Sunday, July 29, 2018

Veremos.

ressurge a vontade que deveria morrer
aquela que deveria calar
aquela que deveria sumir.

mas não.

ela ressurge, sem vergonha alguma
de tudo o que ela pode acarretar
(minto, há a vergonha, e ela grita alto para que não deixe que isso aconteça,
mas já não há forças para resistir às vozes
que comandam
a poesia),
e bem numa tarde de domingo
em que o sol resolveu aparecer para secar as roupas que ainda não estavam no varal,
mas que deveriam estar,
porque o sol estava lá fora esperando por elas
e não saberíamos quando apareceria de novo.

a vontade ressurge num dia em que qualquer vontade poderia aparecer
mas seria melhor se não houvesse mais vontade alguma,
mas a ausência dela traz a angústia
que faz pensar que deveria haver algo
onde não há,
mas houve.

o buraco ainda existe
não um vazio
mas um buraco
porque antes estava lá
e alguma coisa arrancou aquilo dali
eu mesmo arranquei
por medo do que poderia acontecer
se seguisse esse percurso.

mas hoje ela voltou
quietinha
como quem procura entrar num ambiente sem ser notada
como quem deseja apenas estar ali
num lugar familiar que há muito tempo não via
avaliando as discrepâncias entre a lembrança e a realidade
com maravilha no olhar.

espera
não sabe pelo quê
mas espera
com o coração cheio de desejo
de ficar.

vamos ver como vai ser.