Friday, May 31, 2013

o medo.

o céu poderia estar cinza, mas não está
e o sol ainda brilha lá fora, porque ainda não deixou de fazê-lo
(um dia, quando não estivermos aqui ele deixará -
ele queima por nós todos)
e o mar quebra em ondas na beira da praia,
enquanto os motoristas passam sem vê-lo,
mas algumas pessoas se estendem diante dele,
retornando ao lar.

aos poucos vai escurecendo, como sempre acontece,
mas a vida vai seguir ad infinitum
porque não há mais o escuro da noite
para devorar os homens com seus dentes de medo.

hoje o medo não tem horário.

o dia foi quente hoje, mas quando não é?
e o suor nas testas é tão comum quanto o sangue no asfalto,
não fossem as marcas, mal saberíamos que há algo de estranho.

os anjos não cantam, porque nunca cantaram
e o céu azul só é o paraíso por sua quietude,
e o quase vazio, e a tentação de ser livre por lá.
livre da vida, livre dos pesos, livre dos medos.

mas hoje o medo é onipresente
e é o único que é.

em uma hora igrejas terão fiéis dentro de si
e em cinco ou mais,
quando o medo dissipado nos cânticos voltar
as mulheres das ruas os tomarão em seus braços
e entre suas pernas os acalentarão.

porque o medo é o eterno devir.
o medo é a vida.

1 comment:

nelson netto said...

muito foda, cara.
você deveria escrever mais assim.
um livro de poemas lhe cairia bem.

"porque não há mais o escuro da noite
para devorar os homens com seus dentes de medo."

muito bom!

FH