
quando são tidas como falsas.

mas, do fundo do peito,
sai cada uma delas. devagar
como os segundos antes do fim.

Monday, July 13, 2009

Um passo à frente.

enquanto eu penso em tudo
ela pensa em tudo e além.

enquanto eu ando em direção a ela
ela corre em direção a sabe-se lá o que.

O silêncio.

cresce como uma planta
regada, adubada, bem cuidada.

cresce como a criança
que é amamentada corretamente
e se alimenta sempre que pode.

cresce como a vida dentro da gente
começando pequena
e uma hora toma toda a vida
e sai para o mundo.

cresce como se fosse um sentimento
que suga esperanças
e cresce e cresce e cresce
então não resta nada além de sombra
e o medo.

cresce como se fosse feito desse medo,
de ódio, ira,
rancor, raiva,
escuridão e, sós no meio de todos,
nada mais fará sentido,
nada mais será sentido
e tudo cessa.

Saturday, July 11, 2009

As curvas.

vinte e cinco curvas
ou mais, ninguém pode contá-las.

trezentos e sessenta e sete curvas
tem n'algum lugar.

e ninguém antes se dispôs a contar
porque todos sempre souberam
que o importante não é a quantidade
mas com que freqüência
se pode derrapar em cada uma dessas
curvas maliciosas.

algumas curvas apenas
e meus braços se encontram depois delas.

é o ponto de encontro de vários mundos,
onde o que faz sentido
e o que não faz se moldam e misturam.

bem ali, logo acima da curva que nos leva ao paraíso,
existem curvas que podem nos tirar de lá
e cabe a cada um saber como seguir.

Wednesday, July 08, 2009

O rei do espaço infinito.

é fácil esconder-se num quarto escuro
e pensar que se sabe tudo sobre a noite
e as sombras e a escuridão
enquanto o mundo de verdade
sofre sob o punho firme dessas duas damas.

Nuvem cinzenta.

você me diz tanta coisa
e eu não acredito em nada
porque a tua língua é como faca
afiada cortando a minha carne em vários pedaços
com as mentiras e as verdades
que mal se discernem entre si.

você me diz que alguém virá para nós,
todos nós. e ainda abre a boca para falar
que há sempre algo melhor por vir.

você me diz que nós somos capazes de coisas
que jamais acharíamos poder fazer
e você talvez esteja certa,
mas é bem provável que não.

então sinto os teus braços me apertando de leve
e penso que talvez a vida nem seja tão ruim assim,
que há em algum lugar um pouco do que procuro
e que, mesmo não sendo você que me virá agora,
alguma hora nossos caminhos hão de se cruzar.

e tua boca se fecha e teus olhos se abrem
e você me diz tudo o que há pra ser dito.
dessa forma: em silêncio
discutimos a existência de tantas coisas grandes e pequenas.

depois que você me solta
me diz um adeus baixo.

e eu espero a tua volta desde então.

Monday, July 06, 2009

Vida

é tudo de alguma forma estranhamente
familiar. como nuvens cinzas no céu de abril,
enquanto tudo segue sob a ameaça constante
de que talvez nada seja do jeito que se pediu.

Casamento de viúva.

a terra está se molhando sozinha lá fora
com milhares de cabeças
tendo pensamentos regados.

o dia é quente porque é assim que são as coisas por aqui
e (quase) nunca mudam.

não há do que se reclamar.

é quente, mas há brisa,
é quente mas é confortável
porque é o lar.

Thursday, July 02, 2009

as águas paradas correm no fundo da mente.

"amor vai e vem
todo mundo sabe
não existe algo do tipo
'amor que dure sempre'"